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ANÁLISE
O que perguntar ou não no Censo Demográfico
SIMON SCHWARTZMAN
ESPECIAL PARA FOLHA
Mais uma vez, o IBGE se
mobiliza para bater à porta
de cada família para saber
quantos e como somos.
São milhões de reais na
operação, que só ocorre a cada dez anos: por que não
aproveitar e perguntar tudo o
que achamos importante?
Cada perguntinha a mais
aumenta custos e resistência
das pessoas em responder.
A principal função do Censo é dizer quantos somos, onde estamos, como nos movemos e reproduzimos. Mas há
outra: classificar pessoas de
diferentes maneiras, gerando expectativas de direitos.
Quando ele pergunta qual
a "cor ou raça" da pessoa, e
oferece cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo, indígena), muitos se incomodam. Isso é, no entanto, um
reconhecimento de que há
muitas maneiras, e não só
duas, de ser brasileiro.
Na França, o princípio é
que há apenas uma maneira
de ser francês, independentemente da cor da pele ou da
religião de cada um, e por isto essa pergunta não é feita.
O problema é que, assim,
não há como reconhecer e lidar com as diferenças de fato
que existem e que afetam especialmente as populações
de imigração recente.
Quando este ano o Censo
abrir a possibilidade das pessoas se declararem "cônjuge
ou companheiro do mesmo
sexo", o que se estará fazendo não é só contar quantos
casamentos homossexuais
existem, mas também considerar como legítima uma relação que até então se mantinha como clandestina.
O IBGE não decide sozinho
essas coisas. Cada Censo é o
resultado de um longo processo de consultas e negociações com diferentes setores
do governo e da sociedade,
em que todos os interesses e
demandas precisam ser conciliados a fim de que o resultado, embora nunca perfeito,
seja o melhor possível.
Tudo isso começa ao se
abrir a porta de casa para receber bem o recenseador!
Presidente do IBGE de 1994 a 1998, é
membro da Comissão Consultiva do Censo
Demográfico de 2010 e do Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade no Rio
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