São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2010

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GILBERTO DIMENSTEIN

O efeito Brumadinho


No museu-fazenda Inhotim está um bom exemplo do que são as possibilidades da economia criativa


COMUNICADORES, artistas, educadores e acadêmicos se reuniram, no mês passado, em Brumadinho, cidade de 30 mil habitantes no interior de Minas Gerais, para discutir o futuro da transmissão do conhecimento no século 21. A escolha do lugar teve apelo simbólico: apesar de a cidade lembrar o século 19, com carroças puxadas a cavalo e gente conversando na calçada, uma inovação colocou-a nos circuitos culturais mais refinados do mundo, de Londres a Nova York, passando por Paris e Milão.
Durante os debates, o economista Claudio Moura Castro sugeriu instalar ali uma espécie de centro mundial de inovação, atraindo talentos de todo o planeta, cujas palestras seriam transmitidas em tempo real.
Brumadinho provoca tanto a imaginação porque um empresário (Bernardo Paz) transformou uma fazenda no maior museu de arte contemporânea de que se tem notícia, batizado de Inhotim.
Passa-se, em minutos, do século 19 ao 21, ao cruzar as ruas do pacato povoado interiorano até a entrada do museu-fazenda. Está ali um bom exemplo do que significam as possibilidades da economia criativa. O tema é incipiente na agenda dos candidatos, mas nele reside o futuro, a nova forma de trabalharmos, aprendermos e nos comunicarmos.

 


Graças ao museu, a cidade recebe milhares de turistas. Já se planeja construir um hotel, um clube, um aeroporto e uma faculdade.
Investir em museus ajudou a recuperar o ambiente de modernidade de Londres. No Reino Unido, a preocupação com a perda de empregos industriais levou à criação de um ministério para desenvolver a economia criativa, que inclui cinema, teatro, design, games, moda, software, mercado editorial etc.
O projeto foi levado tão a sério que o currículo escolar foi modificado para estimular a formação de trabalhadores mais criativos.

 


Nova York lançou um plano para estimular esses setores, na briga por empregos que vão para Londres, Seattle ou para o Vale do Silício. Agora, economistas, sob encomenda da prefeitura, preparam um projeto para a cidade de São Paulo.
Para entender o que é economia criativa, veja-se a força do design na venda do iPhone, que fez da Apple a marca mais valorizada do mundo (US$ 57 bilhões). Daí os chineses estarem fazendo um "rapa" em escolas de design de cidades como Milão. Levam professores, inclusive do Brasil, para ensinar criatividade a alunos acostumados a copiar.

 


Na semana passada, a cidade de São Paulo foi palco de uma gama de casos de economia criativa.
O Hospital Sírio-Libanês anunciou a primeira de uma série de cirurgias para testar um novo tratamento para o mal de Parkinson. É mais um dos projetos em que está envolvido o neurocientista Miguel Nicolelis, que acabou de receber um dos maiores prêmios de medicina dos Estados Unidos.
O Festival Anima Mundi, iniciado na quinta-feira, mostra os jovens brasileiros entrando no universo da animação. Um dos palestrantes, Guilherme Marcondes, ganhou importantes prêmios com seu "Tiger". No Canadá, 220 mil pessoas já trabalham no mercado de animação.
A avenida Paulista está tomada pelas engenhocas interativas trazidas pelo File (Festival Internacional da Linguagem Eletrônica).

 


Exemplo de economia criativa foi ainda o da atriz Mika Lins, que gravou na Paulista, um manifesto contra a morte por apedrejamento de uma iraniana, acusada de adultério. A ideia era sugerir ao presidente Lula que interviesse. Um grupo de jovens, sem vinculação partidária e sem apoio de nenhuma empresa ou instituição, postou o vídeo na internet com o título "Ligalula".
Na terça-feira, Lula já comentava o caso em entrevista à imprensa, enquanto a corrente digital se espalhava pelo mundo, envolvendo tuiteiros como Marcelo Tas e Oprah Winfrey.

 


Assim se entende como uma cidade como Brumadinho e seu museu-fazenda, com ares do século 19, podem entrar rapidamente no mundo virando referência de futuro no século 21 ou como um país corre o risco de ficar rapidamente para trás.

 


PS- Consultora da São Paulo Fashion Week e na criação de fundos de investimentos para a animação, a economista Lídia Goldenstein participa do projeto de economia criativa da cidade de São Paulo. No meu site (www.dimenstein.com.br), há um estudo seu sobre economia criativa e meios de estimulá-la no Brasil.

gdimen@uol.com.br



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