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entrevista
Espaços têm de se modernizar, diz curador do Jabuti
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para José Luiz Goldfarb,
curador do Prêmio Jabuti há
20 anos e organizador do
projeto Estado de Leitores,
da Secretaria de Estado da
Cultura de São Paulo, que
inaugurou e revitalizou 112
bibliotecas públicas no interior do Estado, esses locais
têm de se modernizar para
atrair o interesse dos jovens.
Para ele, as bibliotecas precisam ter computador e devem se transformar em centros com oficinas e atividades culturais. "Tem que dar
vida para a biblioteca. Livro
na estante é um cemitério se
ninguém mexer."
FOLHA - Por que ainda faltam bibliotecas em tantos municípios?
JOSÉ LUIZ GOLDFARB
- O problema da biblioteca é gravíssimo no Brasil. Não é uma
questão que recebe a prioridade que deveria. Hoje, se fecharem um hospital, haverá
bastante destaque na imprensa. Mas, quando uma biblioteca é fechada, passa batido. A gente tem aqui no
Brasil uma produção maravilhosa de livros, mas a tiragem ainda é muito baixa,
principalmente dos livros de
literatura, aqueles que são lidos por prazer.
FOLHA - Mas há muitas bibliotecas que são pouco usadas.
GOLDFARB
- É porque muita
gente pensa que qualquer
coisa serve [como biblioteca]. Mas tem que ter qualidade, manutenção, ou não atrai
o jovem, o leitor do futuro.
FOLHA - E como atraí-los?
JOSÉ LUIZ GOLDFARB
- Acho que
as bibliotecas, quando se tornarem prioridade, vão ter recurso para renovar o acervo.
Se a biblioteca não renova o
acervo, o jovem não volta. E
como elas ficaram com o
acervo velho, criou um clima
"down". Hoje, há uma saída
para isso: jogar computador
dentro da biblioteca para
atrair a turminha. Tem que
ter uma proposta diferente
de organização física e uso do
espaço da biblioteca. Criar
um espaço multicultural,
com workshop de quadrinhos, de circo. Ensinar a fazer jornalzinho na internet.
FOLHA - Como no Centro Cultural São Paulo (Vila Mariana)?
GOLDFARB
- É, lá é um espaço
bem-sucedido. Tem cinema,
teatro, tem que ser multicultural. Esse é o caminho que o
mundo inteiro está tomando. Tem que dar vida para a
biblioteca. Livro na estante é
um cemitério se ninguém
mexer. Cada livro é um túmulo, uma coisa morta.
Quando inauguro uma biblioteca, digo [para os moradores do local] que, quando
eu voltar em um ano, as lombadas dos livros têm que estar sujas. Se elas estiverem
branquinhas, é um péssimo
sinal. A juventude tem que
pegar o livro e levar para o futebol. Nas nossas bibliotecas,
infelizmente, tem gente que
prefere que o livro nem circule porque não dá trabalho,
não suja, não estraga. Mas é o
contrário, o livro tem que se
desgastar para ser lido.
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