São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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SISTEMA PRISIONAL

Polícia desconfia de envolvimento de carcereiro, que foi preso em flagrante; 62 detentos foram recapturados

147 fogem pela porta da frente na zona sul

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma operação de resgate, que pode ter contato com a conivência de um carcereiro, 147 presos escaparam pela porta da frente, na madrugada de ontem, do 27º DP (Campo Belo), zona sul de São Paulo. Apenas 62 detentos tinham sido recapturados pela polícia até as 22h30 de ontem.
O número de fugitivos só não foi maior porque 31 presos que estavam em uma das cinco celas que foram abertas na ação não quiseram sair. O distrito abrigava 190 detentos em um local com capacidade para 30.
Essa foi uma das maiores fugas em massa em distritos policiais de São Paulo nos últimos anos, segundo o delegado Antonio Chaves Martins Fontes, diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital). A Secretaria da Segurança Pública não forneceu os números dos últimos registros. Segundo o órgão, os 41 distritos da capital paulista que têm carceragem abrigam 7.240 presos.
"Para mim, um resgate desse tipo é como um atentado terrorista. É praticamente impossível de se prever e evitar", afirmou o delegado Martins Fontes.
Apesar do grande número de fugitivos, o caso estava sendo tratado como um resgate feito por criminosos até as 11h30, quando o detento Robson Aparecido Mendes Lopes, que escapou na madrugada, apresentou-se com a advogada no 27º DP. Ele contou que o carcereiro Marcos Tadeu de Almeida, 29, o obrigou a fugir.
A partir daí, a investigação mudou de enfoque e Almeida foi preso e autuado por facilitação de fuga. "Já existiam vários indícios contra ele e o depoimento do preso confirmou a suspeita", disse o delegado Aldo Galiano Júnior, titular da Seccional Sul. Almeida nega a acusação.
Segundo a polícia, dois homens armados com submetralhadoras entraram no distrito às 3h10 de ontem. Quatro policiais, mais Almeida, estavam no local. Os policiais, menos o carcereiro, foram trancados em uma sala.
A partir daí, os outros policiais não viram mais nada e só há a versão de Almeida. Ele disse, em depoimento, que mais quatro criminosos entraram no distrito e ele, sob a ameaça e sendo agredido, foi obrigado a abrir as celas.
Mas a versão dos presos é diferente. Lopes disse que Almeida entrou na carceragem sozinho e abriu as celas. Também disse que o carcereiro o mandou fugir porque o GOE (Grupo de Operações Especiais) já tinha sido chamado e Lopes poderia ser morto.
Presos do seguro -onde ficam os jurados de morte- também afirmaram informalmente à polícia que o carcereiro agiu sozinho, segundo Martins Fontes.
A versão dos presos confirmou suspeitas contra o carcereiro levantadas desde o início da manhã de ontem. Almeida trocou o plantão com um investigador -ele não deveria estar no distrito- sem comunicar sua chefia, segundo o delegado Galiano Júnior.
O carcereiro também não mostrou sinais de agressão, apesar de ter afirmado ter recebido vários golpes dos criminosos.
Ele também, segundo colegas, estava muito nervoso e fez várias ligações telefônicas antes do resgate. A polícia vai quebrar o sigilo telefônico do distrito e de dois telefones públicos que ficam nas proximidades.

Alvo do resgate
Segundo Martins Fontes, o alvo do resgate pode ter sido Ricardo Ferreira, 21, que estava preso no 27º DP desde o dia 12, por tentativa de roubo. Ele teria ligações com membros da quadrilha de Celso Alexandre da Silva, o Chambau, morto em 2000.
Chambau foi acusado de controlar o tráfico na favela Alba, na Vila Santa Catarina (zona sul), de assaltar carros-fortes e de roubar, em aeroportos, terminais de carga da Varig e da TAM. Segundo Galiano Júnior, Ferreira é suspeito de participar dessas duas últimas ações -em uma delas, ele era menor de idade.
Ferreira foi preso pela Polícia Militar com duas submetralhadoras. Também com passagens por tráfico e roubo, ele foi atingido com um tiro no queixo no momento da prisão. Segundo Galiano Júnior, presos já recapturados disseram que carregaram Ferreira, que ainda se recupera do ferimento, até um carro estacionado nas proximidades, onde ele era esperado por duas pessoas.
A polícia pediu a transferência de Ferreira para uma prisão no último dia 20. A autorização só veio, por fax, às 16h de ontem. Ferreira não está entre os recapturados.


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