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POLÍCIA FORA DA LEI
Após ter funções reduzidas, Gradi assume negociação com sequestrador sem informar delegado do caso
PM age em sequestro e atrapalha apuração
ALESSANDRO SILVA
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Gradi (Grupo de Repressão e
Análise de Delitos de Intolerância) da Polícia Militar de São Paulo continua a atuar nos bastidores, apesar de ter, oficialmente,
suas funções reduzidas a partir de
19 de abril passado. O setor interferiu em um caso de sequestro em
São Bernardo do Campo (Grande
SP) neste mês. A iniciativa atrapalhou a apuração feita por policiais
civis especializados nesse crime.
Um PM do grupo chegou a entregar o dinheiro do resgate, pago
pela família, aos sequestradores
sem que o delegado responsável
pelo inquérito soubesse.
Na semana passada, o comandante-geral da PM, coronel Alberto Silveira Rodrigues, afirmou
à Folha que o Gradi retornou para
sua função original -que é investigar crimes de preconceito e de
racismo- desde 19 de abril,
quando ele assumiu o cargo.
A atuação do Gradi em São Bernardo, onde o empresário N.A.F.,
45, foi sequestrado por duas vezes
-em abril e depois em junho-,
mostrou o contrário. Segundo o
delegado Gilmar Camargo Bessa,
da Dise (Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes), nas
duas situações, dois PMs se apresentaram na delegacia afirmando
terem sido determinados pelo tenente H. para "promover investigações do caso".
O tenente H. também está envolvido na infiltração de dois presos em uma suposta quadrilha do
PCC (Primeiro Comando da Capital). Os detentos fugiram com
carro descaracterizado da PM no
meio da operação, em 30 de março. Um deles afirma ter sido torturado pelos policiais.
Em abril deste ano, o envolvimento do Gradi foi registrado no
próprio boletim de ocorrência do
sequestro do empresário. Mas os
PMs não chegaram a atuar porque N.A.F. foi solto dias depois,
pela Polícia Civil.
No segundo sequestro, no dia 17
de junho, quando o Gradi já teria
sofrido a restrição oficial, os PMs
puderam agir. Em 23 de julho, homens do serviço de inteligência da
PM participaram da negociação e
do pagamento dos R$ 98 mil.
O delegado Bessa, que fez curso
nos EUA e na Divisão Anti-Sequestro para atuar nesse tipo de
crime, foi deixado de fora da negociação. "Só soube do pagamento do resgate no dia seguinte."
O empresário foi libertado anteontem, mas falhas elementares
feitas pela PM poderiam ter dado
um desfecho diferente para o caso, segundo policiais civis especializados em sequestro.
Os PMs não pediram prova de
vida, a negociação foi muito rápida -o acerto do resgate e o pagamento ocorreu em menos de três
horas- e houve mudança do sequestrador que falava com a família no meio da negociação, o que
poderia significar que outra quadrilha poderia estar se aproveitando do caso para cobrar o resgate sem ter o refém.
A demora na libertação do sequestrado -ele foi solto sete dias
após o pagamento do resgate-
alarmou familiares. Em outros telefonemas, sequestradores negaram ter recebido os R$ 98 mil,
provavelmente com a intenção de
tirar mais dinheiro da família.
O pai do empresário, que autorizou o pagamento, e o PM que
entregou o resgate foram ouvidos
no inquérito. O policial afirma
que não conseguiu avisar o delegado sobre o resgate.
"Uma das coisas fundamentais
que aprendi sobre sequestro é que
a investigação tem de ser centralizada. A apuração paralela traz um
grande risco", afirmou Bessa. Não
há pistas sobre os sequestradores.
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