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SISTEMA PRISIONAL
Polícia desconfia de envolvimento de carcereiro, que foi preso em flagrante; 62 detentos foram recapturados
147 fogem pela porta da frente na zona sul
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma operação de resgate,
que pode ter contato com a conivência de um carcereiro, 147 presos escaparam pela porta da frente, na madrugada de ontem, do
27º DP (Campo Belo), zona sul de
São Paulo. Apenas 62 detentos tinham sido recapturados pela polícia até as 22h30 de ontem.
O número de fugitivos só não
foi maior porque 31 presos que estavam em uma das cinco celas
que foram abertas na ação não
quiseram sair. O distrito abrigava
190 detentos em um local com capacidade para 30.
Essa foi uma das maiores fugas
em massa em distritos policiais de
São Paulo nos últimos anos, segundo o delegado Antonio Chaves Martins Fontes, diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital). A Secretaria
da Segurança Pública não forneceu os números dos últimos registros. Segundo o órgão, os 41 distritos da capital paulista que têm
carceragem abrigam 7.240 presos.
"Para mim, um resgate desse tipo é como um atentado terrorista.
É praticamente impossível de se
prever e evitar", afirmou o delegado Martins Fontes.
Apesar do grande número de
fugitivos, o caso estava sendo tratado como um resgate feito por
criminosos até as 11h30, quando o
detento Robson Aparecido Mendes Lopes, que escapou na madrugada, apresentou-se com a advogada no 27º DP. Ele contou que
o carcereiro Marcos Tadeu de Almeida, 29, o obrigou a fugir.
A partir daí, a investigação mudou de enfoque e Almeida foi preso e autuado por facilitação de fuga. "Já existiam vários indícios
contra ele e o depoimento do preso confirmou a suspeita", disse o
delegado Aldo Galiano Júnior, titular da Seccional Sul. Almeida
nega a acusação.
Segundo a polícia, dois homens
armados com submetralhadoras
entraram no distrito às 3h10 de
ontem. Quatro policiais, mais Almeida, estavam no local. Os policiais, menos o carcereiro, foram
trancados em uma sala.
A partir daí, os outros policiais
não viram mais nada e só há a versão de Almeida. Ele disse, em depoimento, que mais quatro criminosos entraram no distrito e ele,
sob a ameaça e sendo agredido,
foi obrigado a abrir as celas.
Mas a versão dos presos é diferente. Lopes disse que Almeida
entrou na carceragem sozinho e
abriu as celas. Também disse que
o carcereiro o mandou fugir porque o GOE (Grupo de Operações
Especiais) já tinha sido chamado e
Lopes poderia ser morto.
Presos do seguro -onde ficam
os jurados de morte- também
afirmaram informalmente à polícia que o carcereiro agiu sozinho,
segundo Martins Fontes.
A versão dos presos confirmou
suspeitas contra o carcereiro levantadas desde o início da manhã
de ontem. Almeida trocou o plantão com um investigador -ele
não deveria estar no distrito-
sem comunicar sua chefia, segundo o delegado Galiano Júnior.
O carcereiro também não mostrou sinais de agressão, apesar de
ter afirmado ter recebido vários
golpes dos criminosos.
Ele também, segundo colegas,
estava muito nervoso e fez várias
ligações telefônicas antes do resgate. A polícia vai quebrar o sigilo
telefônico do distrito e de dois telefones públicos que ficam nas
proximidades.
Alvo do resgate
Segundo Martins Fontes, o alvo
do resgate pode ter sido Ricardo
Ferreira, 21, que estava preso no
27º DP desde o dia 12, por tentativa de roubo. Ele teria ligações
com membros da quadrilha de
Celso Alexandre da Silva, o
Chambau, morto em 2000.
Chambau foi acusado de controlar o tráfico na favela Alba, na
Vila Santa Catarina (zona sul), de
assaltar carros-fortes e de roubar,
em aeroportos, terminais de carga
da Varig e da TAM. Segundo Galiano Júnior, Ferreira é suspeito
de participar dessas duas últimas
ações -em uma delas, ele era
menor de idade.
Ferreira foi preso pela Polícia
Militar com duas submetralhadoras. Também com passagens por
tráfico e roubo, ele foi atingido
com um tiro no queixo no momento da prisão. Segundo Galiano Júnior, presos já recapturados
disseram que carregaram Ferreira, que ainda se recupera do ferimento, até um carro estacionado
nas proximidades, onde ele era
esperado por duas pessoas.
A polícia pediu a transferência
de Ferreira para uma prisão no último dia 20. A autorização só veio,
por fax, às 16h de ontem. Ferreira
não está entre os recapturados.
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