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Cereal para criança tem sódio e açúcar demais, diz pesquisa
Pro Teste analisou 18 produtos com maior presença no mercado de alimentos infantis
Um outro problema
apontado é a falta de
adequação da tabela
nutricional à faixa etária a
que o produto se destina
CLÁUDIA COLLUCCI
BRUNA SANIELE
DA REPORTAGEM LOCAL
Teste com 18 cereais matinais de maior presença no mercado de alimentos infantis
mostra que a maioria dos produtos contêm açúcar e sódio
em excesso e poucas fibras. A
avaliação foi feita pela Pro Teste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor).
Uma porção de 30 gramas de
sucrilhos de chocolate da Kellogg's (uma tigelinha), por
exemplo, tem 205 mg de sódio.
Uma criança de um a três anos
deve consumir, por dia, no máximo 225 mg desse mineral
-ou seja, uma única porção
equivale a 90% das suas necessidades diárias. Para um adulto,
essa quantidade de sódio representa 10% das necessidades.
Na avaliação da Pro Teste, todos os cereais matinais também têm açúcar em excesso
-de 5,5 a 13 gramas por porção.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o
ideal é que uma criança de até
três anos consuma, no máximo,
14 gramas por dia de açúcar.
Uma porção do sucrilho sabor banana, por exemplo, tem
quase toda a quantidade diária
de açúcar recomendada para
uma criança nessa faixa etária.
Presente no sal e base para
conservantes, o sódio em excesso está ligado à hipertensão
arterial e a problemas renais. Já
muito açúcar tem relação com
obesidade e diabetes tipo 2.
Fibras
Dos cereais analisados, dez
marcas apresentaram menos
de três gramas de fibras para
cada 100 gramas do produto
-três gramas é a quantidade
mínima para um alimento ser
considerado fonte de fibra. Os
cereais Corn Flakes (todos os
sabores) e Chokos tiveram o
pior desempenho no teste: possuem menos de 0,01% de fibra,
ou seja, praticamente nada.
Um outro problema apontado pela Pro Teste -que envolve
os cereais analisados e a maior
parte de alimentos consumidos
pelo público infantil- é a falta
de adequação da tabela nutricional à faixa etária a que o produto se destina.
A pesquisadora de alimentos
da Pro Teste, Fernanda Ribeiro, explica que o percentual
diário recomendado de cada
nutriente é calculado para uma
dieta de 2.000 quilocalorias,
que corresponde à necessidade
calórica de um adulto, não de
uma criança.
A dieta de uma criança de um
a três anos, por exemplo, deve
ser de 1.050 calorias, segundo a
Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária). De quatro
a seis anos, esse valor sobe para
1.450 e, de sete a dez anos, para
1.750. "O ideal seria que essas
informações fossem apresentadas de acordo com a faixa etária. Seria muito mais útil aos
pais", avalia a pesquisadora.
"Isopor food"
O nutrólogo e cardiologista
Daniel Magnoni orienta que as
pessoas escolham o cereal matinal pelo menor índice de sódio e açúcar e maior presença
de fibras solúveis. "O ideal é
misturar com um iogurte light,
enriquecido com cálcio, e muita fruta", diz ele.
Para Magnoni, os pais não
devem se impressionar pelas
vitaminas e sais minerais contidos no rótulo dos produtos. "Isso a criança consegue por outras fontes. O que não pode é ficar comendo essa quantidade
de sódio e açúcar e quase nenhuma fibra. Isso é o que chamamos de "isopor food", cuja
única função é aumentar as taxas de obesidade infantil."
A nutricionista Madalena
Vallinoti afirma que muitas vezes os pais utilizam o cereal como alternativa para que a
criança consuma leite. "Os pais
devem evitar o consumo exagerado desses cereais, mas também não podem proibi-lo caso
a criança goste do produto. Deve haver moderação."
De acordo com o pediatra e
professor da Faculdade de Medicina da USP, Mário Cícero
Falcão, o brasileiro consome
muito açúcar e os pais educam
a criança a gostar do alimento
muito doce. "O cereal que a
criança mais gosta é aquele
com mais açúcar. É a conjunção
do paladar brasileiro com a indústria", afirma Falcão.
Na opinião do pediatra, os
brindes distribuídos com os
cereais impulsionam o consumo. "Os brindes são uma grande arma antiética. Tem sempre
o alimento processado, com
valor biológico inferior e pouco
nutriente acompanhado do
brinde. Por que não vender
uma maçã com o personagem
da moda?"
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