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TRAGÉDIA EM CONGONHAS
Pilotos dizem que Gol proibiu pousar sem reverso sob chuva
Proibição é anterior ao acidente da TAM; informação foi dada em depoimento à polícia
Promotor que investiga o acidente diz que irá investigar por que as duas empresas, TAM e Gol, adotaram procedimentos diferentes
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A posição da TAM, de que
pousar aeronaves com reverso
bloqueado no aeroporto de
Congonhas em dias de chuva é
um procedimento seguro, não é
um consenso entre as companhias aéreas. A Gol proíbe operações nessas circunstâncias
no local, segundo depoimento
de três pilotos da empresa à Polícia Civil, ontem.
A aeronave da TAM que saiu
da pista do aeroporto e se chocou contra o prédio da própria
empresa, no último dia 17, estava com um reverso (dispositivo
que auxilia na frenagem) bloqueado. Segundo dados de uma
das caixas-pretas, um erro na
operação da alavanca de aceleração -que deveria ter um manuseio diferente por causa do
reverso bloqueado- seria uma
das causas do acidente.
Em depoimento, os pilotos
afirmaram que o veto da Gol ao
pouso de aeronaves com reverso bloqueado está entre as restrições determinadas pela empresa ao aeroporto de Congonhas em dias de chuva.
"Esse dado é importante e
precisa ser investigado. Temos
de saber por que uma empresa
adota essa medida de segurança e outra não", afirmou o promotor Mário Luiz Sarrubbo.
A Gol não opera com Airbus
-modelo do acidente-, apenas
com Boeing. Os manuais dos fabricantes dos dois modelos
afirmam que o reverso bloqueado não compromete pousos e decolagens.
O piloto da Gol Elso Martins
Junior e os co-pilotos Matteo
Ghezzi Cassol e Edmilson José
Vaz foram convocados para depor porque relataram à torre de
Congonhas, no dia anterior ao
acidente, que a pista estava
com "pouca aderência" por
causa da chuva. Ontem, eles
confirmaram esse problema.
Questionado pelo promotor
se havia restrições a operações
em dias de chuva em Congonhas, afirmaram que pousos
com aviões com reverso bloqueado eram proibidos por medida de segurança da empresa.
Esse procedimento era adotado antes do acidente, mas os pilotos não informaram quando
passou a ser seguido. "O reverso da aeronave ajuda a frear,
principalmente em alta velocidade", afirmou Martins Junior.
A Gol informou ontem à noite que não iria se pronunciar.
Os pilotos não falaram com a
imprensa. Ronaldo Jenkins,
coordenador de segurança de
vôo do Snea (Sindicato das Empresas Aeroviárias), afirmou
que desconhecia a restrição,
mas afirmou que as companhias adotam suas próprias
medidas de segurança, levando
em conta a performance dos
aviões. Ele disse que a medida
adotada por uma não precisa
ser seguida por todas.
O procurador federal Márcio
Araújo, que atuou na investigação que terminou no pedido
-rejeitado pela Justiça- de interdição da pista de Congonhas, disse desconhecer a restrição adotada pela Gol.
"As empresas nunca informam suas restrições. Querem
sempre dar uma imagem de
normalidade. Agora, essas restrições mostram que existe
uma convivência consentida
com o risco."
A assessoria da Boeing nos
EUA informou que não fará nenhum tipo de comentário, nem
sobre suas aeronaves nem sobre suas recomendações, enquanto não terminarem as investigações do acidente.
Segundo a FAA (agência de
aviação dos EUA), o manual do
Boeing 737 afirma que a aeronave pode voar com um reverso pinado, mas os pilotos devem observar as medidas de segurança cabíveis no pouso.
Colaboraram MAELI PRADO, da Reportagem Local, e DENYSE GODOY, de Nova York
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