São Paulo, quarta-feira, 01 de agosto de 2007

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Computador pode não "entender" o comando

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Se um manete (alavanca de controle da turbina) for esquecido em posição de aceleração, a intenção e o comando de pouso não são compreendidos pelo computador de bordo do Airbus e a frenagem não será realizada conforme o previsto.
Os freios aerodinâmicos nas asas (spoilers) podem estar armados, mas não irão funcionar. O sistema automático de frenagem (autobreak) pode estar programado, mas não será acionado.
Essa foi a lição aprendida, sem vítimas, em Taiwan em 2004, quando outro A320 com o reverso direito também inoperante e pinado não conseguiu frear na pista.
A causa: o manete direito foi deixado acima da posição de trava de ponto morto -"idle detent", no jargão da cabine.
A Airbus prometeu providências. Se o piloto, já próximo ao solo, cometesse a mesma falha, a luz vermelha principal de alerta acenderia e um apito iria soar continuamente. O mecanismo faria parte do novo FWC (Flight Warning Computer), série H2F3.
A TAM foi procurada duas vezes na tarde de ontem e não respondeu se o A320 acidentado estava equipado com essa inovação -o PR-MBK saiu da fábrica em fevereiro de 1998.
A falha de operação dos manetes é um dado apontado pela caixa-preta de dados do vôo 3054 e pode estar equivocada, segundo os investigadores da Aeronáutica. Não é possível, ainda, garantir que não houve falha eletrônica, por exemplo.
Ainda assim, o manete mal posicionado seria uma falha anterior ao pouso. E há confusão nos meios aeronáuticos sobre a hipótese de falha depois do pouso.
A operação do A320 com um reverso desativado e pinado é prevista e não apresenta riscos, segundo o manual da Airbus e os técnicos da TAM.
Porém, desde que a Airbus emitiu um comunicado mundial sobre os procedimentos corretos de pouso nessas circunstâncias, pilotos vêm debatendo um ponto confuso: o reverso inoperante deve ser acionado no pouso?
Segundo o manual, sim. Segundo dados da caixa-preta, porém, os pilotos do avião acidentado em São Paulo estavam conscientes que somente o reversor um (esquerdo) funcionava e não teriam acionado o reversor dois (direito).
Com isso, os técnicos buscam entender se o computador de bordo da Airbus, dentro dessas duas possibilidades de posicionamento dos manetes, pode se sobrepor, impedir a desaceleração e abortar o pouso da aeronave, sem dar tempo hábil aos pilotos para ações que revertam o cenário.


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