São Paulo, domingo, 01 de julho de 2001

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180 DIAS
Segundo lideranças petistas, prefeita chega ao final de seu primeiro semestre sem projetos para os principais problemas
Insatisfação com Marta atinge apoiadores

JOÃO CARLOS SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Comparar o governo Marta Suplicy com a situação do fornecimento de energia no país ajuda a entender a opinião de petistas sobre os seis meses da nova gestão: faltou energia, ocorreram alguns apagões, e a meta não foi cumprida em determinadas áreas.
Há explicações que os próprios pares de Marta levantam para justificar o desempenho e as decisões dela no comando do Executivo, como os já repetidos argumentos de que a petista está "engessada" por ter herdado uma prefeitura com as finanças comprometidas.
Entretanto os correligionários crêem também que não há atenuante que encubra algumas falhas no governo.
Um dos erros que os colegas de partido de Marta citam é o fato de a administração ter chegado ao final de seu primeiro semestre sem apresentar reformas estruturais ou projetos para os principais problemas da cidade.
Vai haver uma mudança no rodízio? Vai haver proibição de circulação em alguma área? O que será feito para incentivar o uso do transporte público e, consequentemente, ajudar a resolver o problema do trânsito?
As perguntas são de um dos integrantes da cúpula petista. Ele se diz insatisfeito com as propostas "tímidas" apresentadas até agora para a área de transporte.
Da Câmara Municipal, saem mais críticas quanto às metas que a administração deveria ter atingido. A condenação, nesse caso, envolve uma minirreforma administrativa, já aprovada, que serviu para criar cargos de confiança. Um petista afirma que esperava reformas "estruturais".
Correligionários de Marta citam um outro exemplo: o fato de não ter saído do papel ainda a proposta de implantação das subprefeituras, prometida pela prefeita em sua vitoriosa campanha eleitoral.
Para os aliados da petista, entre manter as atuais administrações regionais desestruturadas e implantar de imediato as subprefeituras, Marta deveria ter ficado com a segunda opção, mesmo que os órgãos não começassem a funcionar a todo o vapor.
"Falta articulação e coordenação política no governo"; "falta uma relação mais orgânica e sistemática com o partido"; "falta eixo à administração", "a estratégia para obter maioria no Legislativo falhou, e o governo começou a ceder à oposição e aos aliados", são frases empregadas para apontar as deficiências do chamado "governo da reconstrução".
Os autores são vereadores, dirigentes, sindicalistas e integrantes do governo ouvidos pela Folha sob o compromisso de não serem identificados. O anonimato é reflexo do temor, neste momento, de serem apontados como responsáveis por detonarem uma crise na gestão petista.
Entre as lideranças que apóiam Marta, há um claro desconforto com a forma que a administração tratou a questão do lixo. O vaivém da prefeita e de seus assessores sobre a necessidade de investigar supostas irregularidades na contratação do serviço é apontado como um forte elemento do desgaste do governo.
Não sobram também manifestações de descontentamento com a maneira como foi conduzida a negociação em torno do aumento da tarifa de ônibus (depois de ter liberado R$ 41 milhões para subsídio da passagem, por pressão empresarial, e declarado que o reajuste a elevaria R$ 1,25, Marta e o secretário de Transportes, Carlos Zaratini, cederam aos argumentos dos donos das viações e fixaram o preço em R$ 1,40).



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