São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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Teste indica alta taxa de sal em "sopões"

Pesquisa mostra que sopas vendidas em supermercados chegam a ter 50% da quantidade de sal recomendada para o consumo diário

Excesso do produto na alimentação está ligado a um risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares e também hipertensão

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma única porção de sopa desidratada, vendida nos supermercados, chega a ter 50% da quantidade de sal recomendada para o consumo diário -5 g, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). O excesso de sal na alimentação está relacionado a um maior risco de hipertensão e de doenças cardiovasculares.
A revelação vem de um teste feito pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Pro Teste) com marcas de sopas de carne e galinha, vendidas em pacotes para seis porções -os chamados "sopão" e "canjão". As marcas avaliadas foram: Arisco, Extra, Kitano, Knorr, Maggi, Jurema e Qualimax.
Em todas as sopas analisadas pela Pro Teste havia mais de 2 g de sal por porção. Os valores variaram de 2,39 g (sopão de galinha, da Qualimax) a 3,55 g (sopão de carne, da Kitano). Se a pessoa repetir o prato, a quantidade de sal ingerida também duplica, superando a quantidade máxima de sódio recomendada para o dia.
"O valor é muito alto se pensarmos que esse tipo de sopa, pelos poucos nutrientes que oferece, é apenas um complemento alimentar", afirma a engenheira de alimentos da Pro Teste, Vivian Andrade.
Associado a uma série de problemas de saúde, o sal tem sido alvo de várias ações na área. Ano passado, a Associação Médica Americana pediu ao FDA (agência responsável pela regulamentação de alimentos e remédios nos Estados Unidos) que mudasse o status do sal, até agora considerado uma substância de consumo seguro.
Além disso, a associação quer reduzir pela metade a quantidade de sódio em alimentos processados. No Canadá, o guia de alimentação desenvolvido pelo governo segue o mesmo caminho. Na edição deste ano, traz recomendações para diminuir o sal na alimentação.
No Brasil, não há normas que estabeleçam o nível seguro de sal nos alimentos. O Guia Alimentar para a População Brasileira (2005) faz a mesma recomendação da OMS: a ingestão diária não deve ultrapassar 5 g.
O sal não traz só malefícios. Ele é necessário para o equilíbrio dos fluidos corporais e para a transmissão de impulsos nervosos. O problema é que o paladar se adaptou tanto a ele que o consumo se tornou excessivo. Atualmente, o brasileiro consome em média 10 g de sal por dia -o equivalente a quatro colheres.
Segundo o nutrólogo Edson Credidio, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia, a elevada ingestão de sal faz o organismo reter mais líquidos e aumentar de volume e leva ao aumento da pressão sangüínea, causando a hipertensão. "O consumo excessivo de sal pode também sobrecarregar os rins."
Ele recomenda: "Para evitar o excesso de sal, o melhor é se acostumar desde cedo. Crianças que comem preparações com temperos mais leves têm menos risco de desenvolver doenças cardiovasculares quando se tornarem adultas".

Glutamato
A Pro Teste também considerou altos os níveis de glutamato monossódico -substância aromatizante que realça o sabor das carnes- nas sopas avaliadas, em torno de 30 g para cada quilo de alimento.
A legislação brasileira não estabelece um limite seguro de adição da substância. De acordo com resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), "o limite de uso é em quantidade suficiente para obter o efeito desejado". Para a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), trata-se de um ingrediente seguro para o consumo humano.
Já a lei espanhola, por exemplo, considera aceitável 1 g de glucamato por quilo do produto. Há suspeitas de que o consumo excessivo de glutamato esteja relacionado a um maior risco de doenças degenerativas do cérebro, como isquemia, Alzheimer e Parkinson. Mas não existem estudos conclusivos sobre isso.
Segundo Credidio, o problema mais freqüente do glucamato, quando ingerido em excesso, é causar a redução e até eliminar o sentido da gustação da língua. "Ele pode eliminar totalmente a capacidade de identificar o sabor do alimento, se é amargo, doce, quente ou frio", explica o especialista.


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