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MARIA CELESTE SANTOS (1924-2010)
Uma filha de santo maranhense
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
Quando o papa João Paulo
2º visitou São Luís (MA), em
1991, Maria Celeste Santos foi
escolhida para lhe entregar
um presente: levou até ele
uma pomba branca, símbolo
do Divino Espírito Santo. Em
troca, recebeu uma medalha.
Desde 1950, ela era vodunce (filha de santo) da Casa
das Minas Jeje, o terreiro de
tambor de mina mais antigo
do Maranhão. Localizado na
rua de São Pantaleão, 857, o
local foi fundado no meio do
século 19, por escravos.
O comando ali cabe às mulheres. São elas que, em transe, recebem os voduns, as entidades espirituais africanas.
Celeste recebia o vodum
Averequete, devoto de São
Benedito. Assim, ela ganhou
prestígio e se tornou uma liderança na comunidade negra e religiosa da cidade.
Em São Luís, ela trabalhou
como operária e, por 15 anos,
viveu como empregada doméstica no Rio, onde também participava de terreiros.
Antigamente, organizava
todos os anos, na Casa das
Minas, a Festa do Divino.
Nos anos 90, foi à África
conhecer a região onde viviam os fundadores da casa.
Entoou cânticos que foram
reconhecidos pelos mais idosos e repetidos em coro.
Há dois anos e meio, recebeu um marca-passo. Morreu
na segunda, aos 86, de problemas cardíacos, sem deixar filhos. Foi enterrada com
a medalha dada pelo papa.
Hoje, há mais três vodunces -duas atuantes. Segundo o antropólogo Sérgio Figueiredo Ferretti, autor de livros sobre o local, a casa não
tem mais seguidores e corre o
risco de desaparecer. Ela foi
tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional) em 2005.
coluna.obituario@uol.com.br
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