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ADMINISTRAÇÃO
Processo licitatório e obstáculos para obra impedem inauguração em dezembro do ano que vem
Para técnicos, prefeitura não tem como entregar no prazo marginal com pedágio
GONZALO NAVARRETE
JOÃO CARLOS SILVA
da Reportagem Local
Não há viabilidade técnica nem
jurídica para a Prefeitura de São
Paulo cumprir o cronograma que
ela mesma estipulou para entregar as novas pistas na marginal
Tietê com pedágios: dezembro do
ano que vem. A opinião é de urbanistas e especialistas em licitações
ouvidos pela Folha.
A idéia da prefeitura é conseguir
a autorização da Câmara para o
projeto na próxima semana, iniciar um processo licitatório logo
depois e assinar, em janeiro, com
uma empresa que construiria e
exploraria as novas pistas expressas na marginal.
Para usar essas pistas, o motorista pagaria US$ 1,00.
Mas os problemas são os seguintes: o processo licitatório demoraria seis meses e as obras,
mais de um ano. Com isso, o prefeito não terminaria o seu governo com a obra pronta, como quer.
Valter Caldana, que é mestre em
planejamento urbano pela FAU
(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP, afirma que seriam necessárias pelo menos 10
intervenções drásticas nos 25 quilômetros das novas pistas.
"Nós temos soluções técnicas e
tecnologias para realizar essas
obras, mas dificilmente elas estariam concluídas em menos de um
ano", diz Caldana, que foi um dos
organizadores do Concurso Nacional para Reestruturação Urbana e Paisagística das Marginais,
promovido pela própria Prefeitura de São Paulo.
Antes disso, a licitação também
colaboraria para o atraso. "Pelas
regras previstas na Lei de Licitações, a prefeitura vai levar pelo
menos seis meses para concluir o
processo", afirma o especialista
em licitações Paulo Boselli.
Ainda assim, diz, se não houver
contestações jurídicas durante o
processo de licitação, o que quase
sempre ocorre em um processo
que envolve uma obra de R$ 250
milhões. Se o caso for para a Justiça, não há prazo para conclusão.
Pilares
O maior obstáculo de engenharia para a construção da nova pista são oito pilares de pontes que
ocupam praticamente todo o canteiro central.
No sentido Lapa-Penha, a concessionária responsável pela obra
precisaria "desviar" de três pilares
de pontes: ponte da Anhanguera,
ponte da Fepasa e ponte do Piqueri.
Outro desafio será vencer uma
série de estreitamentos da marginal, onde o canteiro central (entre
a pista expressa e a pista local) desaparece.
O caso mais grave acontece no
estrangulamento existente perto
da ponte das Bandeiras, onde a
pista expressa e a pista local se
fundem em uma só e o canteiro
central desaparece.
A área também é um dos principais pontos de alagamento da
marginal Tietê.
Outros aspectos
Segundo Caldana, o projeto
também apresenta falhas. A principal, diz, é tentar resolver os problemas de trânsito esquecendo
das questões urbanísticas.
"Vamos minimizar os congestionamentos por um tempo e deixar de lado outros pontos importantes, como a impermeabilização do solo, que inevitavelmente
vai agravar ainda mais o problema das enchentes", disse Caldana.
"Além disso, a qualidade de vida
da cidade vai ficar ainda mais deteriorada. Em vez de tirar carros,
vamos mandar mais veículos ainda para a marginal."
A previsão da Prefeitura de São
Paulo é que a capacidade da marginal Tietê, que recebe 700 mil veículos por dia, aumente 50% com a
construção das novas pistas.
Segundo o urbanista, uma opção para diminuir os congestionamentos seria a construção de
mais pontes cruzando o rito Tietê,
e a ampliação de avenidas paralelas à marginal.
Com a medida, um número menor de carros precisaria acessar a
marginal.
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