São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2000


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PASQUALE CIPRO NETO

Concordância (inadequada) por atração (2)

Na semana passada, deixei algumas frases em que a proximidade do verbo com um termo plural pode induzir o falante a errar a concordância.
Uma das frases era esta: "O nível dos rios paulistas estão baixos". Tirado de texto jornalístico, em que a pressa realmente é inimiga da perfeição, o exemplo apresenta a concordância do verbo e do predicativo ("estão baixos") fortemente influenciada pelo elemento imediatamente anterior ("rios paulistas").
A concordância desejável se faz com o núcleo do sujeito ("nível"): "O nível dos rios paulistas está baixo". Veja outros exemplos, também tirados de textos jornalísticos: "O fracasso dos festejos demonstraram..."; "O levantamento realizado pelos gabinetes demonstraram..."; "A recuperação das ações da Cisco e da Intel também contribuíram...".
No primeiro caso, o núcleo do sujeito é "fracasso". A forma correta do verbo é "demonstrou". No segundo, o núcleo é "levantamento"; a forma correta também é "demonstrou". No terceiro, o núcleo do sujeito é "recuperação", e a forma correta é "contribuiu".
Como já vimos, esses casos são frequentemente abordados em vestibulares de ponta. Algumas provas se limitam a pedir a correção da frase, mas há casos em que é preciso demonstrar o entendimento do mecanismo que leva o falante ao desvio.
É importante lembrar que, quando se trata de texto jornalístico, entra em cena o "erro de computador", maravilhosa engenhoca que permite cortar, recortar, colar, substituir, inverter parágrafos etc., etc., etc. Permite também o surgimento de verdadeiros monstrinhos. Um dos mais comuns surge quando o texto "estoura", ou seja, ultrapassa o limite de linhas. Na pressa, o redator corta e se esquece de verificar se as partes se ligam corretamente. No dia seguinte, "a torcida vibram", "as tecnologias está chegando ao limite", "os projetos e a prestação de assistência é precária" etc. Os exemplos são reais.
Casos como o de "O nível dos rios subiram" não devem ser confundidos com os que apresentam como núcleo do sujeito palavra que expresse agrupamento ou noção coletiva ("maioria", "parte", "grupo", "bando" etc.).
Em "A maioria dos governantes latino-americanos seguem rigorosamente a cartilha do FMI", a concordância é correta. O verbo ("seguem") concorda com o especificador ("governantes latino-americanos"). Quando se opta por essa concordância, colocam-se em evidência os elementos que formam o conjunto.
A opção pelo plural, no entanto, não é predominante. É mais comum o verbo concordar com o núcleo do sujeito, que, no caso do exemplo dado, é "maioria": "A maioria dos governantes latino-americanos segue...". Com isso, sobressai o conjunto.
Convém insistir em que a opção pela concordância com o especificador só é possível quando o núcleo indica noção coletiva. Se o sujeito é "o preço dos medicamentos", o verbo não pode concordar com "medicamentos", já que "preço" não indica agrupamento ou noção coletiva. Diga-se, pois, que "o preço dos medicamentos disparou". É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br


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