São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

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Vestibular afasta "vida inteligente", diz MEC

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Fim do vestibular e uma base curricular unificada nacional são as medidas que a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar, aponta como essenciais para melhorar a qualidade do ensino médio no país. Esse nível de ensino é considerado pelo governo federal o mais problemático de todo o sistema (não há indicativos de melhora em exames federais como o Saeb e são altos os índices de evasão e repetência). Leia abaixo a avaliação da secretária -professora licenciada em história- sobre a educação média, que será debatida nesta semana em seminário da Unicef, na Argentina.

 

FOLHA - Como a sra. analisa a situação do ensino médio no país?
MARIA DO PILAR
- Das três etapas da educação básica, o médio é o que possui o maior desafio. No infantil, já há um modelo de oferta, falta construir creche.
No fundamental, estão mais organizados o currículo, as avaliações e a correção do fluxo (estudantes cursando a série esperada para suas idades). No médio, ainda precisamos discutir o que os jovens têm de estudar. Digo sempre aos reitores das universidades: não vai existir vida inteligente no ensino médio enquanto houver vestibular na forma atual.
O currículo tende a se ajustar a essa prova, que é seletiva e excludente. E de decoreba.
Depois, precisa dar aula de reforço a esses universitários, porque o vestibular selecionou mal. Parece coisa de doido. As faculdades aprovam os meninos com uma quantidade grande de conteúdo, mas com pouca elaboração [de raciocínio].
No ano passado, em reunião do Consed [conselho dos secretários estaduais de Educação] sobre experiências de ensino médio, ficou claro que nenhum país analisado tem 12 disciplinas obrigatórias como aqui.
Geralmente há uma base comum, que se resume a língua materna, literatura, matemática e história. Os alunos compõem o restante do currículo, com base no que querem fazer adiante. No Brasil, estudam física nos três anos, química, biologia, sociologia... É um acúmulo sem muito sentido para eles.

FOLHA - Mas as disciplinas não são obrigatórias?
PILAR
- Não, as diretrizes curriculares são apenas linhas gerais. Mas a escola não tem coragem de radicalizar, porque tudo aquilo cai no vestibular. Conclusão: nem todos os jovens entram na faculdade e não fazemos uma formação aprofundada do adolescente.

FOLHA - O que deve ser feito?
PILAR
- Em relação ao acesso à universidade, existem outras formas fora o vestibular. Há a experiência, por exemplo, da Universidade de Brasília, com o Programa de Avaliação Seriada, que avalia ano a ano os alunos.
Há o Enem, que muitas universidades usam como seleção. Mas antes do vestibular, temos de entender quem é o sujeito de 15 a 17 anos no Brasil em 2008. Não podemos pensar em modelos do século passado.
Os meninos decoram física e química, mas não sabem a história do pensamento científico.

FOLHA - Qual a proposta do MEC?
PILAR
- Mexer radicalmente no currículo e discutir com coragem o acesso à universidade.
Queremos chegar em fevereiro de 2009 com uma base curricular nacional. Hoje temos a diretriz curricular, mas cada Estado pode trabalhar de uma maneira. Faz sentido no regime federativo, mas algumas coisas precisam ser mais diretivas. É um processo que discutimos com toda as partes.


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