|
Próximo Texto | Índice
GUERRA URBANA
Ex-policial militar comandará prisões
Antônio Ferreira Pinto assumiu ontem a Secretaria da Administração Penitenciária sem detalhar seu plano de combate ao PCC
Novo titular elogiou o secretário da Segurança, censurado por entidades de direitos humanos, e criticou a gestão do seu antecessor
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
O procurador de Justiça e ex-policial militar Antônio Ferreira Pinto, 62, é o novo secretário
estadual da Administração Penitenciária de São Paulo. Ele
será o responsável nos próximos sete meses pelo controle
dos líderes do PCC que, de dentro das cadeias, promoveram a
maior crise de segurança da
história do país.
Ferreira Pinto assume o cargo cinco dias após a demissão
de Nagashi Furukawa, que deixou a pasta alegando divergências de trabalho com o secretário da Segurança Pública, Saulo
de Castro Abreu Filho.
Ontem, ao ser apresentado
pelo governador Cláudio Lembo (PFL), o novo secretário elogiou Saulo e disse que irá trabalhar afinado com ele.
Na entrevista coletiva, Ferreira Pinto evitou atacar Furukawa nominalmente, mas fez
várias críticas à sua gestão. Disse, por exemplo, ter ouvido reclamações de promotores e policiais sobre a dificuldade para
exercer suas funções nos presídios na gestão do antecessor.
Também atacou a entrada de
TVs nas prisões sem nota fiscal.
"Não vamos inovar", disse.
Ele afirmou ainda que Furukawa estava sob um impacto
emocional muito grande quando criticou, na última sexta-feira, a falta de investigação da polícia sobre os líderes do PCC.
"Os jornais estamparam o choro convulsivo dele. Atribuo isso
a um forte impacto emocional,
mais alardeando do que acalmando as autoridades." Furukawa não quis comentar.
Para Ferreira Pinto, seu trabalho será auxiliar o secretário
da Segurança Pública. ""Vou
trabalhar afinado com ele, mas
não haverá ingerências."
Sobre a gestão de Saulo, criticada por entidades de direitos
humanos e investigada pelas
mortes provocadas por policiais militares nos dias seguintes aos ataques do PCC, o novo
secretário teceu elogios. "Ele
conduz os destinos da segurança pública com muita coragem,
empolgação e dedicação."
A escolha do novo secretário
foi uma decisão que Lembo tomou no final de semana, após
longa conversa com Ferreira
Pinto. Ele consultou Saulo de
Castro e ficou tentado a nomear para a pasta das penitenciárias o adjunto da Segurança
Pública, Marcelo de Oliveira.
Mas optou por um homem que
tivesse experiência com a gestão de presídios -Ferreira Pinto já foi adjunto da pasta.
O novo secretário reconhece
que o sistema penitenciário
passa por uma crise sem precedentes. E já agendou para sexta-feira uma reunião com toda
a sua equipe para determinar o
"modus operandi do combate
ao crime organizado".
Plano sigiloso
Alegando ser um assunto sigiloso, não quis detalhar seu
plano de combate ao PCC. Mas
quer uma revista mais rigorosa
durante a visita de familiares
aos presos para reduzir a entrada de telefones celulares.
Sobre os cerca de 20 presídios danificados com as recentes rebeliões, disse que determinará a reforma imediata.
"Até ficarem prontos, em seis
meses, vamos adaptar."
O governador, que agradeceu
o secretário interino Luiz Carlos Catirse (que ficou cinco dias
no cargo), disse que foi difícil
achar alguém que topasse assumir o cargo por sete meses
(quando acaba seu mandato). E
que procurou "um homem com
visão humana qualificada".
Confrontado com as dificuldades de gerir uma população
de mais de 140 mil presos,
Lembo foi questionado pela
Folha se Ferreira Pinto terá
condições de mudar a realidade
do sistema prisional, superlotado e com o PCC organizado.
"Acredito que sim. Ele tem conhecimento muito grande."
O governador já havia sinalizado que Catirse, um técnico
do setor, ficaria apenas uma semana no cargo. Ferreira Pinto é
um secretário de natureza política, nas palavras de Lembo,
pois terá a função de coordenar
o setor, que enfrenta duras críticas desde o início dos ataques
do crime organizado.
Aumento salarial
Lembo sancionou ontem lei
que institui o adicional operacional penitenciário para agentes de segurança penitenciária
e de escolta e vigilância -medida que, na prática, eleva os salários. A intenção do governador
é reduzir a pressão dos funcionários, que fizeram greve na semana passada.
Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI, da Reportagem Local
Próximo Texto: Perfil: Novo titular atuou na pasta nos anos 90 Índice
|