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Cidade vira mercado de entulho em AL
Famílias reviram destroços deixados pelos temporais em busca de materiais para construir casas ou vender
Em Murici, trabalho envolve até meninos de 13 anos, que carregam tijolos recolhidos nas margens de um rio
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL)
A destruição provocada
pelos temporais no Nordeste
criou um mercado de entulhos em União dos Palmares
(a 81 km de Maceió), um dos
municípios mais afetados pelas chuvas na região.
Nas áreas devastadas, famílias "garimpam" os destroços em busca de tijolos, telhas de barro e vigas de ferro.
Os materiais de segunda mão
são vendidos ou usados na
construção de novas casas.
A busca envolve homens,
mulheres, idosos e crianças.
Os mais fortes cavam os entulhos com pás e picaretas.
Os demais limpam as peças e
as empilham nas ruas.
"Tijolo aqui é ouro", disse
o lavrador Claudiano Justino
Moreira da Silva, 22, que mora em uma área não atingida
pelas enchentes, mas passa o
dia recolhendo materiais de
construção nas ruínas para
construir uma casa nova.
Por R$ 500, ele comprou
ontem o telhado e toda a estrutura de madeira de uma
casa que foi alagada. "No depósito, eu pagaria uns
R$ 1.500", comparou. Do vizinho, Silva levou mais ripas
por R$ 100.
Tijolos resgatados dos entulhos são vendidos por
R$ 50 o milheiro -uma pechincha perto dos R$ 300 cobrados pelos novos na cidade. "Com R$ 1.500, vou construir uma casa de R$ 6.000",
calcula o lavrador.
Em União dos Palmares,
cidade de 62 mil habitantes,
ao menos nove pessoas morreram por causa das chuvas.
Após as cheias de duas semanas atrás, o nível dos rios voltou a subir, causando novas
inundações.
Num barraco montado sobre a pilha de destroços em
que se transformou sua casa,
o chefe de cozinha José Alziano Silvestre, 39, também passa o dia recuperando tijolos.
Ele quer juntar 10 mil peças para erguer um pequeno
galpão onde possa abrigar
temporariamente a família e
parentes. "Temos que ter um
lugarzinho para ficar, porque
ninguém sabe quanto tempo
vai levar para reconstruírem
a cidade", diz.
TRABALHO INFANTIL
Na vizinha Murici, o garimpo de entulho envolve até
meninos de 13 anos. Um grupo de primos há três dias carrega tijolos recolhidos das
margens do rio Mundaú até
uma área onde as famílias
querem erguer novas casas.
Nas duas cidades, os garimpeiros têm pressa. Tratores e caminhões encarregados de limpar as áreas afetadas trabalham a todo vapor,
retirando os destroços e a lama acumulada nas ruas.
Mas 13 dias após a tragédia, ainda há muito o que fazer. Os desabrigados continuam nos alojamentos, sem
perspectivas.
Em União dos Palmares, o
abastecimento de água ainda é precário.
Em alguns locais, o mau
cheiro provoca náuseas. Urubus sobrevoam toda a região,
principalmente sobre o rio.
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