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Fila de espera de transplante será refeita após denúncia
Quem aguarda fígado no Rio terá de passar por exames; médico tem habeas corpus negado
Decisão de refazer lista foi tomada pelo Ministério da Saúde e pela secretaria estadual após acharem falhas, como morto na fila
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO
Um dia após a prisão do chefe
da equipe do Hospital da UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro), Joaquim Ribeiro
Filho, acusado de desvio de órgãos e de fraude, o Ministério
da Saúde e a Secretaria de Estado da Saúde do Rio decidiram
refazer a lista de candidatos a
transplantes de fígado da Central Estadual de Transplantes
do Rio. A nova lista deve ficar
pronta em duas semanas e poderá ser acessada pelos pacientes pela internet.
A mudança causada pelos
problemas da lista -tornados
públicos pela investigação da
Polícia Federal- só ocorreu
ontem, embora o ministério e a
secretaria já tivessem detectado irregularidades em auditoria de dezembro, com relatório
em maio. Os dois órgãos admitiram já saber do problema,
mas disseram ter promovido
reuniões nas últimas semanas
para discutir o caso.
A apuração identificou presença de pacientes mortos na
espera, duplicidade de inscrição de pacientes, pessoas que
haviam sido transplantadas e
continuavam na fila e pacientes
selecionados para a cirurgia,
apesar de não estarem em primeiro lugar. Segundo a Central
Estadual de Transplantes, a
maioria dos casos era de pacientes da UFRJ.
De acordo com a Polícia Federal, essas pessoas eram usadas como laranjas pelo grupo liderado pelo médico Joaquim
Ribeiro Filho, em uma das possíveis modalidades de fraude.
Ribeiro Filho chefiou a central
de transplantes entre 2003 e
janeiro de 2007, durante toda a
gestão da governadora Rosinha
Matheus (2003-2006) e um
mês na gestão Sérgio Cabral.
Após os pacientes serem desqualificados pela equipe, os
médicos desviavam o órgão para pacientes particulares, segundo a PF.
"Vamos dar confiabilidade
absoluta à lista e dirimir as dúvidas que pairam sobre os exames", afirmou o secretário de
Saúde do Rio, Sérgio Côrtes.
A lista de pacientes para
transplantes de fígado no Rio
tem hoje 1.077 pessoas. Todas
deverão passar por novos exames de sangue, a serem feitos e
analisados pela Secretaria de
Estado da Saúde.
Os médicos denunciados pelo Ministério Público Federal e
indiciados pela Polícia Federal
vão ser alvo de sindicância do
hospital Clementino Fraga Filho, da UFRJ, que os suspendeu
por 15 dias, período em que os
transplantes de fígado não
acontecerão. Os procedimentos serão assumidos pelo hospital de Bonsucesso.
Os médicos não foram suspensos. Eles também não estão
sob sindicância nem do ministério nem da central de transplantes.
Habeas corpus negado
A Justiça Federal negou ontem habeas corpus para o médico Joaquim Ribeiro Filho e
ele pode ter o direito de exercer
a profissão cassado pelo Cremerj (Conselho Regional de
Medicina do Rio de Janeiro).
Apesar de negar o habeas
corpus, a juíza federal Andréa
Cunha Esmeraldo, interina na
2ª Turma Especializada do
TRF (Tribunal Regional Federal) da 2ª Região, voltará a analisar o pedido, segundo o TRF.
Ontem, ela pediu à 3ª Vara Criminal Federal do Rio, que havia
decretado a prisão preventiva
do médico, mais informações
sobre o caso, que julgou "complexo".
A defesa de Ribeiro Filho alegou, segundo o TRF, que ele era
réu primário, com bons antecedentes e tinha residência fixa,
além de ter colaborado com as
investigações do Ministério
Público Federal sobre o caso.
O Cremerj informou ontem
que abriu sindicância para investigar o suposto esquema e se
os médicos denunciados infringiram o código de ética da profissão. O processo pode culminar na cassação de Ribeiro Filho, disse a presidente do conselho, Márcia Rosa de Araújo.
A advogada de Ribeiro Filho,
Simone Kamenetz, não respondeu aos telefonemas da Folha até a conclusão desta edição para comentar a decisão da
Justiça. Anteontem, Kamenetz
negou as acusações e disse que
seu cliente é vítima de perseguição política.
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