São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2001

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Para o São Luís, regra reflete "hipocrisia"

DA REPORTAGEM LOCAL

Na contramão da tendência geral, o centenário e jesuíta Colégio São Luís condena a expulsão do aluno por uso ou porte de droga. Nas palavras do padre Guy Ruffier, 70, reitor da instituição, a medida predominante na rede é "reflexo de uma sociedade preconceituosa, fechada e hipócrita".
"É como os pais que expulsam as meninas grávidas de casa. Quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Isso mostra que os adultos querem exigir dessa juventude responsabilidades e definições que eles mesmos não têm."
O que os psicólogos denominam momento educativo, o padre chama de perdão. "Não posso expulsar o fraco. Isso seria empurrar com a barriga o problema para a sociedade. Iria contra a educação. Aqui não adotamos a lei de talião, mas a da misericórdia."
O colégio, diz padre Guy, enfrenta frequentemente os flagrantes. "Isso é comum, minha irmã." Nesses casos, costuma conversar com os alunos e, "quando é viável", com os pais. "Também há pais desequilibrados. Muitas vezes as drogas são compensação para famílias desestruturadas."
O jesuíta não descarta a possibilidade de que a posição adotada pela instituição possa levar os estudantes a questionar a autoridade da escola, mas duvida disso.
"Não acreditamos em medidas exemplares. Isso é um princípio da lei civil. A nossa lei é a da consciência. A escola é uma antecipação da vida. E educar é a arte de apertar as normas, mas aceitar os erros e acreditar nos acertos."
O forte traço religioso das diretrizes da escola acompanha também sua visão de prevenção.
"Aqui falamos de respeito, de auto-estima, de valorização da vida. Prevenção é formação de valores. Falam em palestras, em cursos, mas é o mesmo que falar em aula de trânsito e de sexo. Isso é uma besteira. Vida é mais experiência do que academicismo. Às vezes falar é pior, só aumenta a curiosidade. É melhor experimentar, errar, corrigir e perdoar."
Nas demais escolas, os valores também são a base da prevenção. Na maioria, fala-se abertamente de drogas. Em algumas, como no também religioso Santo Américo, o aluno tem garantia de sigilo -até com relação aos pais- se buscar ajuda na instituição.


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