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Fernando deu gorjeta de R$ 50 a um vendedor
CYNARA MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ele tirava nota por nota do
bolso, tipo o Silvio Santos no
"Topa Tudo por Dinheiro", sabe?", disse a caixa Selma Brandão, da loja SN, no Shopping
West Plaza, onde o sequestrador do empresário, Fernando
Dutra Pinto, fazia compras
pouco tempo depois de ter estado Shopping Center Alphaville, no condomínio de mesmo
nome, na Grande São Paulo.
Fernando já estava com os
cabelos tingidos de louro e usava lentes de contato esverdeadas quando passou em quatro
lojas do shopping, gastando no
total cerca de R$ 1.500.
"Acho que ele tingiu o cabelo
aqui mesmo, no banheiro, porque estava com o paletó e as
orelhas manchadas", disse o
vendedor Nivan Oliveira, 30,
da loja de sapatos Showbiz, a
primeira em que ele entrou,
por volta das 15h30.
Ali, Fernando gastou R$ 180
em um par de sapatos pretos
com cadarço, que saiu usando,
um par de tênis, dez pares de
meias e dois cintos. Pagou em
dinheiro, em notas de R$ 50, e
perguntou onde poderia comprar roupas "sociais". O vendedor indicou a loja Colombo, no
primeiro piso do bloco ao lado.
Antes de passar pela Colombo, Fernando, que estava sozinho, olhou a vitrine da loja Akkar House e viu uma jaqueta vinho forrada de azul. Pediu para
prová-la. "Me chama de "nego'" -respondeu, no provador, à habitual pergunta feita
pelos vendedores aos clientes:
"Qual é o seu nome?"
Foi só a maneira como pediu
para ser tratado que causou estranheza ao vendedor Vanderlei (não quis dizer o sobrenome), 26. "Jamais imaginaria
que fosse um criminoso", disse. "Só fui saber no outro dia,
quando o gerente viu a foto da
jaqueta no jornal." Fernando
também levou uma calça preta,
que trocou pela que usava.
Em seguida, parou para ver
outra jaqueta, cinza, na SN.
Dentro, os vendedores brincavam entre si: "Olha o Biro-Biro", por causa da cor dos cabelos tingidos, parecidos com o
do famoso ex-jogador do Corinthians. Fernando comprou
a jaqueta, duas camisetas de
malha e quatro cuecas. "Ele
chegou a pedir desconto, e o
gerente tirou 5% do total da
compra", disse a caixa Selma.
Fernando queria comprar
um jaquetão de quatro botões,
no estilo tornado célebre pelo
ex-presidente José Sarney. Foi
perguntando por esse tipo de
terno que, finalmente, entrou
na Colombo, loja especializada
em roupas clássicas.
Levava, de acordo com os
funcionários da loja, bolos de
notas espalhados pelos bolsos
do paletó manchado de tinta.
Entre si, os vendedores comentavam: "Deve ter atacado alguém no caixa eletrônico". No
trato, porém, acharam que era
"muito gente boa".
O vendedor Hermógenes Capiotto, 20, disse que não tinha o
tal jaquetão à Sarney. "Isso já
está meio fora de moda", disse
ele, mostrando para Fernando
um terno em microfibra verde,
que acabou sendo comprado.
"Ele só ia levar esse, mas eu
fui empurrando", contou o
vendedor. Fernando acabou
convencido a levar ainda um
terno preto, no valor de R$ 199,
quatro gravatas, três camisas e
um par de sapatos marrom, todos fabricados na Itália.
Novamente, pagou a fatura,
de R$ 890, em notas de R$ 50.
Pediu a Hermógenes que o ajudasse com as sacolas, e, dessa
vez, em vez de pedir desconto,
foi generoso: deu ao vendedor
uma de suas notas de R$ 50,
"para um café". Em seguida,
entrou no táxi e foi embora.
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