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Evasão e desemprego crescem entre jovens
Enquanto país vive sua maior onda jovem, estudos indicam aumento de índices dos que abandonam escola e não acham emprego
É preciso pensar em políticas públicas que complementem a renda de adolescentes em idade escolar, dizem especialistas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No momento em que o país
atingiu a crista da maior onda
jovem de sua história, governadores e o presidente eleitos hoje ou no segundo turno deveriam olhar com atenção três dados recentemente divulgados.
Eles sugerem que é preciso
pensar em mais e melhores políticas para a juventude:
1) Segundo o Dieese, jovens
são hoje 46% dos desempregados, apesar de representarem
apenas 25% da população economicamente ativa. Essa situação vem se agravando. O economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, mostra que, em 1995, o
desemprego atingia 13,9% dos
jovens de 16 e 17 anos. Em
2004, chegou a 24,2%.
2) O percentual de jovens de
15 a 17 anos fora da escola, medido pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), aumentou de 2003 para
2005, chegando a 18%.
3) Isso está diretamente relacionado a dois fatores medidos
pelo MEC em seu Censo Escolar: evasão e reprovação. Ambas crescem no ensino médio.
A leitura dos dados acima é
um retrato da encruzilhada enfrentada hoje por muitos dos
35 milhões de brasileiros de 16
a 24 anos, a maior população
jovem da história. De um lado, a
escola não os atrai. De outro, o
mercado não os aceita.
Como resultado, uma parcela
expressiva deles, especialmente nas regiões metropolitanas,
encontra-se à margem tanto do
sistema educacional quanto do
mercado de trabalho. Uma tabulação feita pela pesquisadora
Maria Lucia Vieira, do IBGE,
mostra que 21,4% dos jovens
das seis maiores regiões metropolitanas não estudavam nem
trabalhavam em agosto.
Para Adalberto Cardoso, diretor de ensino do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio) e autor de uma pesquisa ainda inédita sobre a
transição de jovens da escola
para o mercado, o índice de 18%
de jovens fora da escola está
perto de um limite estrutural.
"O problema não é só da escola, nem é de vagas. Ele tem
muito mais a ver com a estrutura da pobreza brasileira, já que
a maior parte desses jovens que
não estão estudando vem de famílias muito pobres, que precisam da mão-de-obra deles para
compor a renda", diz.
Ruben Klein, pesquisador da
Fundação Cesgranrio, vê o problema por outro ângulo: "Os jovens estão saindo da escola sobretudo porque não aprendem
e acabam retidos na mesma série. Se estivessem progredindo,
provavelmente conciliariam
trabalho e estudo."
Ambos, no entanto, defendem que é preciso pensar em
políticas públicas que complementem a renda de famílias
com jovens em idade escolar, já
que o Bolsa Família não atende
maiores de 15 anos.
O ministro Fernando Haddad (Educação) também concorda com a necessidade de dar
bolsas para que os jovens de
baixa renda permaneçam em
cursos de formação e capacitação. Ele diz que o governo federal vem tentando fazer isso por
meio dos programas ProJovem
e Escola de Fábrica. Para ele,
outro caminho é a aprovação de
uma lei que torne obrigatório o
estudo dos seis aos 17 anos. Hoje, ela vale dos seis aos 14.
Felícia Madeira, da Fundação Seade, diz que é preciso levar em conta nessa análise
também que a escola hoje é
mais democrática por ter incluído jovens mais pobres que
antes nem concluíam o ensino
fundamental. Isso acaba tendo
efeito na repetência e na evasão, já que alunos mais pobres
têm pior histórico escolar: "Isso, obviamente, não justifica o
aumento dessa taxas porque o
papel do Estado é ter políticas
compensatórias para atender
melhor esses jovens."
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