São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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SP renova frota com ônibus ultrapassado

74% dos veículos novos adquiridos pelas viações em 2006 têm motor dianteiro, prejudiciais à saúde dos motoristas

Legislação só permite essa característica em situações excepcionais; problema é generalizado desde a gestão da petista Marta Suplicy

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas de ônibus superaram a meta de renovação da frota fixada há três meses pela gestão José Serra/Gilberto Kassab, mas, com aval da prefeitura, adquiriram e colocaram nas ruas majoritariamente veículos com motor dianteiro, considerados ultrapassados e prejudiciais à saúde e ao conforto dos motoristas.
Esses ônibus são mais baratos e deveriam operar só em casos excepcionais, conforme uma lei municipal e as próprias normas técnicas da SPTrans (São Paulo Transporte). No entanto, 74% dos 180 comprados pelas viações e fabricados em 2006 têm essa característica.
O problema se repete em larga escala desde a gestão Marta Suplicy (PT). Da frota de 4.027 veículos fabricada de 2001 a 2004 e que está nas ruas da capital paulista, 78% têm motor dianteiro, desvirtuando a legislação vigente.
Só os fabricados em 2005, que se limitam a 161 ônibus, apresentam tendência diversa.
Esse tipo de veículo, embora seja comum no Brasil inteiro, é combatido por técnicos por ser prejudicial e desconfortável principalmente aos motoristas, mas também aos passageiros.
Pesquisas já apontaram que esses trabalhadores, expostos ao calor e ao barulho do motor, chegam a perder parte da audição, dentre outros problemas.
Em 2003, uma lei sancionada pela então prefeita Marta Suplicy proibia novas aquisições de ônibus com motor dianteiro para operar na capital, além de estabelecer a troca gradual dos existentes.
Os manuais técnicos da SPTrans já fixavam desde os anos 90 essa normatização.
A lei foi alterada em seguida, com a inclusão de um parágrafo que previa excepcionalidades para casos em que laudos da SPTrans apontassem que a operação com motor traseiro ou central não era adequada.
A justificativa principal das viações para manter esses veículos é a situação das vias paulistanas, especialmente na periferia. As empresas alegam que, por serem mais altos, os ônibus com motor dianteiro são os únicos que conseguem acessar áreas esburacadas e com pavimentação precária.
Tanto antes como depois da lei, aquilo que deveria ser exceção virou regra e, de cada quatro ônibus novos adquiridos em São Paulo, três têm essa característica tida por ultrapassada.
O problema é agravado porque, por serem zero-quilômetro, vai demorar para que esses veículos sejam trocados.
O secretário dos Transportes, Frederico Bussinger, reconheceu ontem que a circulação desses ônibus não é ideal, mas negou que sejam obsoletos.
"Não é por ter sido lançada a máquina digital que a outra é ultrapassada", comparou ele, acrescentando ser mais fácil a aquisição dos veículos com motor dianteiro e piso alto porque "a indústria tem na prateleira".
Ele fez um balanço da renovação da frota pelas viações. Em abril, após críticas ao fato de serem mantidos ônibus com mais de dez anos de uso, em desacordo com as regras contratuais, a prefeitura e as empresas fecharam um acordo que fixou um cronograma para a troca dos veículos mais antigos.
Pelo acerto, 105 ônibus, fabricados em 1991, 1992 e 1993, deveriam ser substituídos até 30 de junho. A meta foi superada e, desde então, 138 novos foram adquiridos. A próxima etapa da renovação da frota expira em 31 de dezembro, quando 584 veículos deverão ter sido trocados. Até 2008, serão 3.318.
O acordo prevê, como incentivo, um adicional de remuneração para cada ônibus novo -e desconto nos pagamentos de quem não renovar a frota.
A previsão da gestão Kassab é que, em janeiro de 2007, esse adicional corresponda a um acréscimo superior a 3% na remuneração das empresas.


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