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PASQUALE CIPRO NETO
Concordância (inadequada) por atração (2)
Na semana passada, deixei
algumas frases em que a
proximidade do verbo com um
termo plural pode induzir o falante a errar a concordância.
Uma das frases era esta: "O nível dos rios paulistas estão baixos". Tirado de texto jornalístico,
em que a pressa realmente é inimiga da perfeição, o exemplo
apresenta a concordância do verbo e do predicativo ("estão baixos") fortemente influenciada pelo elemento imediatamente anterior ("rios paulistas").
A concordância desejável se faz
com o núcleo do sujeito ("nível"):
"O nível dos rios paulistas está
baixo". Veja outros exemplos,
também tirados de textos jornalísticos: "O fracasso dos festejos
demonstraram..."; "O levantamento realizado pelos gabinetes
demonstraram..."; "A recuperação das ações da Cisco e da Intel
também contribuíram...".
No primeiro caso, o núcleo do
sujeito é "fracasso". A forma correta do verbo é "demonstrou". No
segundo, o núcleo é "levantamento"; a forma correta também é
"demonstrou". No terceiro, o núcleo do sujeito é "recuperação", e
a forma correta é "contribuiu".
Como já vimos, esses casos são
frequentemente abordados em
vestibulares de ponta. Algumas
provas se limitam a pedir a correção da frase, mas há casos em que
é preciso demonstrar o entendimento do mecanismo que leva o
falante ao desvio.
É importante lembrar que,
quando se trata de texto jornalístico, entra em cena o "erro de
computador", maravilhosa engenhoca que permite cortar, recortar, colar, substituir, inverter parágrafos etc., etc., etc. Permite
também o surgimento de verdadeiros monstrinhos. Um dos mais
comuns surge quando o texto "estoura", ou seja, ultrapassa o limite de linhas. Na pressa, o redator
corta e se esquece de verificar se
as partes se ligam corretamente.
No dia seguinte, "a torcida vibram", "as tecnologias está chegando ao limite", "os projetos e a
prestação de assistência é precária" etc. Os exemplos são reais.
Casos como o de "O nível dos
rios subiram" não devem ser confundidos com os que apresentam
como núcleo do sujeito palavra
que expresse agrupamento ou noção coletiva ("maioria", "parte",
"grupo", "bando" etc.).
Em "A maioria dos governantes latino-americanos seguem rigorosamente a cartilha do FMI",
a concordância é correta. O verbo
("seguem") concorda com o especificador ("governantes latino-americanos"). Quando se opta
por essa concordância, colocam-se em evidência os elementos que
formam o conjunto.
A opção pelo plural, no entanto,
não é predominante. É mais comum o verbo concordar com o
núcleo do sujeito, que, no caso do
exemplo dado, é "maioria": "A
maioria dos governantes latino-americanos segue...". Com isso,
sobressai o conjunto.
Convém insistir em que a opção
pela concordância com o especificador só é possível quando o núcleo indica noção coletiva. Se o
sujeito é "o preço dos medicamentos", o verbo não pode concordar com "medicamentos", já
que "preço" não indica agrupamento ou noção coletiva. Diga-se,
pois, que "o preço dos medicamentos disparou". É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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