São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Evasão e desemprego crescem entre jovens

Enquanto país vive sua maior onda jovem, estudos indicam aumento de índices dos que abandonam escola e não acham emprego

É preciso pensar em políticas públicas que complementem a renda de adolescentes em idade escolar, dizem especialistas

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No momento em que o país atingiu a crista da maior onda jovem de sua história, governadores e o presidente eleitos hoje ou no segundo turno deveriam olhar com atenção três dados recentemente divulgados. Eles sugerem que é preciso pensar em mais e melhores políticas para a juventude:
1) Segundo o Dieese, jovens são hoje 46% dos desempregados, apesar de representarem apenas 25% da população economicamente ativa. Essa situação vem se agravando. O economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, mostra que, em 1995, o desemprego atingia 13,9% dos jovens de 16 e 17 anos. Em 2004, chegou a 24,2%.
2) O percentual de jovens de 15 a 17 anos fora da escola, medido pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), aumentou de 2003 para 2005, chegando a 18%.
3) Isso está diretamente relacionado a dois fatores medidos pelo MEC em seu Censo Escolar: evasão e reprovação. Ambas crescem no ensino médio.
A leitura dos dados acima é um retrato da encruzilhada enfrentada hoje por muitos dos 35 milhões de brasileiros de 16 a 24 anos, a maior população jovem da história. De um lado, a escola não os atrai. De outro, o mercado não os aceita.
Como resultado, uma parcela expressiva deles, especialmente nas regiões metropolitanas, encontra-se à margem tanto do sistema educacional quanto do mercado de trabalho. Uma tabulação feita pela pesquisadora Maria Lucia Vieira, do IBGE, mostra que 21,4% dos jovens das seis maiores regiões metropolitanas não estudavam nem trabalhavam em agosto.
Para Adalberto Cardoso, diretor de ensino do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio) e autor de uma pesquisa ainda inédita sobre a transição de jovens da escola para o mercado, o índice de 18% de jovens fora da escola está perto de um limite estrutural.
"O problema não é só da escola, nem é de vagas. Ele tem muito mais a ver com a estrutura da pobreza brasileira, já que a maior parte desses jovens que não estão estudando vem de famílias muito pobres, que precisam da mão-de-obra deles para compor a renda", diz.
Ruben Klein, pesquisador da Fundação Cesgranrio, vê o problema por outro ângulo: "Os jovens estão saindo da escola sobretudo porque não aprendem e acabam retidos na mesma série. Se estivessem progredindo, provavelmente conciliariam trabalho e estudo."
Ambos, no entanto, defendem que é preciso pensar em políticas públicas que complementem a renda de famílias com jovens em idade escolar, já que o Bolsa Família não atende maiores de 15 anos.
O ministro Fernando Haddad (Educação) também concorda com a necessidade de dar bolsas para que os jovens de baixa renda permaneçam em cursos de formação e capacitação. Ele diz que o governo federal vem tentando fazer isso por meio dos programas ProJovem e Escola de Fábrica. Para ele, outro caminho é a aprovação de uma lei que torne obrigatório o estudo dos seis aos 17 anos. Hoje, ela vale dos seis aos 14.
Felícia Madeira, da Fundação Seade, diz que é preciso levar em conta nessa análise também que a escola hoje é mais democrática por ter incluído jovens mais pobres que antes nem concluíam o ensino fundamental. Isso acaba tendo efeito na repetência e na evasão, já que alunos mais pobres têm pior histórico escolar: "Isso, obviamente, não justifica o aumento dessa taxas porque o papel do Estado é ter políticas compensatórias para atender melhor esses jovens."


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