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INFÂNCIA
Mãe natural afirma que desistiu de dar filho para casal de professores, que alegam ter havido barriga de aluguel
Bebê com duas "mães" vai para o orfanato
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um bebê nascido em 16 de outubro no Hospital do Servidor Público Estadual já tem duas mães,
três nomes, mas, por decisão da
Justiça, vive hoje em um orfanato.
A criança nasceu com 3,37 kg e
46 cm da barriga de Maria Aparecida dos Santos, 34, desempregada, mas que já foi doméstica e faxineira. Ela diz que, durante a gravidez, foi convencida a dar seu bebê para um casal de professores
do Estado -Áureo Rodrigues Pereira de Mello Júnior, 39, e Lindalva de Lima Araújo Mello, 42.
Em vez de seguir os trâmites legais de adoção, eles decidiram
que Maria Aparecida teria seu
parto com os documentos de Lindalva. A intenção era facilitar que
a criança fosse registrada em cartório com a paternidade do casal.
O recém-nascido, em sua primeira certidão de nascimento, foi
identificado como Caio Pedro
Araújo Mello, filho de Áureo e
Lindalva. Arrependida, Maria
Aparecida revelou a história aos
enfermeiros e médicos.
"No fundo, no fundo, nunca
quis dar meu bebê. Estava com
medo de dizer isso para eles porque eles compraram cesta básica,
fizeram sacolão, deram remédio
para a minha família", diz a mãe
arrependida, que, segundo parentes e vizinhos, já chegou a dar outros dois filhos. "Quando vi meu
bebê, eu senti um aperto no coração. A gente tem dificuldade para
viver, mas, um a mais, um a menos, não vai fazer diferença."
O caso foi parar no 36º DP (Paraíso), onde os dois professores
estão sendo enquadrados no artigo 242 do Estatuto da Criança e
do Adolescente -sonegação de
estado de filiação, cuja pena varia
de dois a seis anos de reclusão.
O bebê ficou um mês no hospital, mas, por decisão da Vara Central da Infância e da Juventude,
acabou sendo levado ao abrigo
Solar da Alegria (zona leste), onde
foi batizado como Hamilton José.
Depois de receber alta médica,
Maria Aparecida registrou a
criança com outro nome
-Adriano Alexandre dos Santos.
As duas partes prometem brigar
na Justiça pela guarda de Caio,
Hamilton ou Adriano. Depois de
viver alguns dias no Solar da Alegria, ele está hoje em um orfanato
mantido pelas irmãs São Vicente
de Paula, no centro, com outras
78 crianças. O nome oficial dele
dentro da instituição é Hamilton
-embora seja mais conhecido
como "aquele dos três nomes".
Barriga de aluguel
Para ter a guarda do bebê, Áureo e Lindalva contrataram um
advogado, alegando que, por terem dificuldade para gerar um filho pelos métodos normais, fizeram uma fertilização in vitro. Maria Aparecida teria apenas cedido
sua barriga de aluguel -técnica
na qual uma mulher empresta seu
útero para implante de um óvulo
fertilizado de outra mulher.
O defensor deles, Jair Jaloreto
Júnior, pensou em pedir teste de
DNA para provar que o bebê tinha sido concebido a partir das
células reprodutoras do casal.
Mas desistiu porque Áureo e Lindalva não apresentaram provas
-não revelaram os médicos nem
as clínicas por onde passaram.
O Conselho Federal de Medicina só permite a utilização de barriga de aluguel quando há relação
de parentesco de até segundo
grau entre os envolvidos.
"Foi experiência sigilosa. Os
médicos pediram segredo absoluto", diz Áureo. "O Áureo estava
muito obstinado. Por isso os médicos resolveram ajudar, sem cobrar nada. Praticamente não tive
participação. Os médicos tiraram
meu material [óvulo" sem que eu
soubesse. O Áureo só me contou
depois de uns meses que seria
mãe de verdade", diz Lindalva.
A história é desmentida por parentes, amigos e vizinhos de Maria Aparecida, que dizem ter
acompanhado a gravidez dela e
mostram comprovantes de consultas em um pronto-socorro
municipal. O pai do recém-nascido, segundo eles, é Elton dos Santos, ex-namorado de Maria Aparecida, pai de duas crianças que
moram com ela, mas que abandonou a casa meses atrás.
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