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Restaurantes chiques se unem contra lei da gorjeta
Projeto aprovado na Câmara prevê que patrões fiquem com só 1/5 da gratificação
Donos de estabelecimentos sofisticados organizam lobby contra a proposta; hoje, empresários fazem o que querem com a taxa de serviço
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
As cinco estrelas do hotel Fasano eram poucas para tantas
celebridades da elite da gastronomia de São Paulo, que se reuniram ontem para traçar estratégias contra o projeto de lei em
tramitação no Congresso que
regula a destinação da gorjeta.
Hoje, como não existe regra,
os restaurantes fazem o que
querem com as gratificações,
como a reposição de copos e
pratos quebrados, e muitos não
repassam aos garçons os 10%
da taxa de serviço.
Um projeto do deputado Gilmar Machado (PT-MG) prevê
que os donos só possam ficar
com um quinto da gorjeta, percentual que teria de ser usado
nas despesas com encargos sociais e previdenciários.
A proposta causou um rebuliço entre restaurantes caros e
sofisticados como Antiquarius,
Fasano, D.O.M., Vecchio Torino, Jun Sakamoto, A Bela Sintra, La Tambouille, La Vecchia
Cucina e A Figueira Rubaiyat.
Os empresários dizem que
sobre os 10% da gorjeta, cobrados na nota fiscal, pagam todos
os impostos e que a mudança
oneraria em até 50% o borderô
dos restaurantes.
Entre alvoroços e bate-bocas,
os "restaurateurs" decidiram
ontem, depois da reunião na
Casa Fasano, contratar lobistas
para fazer pressão pela derrubada da mudança no Congresso. Aprovado em caráter conclusivo na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em
junho, o projeto segue direto
para votação no Senado.
Encarregada de contratar a
empresa de lobby, a ANR (Associação Nacional dos Restaurantes) disse na reunião já ter
colhido a assinatura de 75 deputados para, em vez de seguir
ao Senado, levar o projeto à votação em plenário na Câmara.
"Lá o processo é na base do
diálogo, você faz um favor para
mim, amanhã eu faço um favor
para você. O regime parlamentar influi no sentido de favores
recíprocos", disse Alexandre
Sampaio, do sindicato do Rio.
"Vamos fazer um contra-ataque. Já que eles estão fazendo
lobby, vamos fazer também.
Temos como fazer pressão
muito maior. Eles vão ter de
gastar muito dinheiro, fazemos
lobby mais barato", disse Francisco Calasans, do Sinthoresp,
o sindicato dos empregados.
Pela proposta aprovada na
Câmara, o pagamento da gorjeta, assim como é hoje, continua
não obrigatório, mas a gratificação passa a ser incorporada
ao salário dos garçons, o que gera o temor de mais encargos.
"Estamos perdendo todas as
ações. Para a Justiça, a gorjeta
já é [parte do] salário", afirmou
Fabrizio Fasano.
Caso não consigam derrubar
completamente o projeto, os
"restaurateurs" consideram
que podem defender duas alternativas: a) subir de 10% para
15% o valor das gorjetas; b) ficar
com 45% da gratificação para
pagar encargos, em vez dos
20% previstos na proposta.
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