São Paulo, Domingo, 01 de Agosto de 1999
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REALIDADE
Onze adolescentes escreveram letra sobre a instituição dois meses antes da rebelião no Tatuapé
Internos descrevem Febem em rap

IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Dois meses antes da rebelião na Febem do Tatuapé, onze internos escreveram um rap contando suas vidas na instituição. A canção foi escrita em parceria com o grupo de hip-hop Jigaboo.
O rap, chamado "Realidade", traz diversas alusões a outras revoltas da Febem, como "Rebelião/ Ibope na televisão" ou "Quando tem motivo de rebelião/ Aqui ninguém presta/ Só tem ladrão/ Quero mudar esse pensamento".
Outros trechos descrevem o dia-a-dia do local: "Na visita de domingo/ O coração bate mais forte/ Espero que a minha mãe/ Não traga ódio nem notícia de morte" e "Violência é para quem vai ficar/ Juro que não entendo esse lugar".
"Lá é cadeia", conta o rapper P.MC., da banda Jigaboo. "Ninguém é tratado como menino, não. Nos primeiros dois meses, tive que segurar as lágrimas para não chorar na frente deles, de tristeza com as histórias."
Junto com os colegas Deco e Suave, P.MC frequentou a unidade Tatuapé nos últimos quatro meses.
Para ele, a única coisa que se salva na Febem é o Projeto Guri, do governo do Estado. "Tirando isso, é só terror", afirma.
"Tem moleque cumprindo pena porque roubou arroz. E tem os da tranca, que são terríveis, com homicídio, latrocínio. Com certeza, acontece de gente aprender coisa errada lá dentro."
"Além disso, a monitoria não é preparada. Vão lá trabalhar porque precisam do salário, mas não sabem como agir. E os moleques não respeitam, não. É difícil."
"Realidade" vai fazer parte do CD da banda, a ser lançado no próximo mês. Além dos 11 internos que ajudaram na letra, outros 24 gravaram coral e percussão para a música. "Nenhum dos 35 fugiu", afirma o empresário da Jigaboo, Walmir Villanova.
Outro rapper que teve contato com internos da Febem foi Nil, da banda MRN. "Fizemos um show lá. No final, alguns quiseram se esconder na van", conta Nil, que não permitiu a fuga. "O clima era deprimente. Eles eram agoniados. Falta carinho ali."


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