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São Paulo, domingo, 01 de junho de 2003

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Número de casos diminui com engarrafamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém gosta de ficar parado no trânsito, mas é quando a cidade engarrafa que cai o número de atropelamentos e de acidentes com vítimas. A observação é da médica Cristina Arranz, que na quinta-feira era a plantonista no comando de operações do Resgate, na praça da Sé. Entre 14h30 e 15h30, quando o trânsito fluía, foram quatro atropelamentos.
Como os grandes centros vivem com pressa, não demoraram a surgir as empresas de motoboys. Quanto mais lento o trânsito da cidade, mas rápido eles andam. As vítimas, na hora dos engarrafamentos, são os motoboys.
Para os especialistas, o país tem um código avançado, falta ser cumprido e fiscalizado. A CET, Companhia de Engenharia de Tráfego, tem fotos de motoristas passando a 250 km pelas marginais, de madrugada, em Porches ou BMW, mostrando o dedo para os radares. "Eles têm dinheiro, não tem educação", diz a médica Julia Greve, que participou da pesquisa do IPEA pelo HC.
Educação, no trânsito, começa pela sobriedade. Pesquisa feita pela equipe de Julia Greve no Instituto Médico Legal, central, revelou que, dos 2.360 mortos no trânsito, 48,9% tinham quantidade de álcool no sangue superior à permitida por lei.
O Código de Trânsito pune quem dirige alcoolizado, mas o Código Civil permite que o motorista se negue a passar pelo teste do bafômetro. "Não sei de ninguém que tenha ido para a cadeia por infração de trânsito", diz o médico Dirceu Rodrigues Alves Júnior, da Abramet, associação que se dedica à prevenção e à proteção das pessoas no trânsito.
Hamilton Antonio Batista, 55, dirigia uma Kombi em São Miguel, zona leste, quando um caminhão invadiu sua faixa e bateu de frente. Batista, funileiro e pintor de carros, teve as duas pernas amputadas. Isso foi em 1986. Nesses 17 anos, ele viveu sobre uma cadeira de rodas, pintando automóveis, e nunca conseguiu sequer o dinheiro do seguro obrigatório. O acidente aconteceu às 13h. Batista só foi internado no HC às 3h do dia seguinte, depois de passar por vários hospitais. "Quando me atenderam, a perna já estava gangrenada e tiveram de amputá-la."
Batista nunca recebeu orientação para reaver seus direitos, embora tenha pago um advogado. Agora, internado na AACD, ele sairá de lá com duas pernas mecânicas. Vai poder andar.
"Educação e controle, essa é a fórmula para se reduzir os acidentes de trânsito", diz Maria Sumie Koizumi, do Grupo de Estudos em Neurotrauma da Escola de Enfermagem da USP e coordenadora de vários estudos sobre acidentes. "O cinto de segurança passou a ser adotado só após as multas e uma ampla campanha."
Julia Greve lembra que os acidentes de trânsito custam muito e são os responsáveis pelas filas e faltas de vaga nos hospitais. "Sem seus custos, talvez não precisássemos de um Fome Zero nem tivéssemos crianças desnutridas."
(AURELIANO BIANCARELLI)


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