São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Policial morre após ser arrastado por 600 m

O PM Alexandre Oliveira Sobrinho, 29, foi pego pelo braço pelos ocupantes de um Gol, que acelerou; ao ser solto, bateu a cabeça

Polícia diz ter identificado os 4 ocupantes do veículo, dos quais 1 foi preso; o 2º detido é o dono do carro, que alega só ter emprestado o Gol


KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um policial militar morreu na madrugada de ontem após ter sido segurado pelo braço por ocupantes de um carro em alta velocidade e arrastado por quase 600 metros em Diadema.
Ao ser solto, o soldado Alexandre Sérgio Oliveira Sobrinho, 29, bateu a cabeça contra o muro de um imóvel e sofreu traumatismo craniano.
Quatro supostos ocupantes do veículo foram identificados horas depois pela Polícia Civil.
Segundo a polícia, o carro era dirigido por Deivison da Silva Lira, 19; no banco do carona estava William Braga de Sá, 22; atrás do motorista, Johnny Araújo dos Santos, 20, e, ao seu lado, Rivaldo Dias Rocha, 20. Todos são motoboys.
Até as 23h30 de ontem, duas pessoas haviam sido presas -Rocha, que é dono de uma empresa de motofrete, e o dono do veículo, Adeilson de Jesus, 24, que emprestou o carro, mas não teria participado da ação. A Justiça, no entanto, só havia concedido a prisão temporária para Rocha.
Jesus deveria ser solto na madrugada. A polícia suspeita que o grupo cometeu o crime porque o motorista teria bebido e quis escapar de levar a multa de R$ 955 da lei seca.
O PM Sobrinho patrulhava o centro da cidade com um colega, que não teve o nome divulgado. Por volta das 2h50, eles foram atender a uma queixa de moradores da rua Graciosa, incomodados com carros que atrapalhavam o trânsito.
Ao chegarem ao local, em frente à boate Sinos, no número 141, abordaram um motociclista sem capacete. Quando foram multá-lo, o Gol prata, com os quatro ocupantes, parou atrás, bloqueando o tráfego.
Enquanto o outro PM ficou com o motociclista, Sobrinho foi até o veículo para que ele saísse de onde estava. À polícia Rocha, porém, alega que o PM tentou arrancar a chave do contato, o que irritou Lira e Santos.
Quando o PM se aproximou da janela do motorista, os dois o teriam puxado pelo braço esquerdo. Lira acelerou o carro a mais de 80 km/h -a velocidade máxima permitida é de 50 km/ h no local. Testemunhas que estavam num bar em frente disseram à polícia ter ouvido o PM gritar: "Me solta, me solta".
O carro seguiu pela rua Graciosa, cruzou a rua Manoel da Nóbrega, passou na rua Odete Amaral de Oliveira e, numa curva à direita, os ocupantes do carro soltaram o PM. Ele caiu no asfalto, bateu a cabeça num muro e morreu na hora.
"Eles tinham a intenção de matá-lo. Foi um crime perverso e bárbaro. Ele ficou feito um pêndulo. As pernas ficaram penduradas e foram arrastadas. O coturno se dilacerou e ele perdeu dois dedos do pé", disse o delegado seccional de Diadema, Ivaney Cayres de Souza.
Os agressores fugiram por mais um quilômetro, mas o motorista perdeu o controle e bateu o carro. O grupo correu a pé para a favela Morro do Samba. Segundo a polícia, Sá ligou para o dono do carro, dizendo que os amigos "fizeram besteira". Orientou-o a registrar um suposto roubo do veículo.
Na delegacia, Jesus admitiu que tinha emprestado o carro. Ele foi autuado por falsa comunicação de crime e deu o nome dos quatro ocupantes.
A PM abriu vai apurar se houve falha do outro PM, que multava o motociclista em vez de dar cobertura ao colega. Ele alegou não ter visto Sobrinho ser puxado nem ter anotado a placa do carro. Os suspeitos serão indiciados por homicídio doloso (com intenção). A Folha não teve acesso aos presos nem aos advogados.


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