São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2007

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TRAGÉDIA EM CONGONHAS

Pilotos dizem que Gol proibiu pousar sem reverso sob chuva

Proibição é anterior ao acidente da TAM; informação foi dada em depoimento à polícia

Promotor que investiga o acidente diz que irá investigar por que as duas empresas, TAM e Gol, adotaram procedimentos diferentes

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A posição da TAM, de que pousar aeronaves com reverso bloqueado no aeroporto de Congonhas em dias de chuva é um procedimento seguro, não é um consenso entre as companhias aéreas. A Gol proíbe operações nessas circunstâncias no local, segundo depoimento de três pilotos da empresa à Polícia Civil, ontem. A aeronave da TAM que saiu da pista do aeroporto e se chocou contra o prédio da própria empresa, no último dia 17, estava com um reverso (dispositivo que auxilia na frenagem) bloqueado. Segundo dados de uma das caixas-pretas, um erro na operação da alavanca de aceleração -que deveria ter um manuseio diferente por causa do reverso bloqueado- seria uma das causas do acidente.
Em depoimento, os pilotos afirmaram que o veto da Gol ao pouso de aeronaves com reverso bloqueado está entre as restrições determinadas pela empresa ao aeroporto de Congonhas em dias de chuva. "Esse dado é importante e precisa ser investigado. Temos de saber por que uma empresa adota essa medida de segurança e outra não", afirmou o promotor Mário Luiz Sarrubbo. A Gol não opera com Airbus -modelo do acidente-, apenas com Boeing. Os manuais dos fabricantes dos dois modelos afirmam que o reverso bloqueado não compromete pousos e decolagens.
O piloto da Gol Elso Martins Junior e os co-pilotos Matteo Ghezzi Cassol e Edmilson José Vaz foram convocados para depor porque relataram à torre de Congonhas, no dia anterior ao acidente, que a pista estava com "pouca aderência" por causa da chuva. Ontem, eles confirmaram esse problema. Questionado pelo promotor se havia restrições a operações em dias de chuva em Congonhas, afirmaram que pousos com aviões com reverso bloqueado eram proibidos por medida de segurança da empresa. Esse procedimento era adotado antes do acidente, mas os pilotos não informaram quando passou a ser seguido. "O reverso da aeronave ajuda a frear, principalmente em alta velocidade", afirmou Martins Junior.
A Gol informou ontem à noite que não iria se pronunciar. Os pilotos não falaram com a imprensa. Ronaldo Jenkins, coordenador de segurança de vôo do Snea (Sindicato das Empresas Aeroviárias), afirmou que desconhecia a restrição, mas afirmou que as companhias adotam suas próprias medidas de segurança, levando em conta a performance dos aviões. Ele disse que a medida adotada por uma não precisa ser seguida por todas.
O procurador federal Márcio Araújo, que atuou na investigação que terminou no pedido -rejeitado pela Justiça- de interdição da pista de Congonhas, disse desconhecer a restrição adotada pela Gol. "As empresas nunca informam suas restrições. Querem sempre dar uma imagem de normalidade. Agora, essas restrições mostram que existe uma convivência consentida com o risco."
A assessoria da Boeing nos EUA informou que não fará nenhum tipo de comentário, nem sobre suas aeronaves nem sobre suas recomendações, enquanto não terminarem as investigações do acidente. Segundo a FAA (agência de aviação dos EUA), o manual do Boeing 737 afirma que a aeronave pode voar com um reverso pinado, mas os pilotos devem observar as medidas de segurança cabíveis no pouso.


Colaboraram MAELI PRADO, da Reportagem Local, e DENYSE GODOY, de Nova York


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