São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
Próximo Texto | Índice

ADMINISTRAÇÃO
Processo licitatório e obstáculos para obra impedem inauguração em dezembro do ano que vem
Para técnicos, prefeitura não tem como entregar no prazo marginal com pedágio

GONZALO NAVARRETE
JOÃO CARLOS SILVA
da Reportagem Local

Não há viabilidade técnica nem jurídica para a Prefeitura de São Paulo cumprir o cronograma que ela mesma estipulou para entregar as novas pistas na marginal Tietê com pedágios: dezembro do ano que vem. A opinião é de urbanistas e especialistas em licitações ouvidos pela Folha.
A idéia da prefeitura é conseguir a autorização da Câmara para o projeto na próxima semana, iniciar um processo licitatório logo depois e assinar, em janeiro, com uma empresa que construiria e exploraria as novas pistas expressas na marginal.
Para usar essas pistas, o motorista pagaria US$ 1,00.
Mas os problemas são os seguintes: o processo licitatório demoraria seis meses e as obras, mais de um ano. Com isso, o prefeito não terminaria o seu governo com a obra pronta, como quer.
Valter Caldana, que é mestre em planejamento urbano pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, afirma que seriam necessárias pelo menos 10 intervenções drásticas nos 25 quilômetros das novas pistas.
"Nós temos soluções técnicas e tecnologias para realizar essas obras, mas dificilmente elas estariam concluídas em menos de um ano", diz Caldana, que foi um dos organizadores do Concurso Nacional para Reestruturação Urbana e Paisagística das Marginais, promovido pela própria Prefeitura de São Paulo.
Antes disso, a licitação também colaboraria para o atraso. "Pelas regras previstas na Lei de Licitações, a prefeitura vai levar pelo menos seis meses para concluir o processo", afirma o especialista em licitações Paulo Boselli.
Ainda assim, diz, se não houver contestações jurídicas durante o processo de licitação, o que quase sempre ocorre em um processo que envolve uma obra de R$ 250 milhões. Se o caso for para a Justiça, não há prazo para conclusão.

Pilares
O maior obstáculo de engenharia para a construção da nova pista são oito pilares de pontes que ocupam praticamente todo o canteiro central.
No sentido Lapa-Penha, a concessionária responsável pela obra precisaria "desviar" de três pilares de pontes: ponte da Anhanguera, ponte da Fepasa e ponte do Piqueri.
Outro desafio será vencer uma série de estreitamentos da marginal, onde o canteiro central (entre a pista expressa e a pista local) desaparece.
O caso mais grave acontece no estrangulamento existente perto da ponte das Bandeiras, onde a pista expressa e a pista local se fundem em uma só e o canteiro central desaparece.
A área também é um dos principais pontos de alagamento da marginal Tietê.

Outros aspectos
Segundo Caldana, o projeto também apresenta falhas. A principal, diz, é tentar resolver os problemas de trânsito esquecendo das questões urbanísticas.
"Vamos minimizar os congestionamentos por um tempo e deixar de lado outros pontos importantes, como a impermeabilização do solo, que inevitavelmente vai agravar ainda mais o problema das enchentes", disse Caldana. "Além disso, a qualidade de vida da cidade vai ficar ainda mais deteriorada. Em vez de tirar carros, vamos mandar mais veículos ainda para a marginal."
A previsão da Prefeitura de São Paulo é que a capacidade da marginal Tietê, que recebe 700 mil veículos por dia, aumente 50% com a construção das novas pistas.
Segundo o urbanista, uma opção para diminuir os congestionamentos seria a construção de mais pontes cruzando o rito Tietê, e a ampliação de avenidas paralelas à marginal.
Com a medida, um número menor de carros precisaria acessar a marginal.


Próximo Texto: Secretário diz que prazo será cumprido
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.