São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2010

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Cidade vira mercado de entulho em AL

Famílias reviram destroços deixados pelos temporais em busca de materiais para construir casas ou vender

Em Murici, trabalho envolve até meninos de 13 anos, que carregam tijolos recolhidos nas margens de um rio

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL)

A destruição provocada pelos temporais no Nordeste criou um mercado de entulhos em União dos Palmares (a 81 km de Maceió), um dos municípios mais afetados pelas chuvas na região.
Nas áreas devastadas, famílias "garimpam" os destroços em busca de tijolos, telhas de barro e vigas de ferro. Os materiais de segunda mão são vendidos ou usados na construção de novas casas.
A busca envolve homens, mulheres, idosos e crianças. Os mais fortes cavam os entulhos com pás e picaretas. Os demais limpam as peças e as empilham nas ruas.
"Tijolo aqui é ouro", disse o lavrador Claudiano Justino Moreira da Silva, 22, que mora em uma área não atingida pelas enchentes, mas passa o dia recolhendo materiais de construção nas ruínas para construir uma casa nova.
Por R$ 500, ele comprou ontem o telhado e toda a estrutura de madeira de uma casa que foi alagada. "No depósito, eu pagaria uns R$ 1.500", comparou. Do vizinho, Silva levou mais ripas por R$ 100.
Tijolos resgatados dos entulhos são vendidos por R$ 50 o milheiro -uma pechincha perto dos R$ 300 cobrados pelos novos na cidade. "Com R$ 1.500, vou construir uma casa de R$ 6.000", calcula o lavrador.
Em União dos Palmares, cidade de 62 mil habitantes, ao menos nove pessoas morreram por causa das chuvas. Após as cheias de duas semanas atrás, o nível dos rios voltou a subir, causando novas inundações.
Num barraco montado sobre a pilha de destroços em que se transformou sua casa, o chefe de cozinha José Alziano Silvestre, 39, também passa o dia recuperando tijolos.
Ele quer juntar 10 mil peças para erguer um pequeno galpão onde possa abrigar temporariamente a família e parentes. "Temos que ter um lugarzinho para ficar, porque ninguém sabe quanto tempo vai levar para reconstruírem a cidade", diz.

TRABALHO INFANTIL
Na vizinha Murici, o garimpo de entulho envolve até meninos de 13 anos. Um grupo de primos há três dias carrega tijolos recolhidos das margens do rio Mundaú até uma área onde as famílias querem erguer novas casas.
Nas duas cidades, os garimpeiros têm pressa. Tratores e caminhões encarregados de limpar as áreas afetadas trabalham a todo vapor, retirando os destroços e a lama acumulada nas ruas.
Mas 13 dias após a tragédia, ainda há muito o que fazer. Os desabrigados continuam nos alojamentos, sem perspectivas.
Em União dos Palmares, o abastecimento de água ainda é precário.
Em alguns locais, o mau cheiro provoca náuseas. Urubus sobrevoam toda a região, principalmente sobre o rio.


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