São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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MARIA CELESTE SANTOS (1924-2010)

Uma filha de santo maranhense

ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO

Quando o papa João Paulo 2º visitou São Luís (MA), em 1991, Maria Celeste Santos foi escolhida para lhe entregar um presente: levou até ele uma pomba branca, símbolo do Divino Espírito Santo. Em troca, recebeu uma medalha.
Desde 1950, ela era vodunce (filha de santo) da Casa das Minas Jeje, o terreiro de tambor de mina mais antigo do Maranhão. Localizado na rua de São Pantaleão, 857, o local foi fundado no meio do século 19, por escravos.
O comando ali cabe às mulheres. São elas que, em transe, recebem os voduns, as entidades espirituais africanas.
Celeste recebia o vodum Averequete, devoto de São Benedito. Assim, ela ganhou prestígio e se tornou uma liderança na comunidade negra e religiosa da cidade.
Em São Luís, ela trabalhou como operária e, por 15 anos, viveu como empregada doméstica no Rio, onde também participava de terreiros.
Antigamente, organizava todos os anos, na Casa das Minas, a Festa do Divino.
Nos anos 90, foi à África conhecer a região onde viviam os fundadores da casa. Entoou cânticos que foram reconhecidos pelos mais idosos e repetidos em coro.
Há dois anos e meio, recebeu um marca-passo. Morreu na segunda, aos 86, de problemas cardíacos, sem deixar filhos. Foi enterrada com a medalha dada pelo papa.
Hoje, há mais três vodunces -duas atuantes. Segundo o antropólogo Sérgio Figueiredo Ferretti, autor de livros sobre o local, a casa não tem mais seguidores e corre o risco de desaparecer. Ela foi tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2005.

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