São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2010

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ANÁLISE

O que perguntar ou não no Censo Demográfico

SIMON SCHWARTZMAN
ESPECIAL PARA FOLHA

Mais uma vez, o IBGE se mobiliza para bater à porta de cada família para saber quantos e como somos.
São milhões de reais na operação, que só ocorre a cada dez anos: por que não aproveitar e perguntar tudo o que achamos importante?
Cada perguntinha a mais aumenta custos e resistência das pessoas em responder.
A principal função do Censo é dizer quantos somos, onde estamos, como nos movemos e reproduzimos. Mas há outra: classificar pessoas de diferentes maneiras, gerando expectativas de direitos.
Quando ele pergunta qual a "cor ou raça" da pessoa, e oferece cinco opções (branco, preto, pardo, amarelo, indígena), muitos se incomodam. Isso é, no entanto, um reconhecimento de que há muitas maneiras, e não só duas, de ser brasileiro.
Na França, o princípio é que há apenas uma maneira de ser francês, independentemente da cor da pele ou da religião de cada um, e por isto essa pergunta não é feita.
O problema é que, assim, não há como reconhecer e lidar com as diferenças de fato que existem e que afetam especialmente as populações de imigração recente.
Quando este ano o Censo abrir a possibilidade das pessoas se declararem "cônjuge ou companheiro do mesmo sexo", o que se estará fazendo não é só contar quantos casamentos homossexuais existem, mas também considerar como legítima uma relação que até então se mantinha como clandestina.
O IBGE não decide sozinho essas coisas. Cada Censo é o resultado de um longo processo de consultas e negociações com diferentes setores do governo e da sociedade, em que todos os interesses e demandas precisam ser conciliados a fim de que o resultado, embora nunca perfeito, seja o melhor possível.
Tudo isso começa ao se abrir a porta de casa para receber bem o recenseador!

Presidente do IBGE de 1994 a 1998, é membro da Comissão Consultiva do Censo Demográfico de 2010 e do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade no Rio


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