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Minorias lutam por lugar nas estatísticas
Gays, umbandistas e negros se mobilizam para incentivar mais pessoas a se declararem pertencentes a esses grupos
Principal pesquisa realizada pelo IBGE, envolvendo 240 mil profissionais, Censo começa hoje no país
ANTÔNIO GOIS
DO RIO
Para a maioria dos brasileiros -que a partir de hoje
receberão pesquisadores do
IBGE em suas casas-, responder ao Censo é apenas
um dever cívico. Para alguns,
no entanto, aparecer nas estatísticas oficiais é uma questão de sobrevivência política.
Com esse objetivo, associações de gays, umbandistas, candomblecistas ou parte do movimento negro se
mobilizam em campanhas
nas redes sociais para que
mais pessoas declarem pertencer a esses grupos.
O Censo é a mais importante pesquisa do IBGE. Pelo
custo e tamanho -mobiliza
240 mil profissionais-, é feito apenas a cada dez anos.
Fundamental na elaboração de políticas públicas, é
por meio do Censo que sabemos o número da população
e as características dela, como religião, idade, deficiência, trabalho, entre outras.
QUESTÕES INÉDITAS
Neste ano, pela primeira
vez, serão investigados também línguas indígenas, brasileiros morando no exterior
e cônjuges do mesmo sexo.
Por causa do último quesito, a Associação Brasileira de
Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais lançou a campanha "IBGE. Se
você for LGBT, diga que é".
"Quem não existe não tem
direito. Mesmo o Censo não
investigando a orientação sexual, poder identificar cônjuges do mesmo sexo já é um
avanço. Sabemos que muitos
terão medo de se declarar,
mas esperamos que ao menos 50 mil casais gays apareçam na pesquisa", diz Toni
Reis, presidente da ABGLT.
No caso das religiões de
matrizes africanas, a mobilização ocorre porque o último
censo detectou uma queda
de 0,4% em 1991 para 0,3%
em 2000 na proporção dos
seguidores dessas crenças.
A diminuição foi atribuída
ao crescimento dos evangélicos, mas também ao preconceito e sincretismo religioso.
"As religiões de matrizes
africanas, por preconceito,
ainda são associadas só a negros, pobres e analfabetos.
Isso leva muitos a se dizerem
católicos ou espíritas, em vez
de umbandistas ou candomblecistas", afirma Marcio
Alexandre Gualberto, idealizador, no Coletivo de Entidades Negras, da campanha
"Quem é de Axé, diz que é".
Gualberto lamenta que o
governo federal não tenha
apoiado financeiramente a
campanha, mas aposta nas
redes sociais da internet para
disseminar o lema.
Alguns videoclipes já estão no Youtube, como o da
cantora umbandista Liz Hermann, com o refrão "diga ao
Censo a sua religião".
Esta não é a primeira vez
que mobilizações desse tipo
acontecem. Em 2000, parte
do crescimento dos autodeclarados pretos (de 5% para
6,2% na década) foi atribuído
à campanha "Não deixe sua
cor passar em branco".
Neste ano, um grupo negro de Alagoas, por exemplo,
lançou o slogan "Censo 2010,
assuma sua negritude".
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