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BARBARA GANCIA
A feminista, o lobo, a amante e o lambari
Como pode uma feminista aplaudir o tratamento dispensado pelo presidente do Senado à amante e à filha?
PARA MIM , o personagem da semana não foi um empreiteiro
preso, um juiz nem um policial federal. Foi Ideli Salvatti.
Se você, meu nobre leitor, não teve
a infelicidade de ver a senadora (PT-SC) na televisão externando sua
compaixão por Renan Calheiros,
sorte sua. A mim, a defesa que Salvatti fez do colega virou o estômago
de tal forma, que só de lembrar já
saio correndo atrás do sal de frutas.
Explico: que políticos machistas
tenham aplaudido o depoimento de
Renan Calheiros a gente pode até, se
não aprovar, compreender. Mas que
uma mulher que se diz feminista
considere louvável o tratamento
dispensado pelo senador à amante e
à filha em seu depoimento, é de ir
queimar sutiã na av. Paulista.
Em nenhum momento durante
sua deposição, Renan demonstrou
afeto pela filha que teve fora do casamento. Em nenhum momento, depois de pedir desculpas à mulher, à
família e a seus pares, ele pediu perdão à Mônica Veloso, a jornalista
que é a mãe da menina. Não vi o depoimento do senador na íntegra,
mas até agora não sei o nome da filha
que Calheiros teve fora do casamento. Será que a menina não tem nome
ou, para ele, é tão insignificante que
se resume apenas a um problema de
mesada?
É certo que Brasília é um dos lugares do mundo onde mais se comete
infidelidade e adultério. Não é preciso conhecer a turminha do barulho
do ex-ministro Antonio Palocci, para saber que a capital federal é uma
festa para políticos casados, que pulam a cerca durante a semana quando estão na capital federal a trabalho, depois voltam para os braços
das respectivas nos fins de semana.
O deputado Antonio Carlos Magalhães fez piada nesta semana, dizendo que não poderia falar nada sobre
Mônica Veloso, porque ela já foi sua
parente, uma alusão ao suposto caso
que a jornalista teve com seu filho,
Luís Eduardo, morto em 1998.
Claro, é bem mais fácil achincalhar a jornalista do que desgrenhar o
novelo das obras superfaturadas,
não é mesmo? A troca de favores entre Calheiros e seu amigo empreiteiro passa convenientemente para segundo plano, todos se abraçam e
trocam tapinhas nas costas e a maldita da amante que leve a culpa e seja motivo de escárnio.
Outro dia, comentava com uma
amiga sobre uma festa de Natal onde
todo ano nos encontramos há mais
de duas décadas. Nos primeiros
anos, éramos todos solteiros. Depois, cada um foi casando e trazendo
a cara-metade para a festa. Nos últimos quatro ou cinco anos, o cenário
mudou de novo de forma radical.
Agora, a maioria das ex-mulheres
vai à festa desacompanhada e os homens vão com suas novas mulheres,
bem mais moças do que eles.
São todos homens poderosos, tal
qual Renan Calheiros, e todos na
mesma faixa etária do senador. Para
a boa fortuna das mulheres, porém,
no nosso meio não há uma Ideli Salvatti que se solidarize com os machões. Mas vai saber. No PT pode de
tudo. Até feminista machista eles
agora conseguiram inventar.
Para terminar, uma perguntinha:
se quase metade do Congresso (211
de 513 deputados) e quase metade
do Senado (35 de 81 senadores) recebeu doações de empreiteiras, será
o lambari Gautama o único a manter
relações promíscuas com o poder?
barbara@uol.com.br
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