São Paulo, quinta-feira, 01 de dezembro de 2005

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NOITE DE TERROR

Passageira afirma que imagem não sai de sua cabeça; pai de uma das vítimas lamenta ataque a pessoas "de bem"

Vi gente pegando fogo, diz sobrevivente

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Gente saltando pela janela, bola de fogo em direção aos passageiros, chutes, pontapés e desespero para abrir a porta de trás. A imagem recorrente dos passageiros que estavam no ônibus da linha 350, atacado anteontem na Penha Circular, zona norte do Rio, lembra a de um filme de terror.
Anteontem, como de costume, o passageiro H., 20, foi ao centro do Rio buscar a namorada D., 20. "Ela estava dormindo no meu ombro quando o ônibus foi parado por umas mulheres. Quando o primeiro homem entrou no ônibus e começou a gritar: "Rala, rala", achamos que fosse assalto. Todo mundo ficou quieto, sentado onde estava", relata ele.
Depois que outro homem entrou, pulou a roleta e começou a jogar o combustível no chão, os passageiros correram para a parte de trás do ônibus, relata ele.
"Uma bola de fogo veio em nossa direção. Ninguém conseguia sair. Não deu para abrir a janela de emergência e muita gente saiu de lá com cortes, além das queimaduras", afirmou ele. Já a jovem diz que a imagem de uma mulher queimando não sai de sua cabeça. "A pior cena foi a de uma mulher com o corpo todo queimado que se jogou de costas pela janela. Ela caiu na rua, toda machucada. Ver as pessoas pegando fogo é cena de filme de terror."
Foi o namorado dela quem conseguiu abrir a porta traseira. "Dei socos, chutes, estava desesperado. Chegou uma hora que consegui colocar a mão no meio da porta e abrir. Foi uma correria, todos tentando sair ao mesmo tempo."
Quando conseguiu se livrar do fogo, o medo se tornou outro. "Achamos que poderia ter um tiroteio", disse a garota, que é filha de um inspetor de polícia. O rapaz e a namorada contam que não viram ninguém armado entre os criminosos que fizeram o ataque.
Ela sofreu queimaduras nos pés. O rapaz teve ferimentos no braço esquerdo, costas e orelha.
Outro sobrevivente, um comerciante de 25 anos, lembra de ver a cobradora do ônibus tirando a roupa, para tentar se livrar das queimaduras. "Ela saiu do ônibus tirando a roupa, que estava pegando fogo. As pessoas que saíram de casa para tentar ajudar não conseguiram. Não dava para se aproximar do ônibus."

Gente de bem
O motorista particular J.M.F.E. se disse revoltado com a ação violenta contra "pessoas de bem". Ele é pai da estudante V.S.E., 21, que está internada com 60% do corpo queimado. A filha, lamentou, vai perder a formatura do curso de pedagogia, que será em duas semanas. "Sei que há muita violência no Rio, não são raros os ônibus queimados, mas não pensei que fosse sentir na pele."
O pânico também foi grande entre os moradores que presenciaram o ataque ao ônibus.
"Fui para a janela e vi o ônibus pegando fogo, com muitas labaredas. As pessoas estavam em pânico tentando quebrar os vidros e escapar. Fiquei apavorada e rezei muito. Vi na hora em que o ônibus explodiu. Essa noite eu não dormi, porque não consegui tirar as imagens da minha cabeça", disse uma operadora de telemarketing de 45 anos, que mora quase em frente ao local onde o ônibus foi incendiado.
"Vi um homem e uma mulher se debatendo no chão para tentar apagar as chamas. Todos muito queimados. Após a explosão, os fios de eletricidade da rua começaram a queimar e deu pique de luz na minha casa. Ficamos com medo que houvesse uma explosão no transformador. O cheiro na rua, depois do incêndio, era horrível", disse uma jovem.


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