São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2006

Próximo Texto | Índice

GUERRA URBANA

Ex-policial militar comandará prisões

Antônio Ferreira Pinto assumiu ontem a Secretaria da Administração Penitenciária sem detalhar seu plano de combate ao PCC

Novo titular elogiou o secretário da Segurança, censurado por entidades de direitos humanos, e criticou a gestão do seu antecessor

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O procurador de Justiça e ex-policial militar Antônio Ferreira Pinto, 62, é o novo secretário estadual da Administração Penitenciária de São Paulo. Ele será o responsável nos próximos sete meses pelo controle dos líderes do PCC que, de dentro das cadeias, promoveram a maior crise de segurança da história do país.
Ferreira Pinto assume o cargo cinco dias após a demissão de Nagashi Furukawa, que deixou a pasta alegando divergências de trabalho com o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.
Ontem, ao ser apresentado pelo governador Cláudio Lembo (PFL), o novo secretário elogiou Saulo e disse que irá trabalhar afinado com ele.
Na entrevista coletiva, Ferreira Pinto evitou atacar Furukawa nominalmente, mas fez várias críticas à sua gestão. Disse, por exemplo, ter ouvido reclamações de promotores e policiais sobre a dificuldade para exercer suas funções nos presídios na gestão do antecessor. Também atacou a entrada de TVs nas prisões sem nota fiscal. "Não vamos inovar", disse.
Ele afirmou ainda que Furukawa estava sob um impacto emocional muito grande quando criticou, na última sexta-feira, a falta de investigação da polícia sobre os líderes do PCC. "Os jornais estamparam o choro convulsivo dele. Atribuo isso a um forte impacto emocional, mais alardeando do que acalmando as autoridades." Furukawa não quis comentar.
Para Ferreira Pinto, seu trabalho será auxiliar o secretário da Segurança Pública. ""Vou trabalhar afinado com ele, mas não haverá ingerências."
Sobre a gestão de Saulo, criticada por entidades de direitos humanos e investigada pelas mortes provocadas por policiais militares nos dias seguintes aos ataques do PCC, o novo secretário teceu elogios. "Ele conduz os destinos da segurança pública com muita coragem, empolgação e dedicação."
A escolha do novo secretário foi uma decisão que Lembo tomou no final de semana, após longa conversa com Ferreira Pinto. Ele consultou Saulo de Castro e ficou tentado a nomear para a pasta das penitenciárias o adjunto da Segurança Pública, Marcelo de Oliveira. Mas optou por um homem que tivesse experiência com a gestão de presídios -Ferreira Pinto já foi adjunto da pasta.
O novo secretário reconhece que o sistema penitenciário passa por uma crise sem precedentes. E já agendou para sexta-feira uma reunião com toda a sua equipe para determinar o "modus operandi do combate ao crime organizado".

Plano sigiloso
Alegando ser um assunto sigiloso, não quis detalhar seu plano de combate ao PCC. Mas quer uma revista mais rigorosa durante a visita de familiares aos presos para reduzir a entrada de telefones celulares.
Sobre os cerca de 20 presídios danificados com as recentes rebeliões, disse que determinará a reforma imediata. "Até ficarem prontos, em seis meses, vamos adaptar."
O governador, que agradeceu o secretário interino Luiz Carlos Catirse (que ficou cinco dias no cargo), disse que foi difícil achar alguém que topasse assumir o cargo por sete meses (quando acaba seu mandato). E que procurou "um homem com visão humana qualificada".
Confrontado com as dificuldades de gerir uma população de mais de 140 mil presos, Lembo foi questionado pela Folha se Ferreira Pinto terá condições de mudar a realidade do sistema prisional, superlotado e com o PCC organizado. "Acredito que sim. Ele tem conhecimento muito grande."
O governador já havia sinalizado que Catirse, um técnico do setor, ficaria apenas uma semana no cargo. Ferreira Pinto é um secretário de natureza política, nas palavras de Lembo, pois terá a função de coordenar o setor, que enfrenta duras críticas desde o início dos ataques do crime organizado.

Aumento salarial
Lembo sancionou ontem lei que institui o adicional operacional penitenciário para agentes de segurança penitenciária e de escolta e vigilância -medida que, na prática, eleva os salários. A intenção do governador é reduzir a pressão dos funcionários, que fizeram greve na semana passada.


Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI, da Reportagem Local


Próximo Texto: Perfil: Novo titular atuou na pasta nos anos 90
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.