|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cobrança por lanches em voo revolta passageiros da Gol
Médica organizou abaixo-assinado a bordo e foi repreendida pelo comandante
Passageiros dizem que não foram avisados na compra do bilhete nem no check-in e que comissários manipulavam dinheiro e alimentos
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio a uma turbulência
no voo 1667 da Gol no trajeto
Recife-São Paulo no fim de semana, uma médica se levanta,
vai à frente da passarela do
Boeing-737 e reclama em voz
alta de uma novidade que pegou todos os passageiros de surpresa: a cobrança por lanches.
Insatisfeita por não ter sido
alertada na compra da passagem nem no check-in, a ginecologista Renê Patriota dizia que
passaria em todas as fileiras coletando nomes para um abaixo-assinado que daria início a uma
ação coletiva contra a Gol.
Ao saber da reação, o comandante mandou avisar, por meio
de uma comissária, que pousaria o avião no primeiro aeroporto para expulsar a médica,
mas não o fez. Depois, a tripulação informou que a Polícia Federal a esperava em Cumbica.
O protesto continuou e foram colhidas 55 assinaturas entre os 187 passageiros.
Outra reclamação era a manipulação simultânea de dinheiro
e de alimento e bebida por comissários. "Eles pegam em dinheiro, não lavam as mãos e servem comida. Nós também não
temos como sair para ir ao lavabo antes de comer porque os
carrinhos do serviço de bordo
estão bloqueando a passagem",
disse a passageira Lígia Mafra.
Em nota, a Gol diz que vai
apurar o incidente e, se "confirmados erros de procedimento,
tomará medidas corretivas para que não voltem a acontecer".
Afirma ainda que "o serviço de
venda a bordo foi adotado recentemente, após realização de
estudos aprofundados e pesquisas com clientes" e que "a
iniciativa é inédita no Brasil".
A novidade foi anunciada no
alto-falante logo após a decolagem. As aeromoças passaram
pelo corredor distribuindo o
cardápio e voltaram anotando
pedidos e explicando os pratos.
Quem não quis pagar recebeu
um punhado de amendoim japonês e um copo de refrigerante ou água. Os comissários explicavam que, devido ao caráter
experimental, não sabiam se o o
amendoim, que no cardápio
custava R$ 3, também seria cobrado no futuro. Por enquanto,
diziam, a comida só era vendida
em alguns voos como teste.
"Estamos implantando em
projeto piloto para sentir a reação", explicava a chefe de cabine Márcia Mendes.
A medida também chateou os
comissários. "Vai contra a regulamentação da Aeronáutica.
Nos EUA o acordo com a categoria é diferente. Neste voo vendemos todos os lanches, chegamos a faturar R$ 2.000", disse o
comissário Juliano Feitosa.
Para o comandante Carlos
Camacho, do Sindicato Nacional dos Aeronautas, há "desvio
de função". "O comissário é um
elemento muito mais ligado à
segurança do voo do que à venda de produtos a bordo", diz.
A Anac, que regula o setor, diz
não haver lei que obrigue a empresa a oferecer alimentação a
bordo nem que regulamente a
venda de produtos em voos. O
Procon-SP afirma que a companhia pode cobrar desde que avise claramente na compra do bilhete. O passageiro que se sentir
prejudicado, diz a fundação, pode registrar queixa no órgão.
Na Europa e nos EUA algumas companhias já cobram pelo lanche, mas a passagem chega a custar menos de 10. Por
enquanto, a cobrança do lanche pela Gol ainda não barateou o preço das viagens -muitos passageiros disseram à Folha, que estava no voo, terem
pago mais de R$ 1.000 no trecho ida e volta para Recife.
Texto Anterior: Transporte: Prefeitura libera TV nos ônibus Próximo Texto: Air France: França vai retomar buscas de caixa-preta Índice
|