|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NOITE DE TERROR
Passageira afirma que imagem não sai de sua cabeça; pai de uma das vítimas lamenta ataque a pessoas "de bem"
Vi gente pegando fogo, diz sobrevivente
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Gente saltando pela janela, bola
de fogo em direção aos passageiros, chutes, pontapés e desespero
para abrir a porta de trás. A imagem recorrente dos passageiros
que estavam no ônibus da linha
350, atacado anteontem na Penha
Circular, zona norte do Rio, lembra a de um filme de terror.
Anteontem, como de costume,
o passageiro H., 20, foi ao centro
do Rio buscar a namorada D., 20.
"Ela estava dormindo no meu
ombro quando o ônibus foi parado por umas mulheres. Quando o
primeiro homem entrou no ônibus e começou a gritar: "Rala, rala", achamos que fosse assalto. Todo mundo ficou quieto, sentado
onde estava", relata ele.
Depois que outro homem entrou, pulou a roleta e começou a
jogar o combustível no chão, os
passageiros correram para a parte
de trás do ônibus, relata ele.
"Uma bola de fogo veio em nossa direção. Ninguém conseguia
sair. Não deu para abrir a janela
de emergência e muita gente saiu
de lá com cortes, além das queimaduras", afirmou ele. Já a jovem
diz que a imagem de uma mulher
queimando não sai de sua cabeça.
"A pior cena foi a de uma mulher
com o corpo todo queimado que
se jogou de costas pela janela. Ela
caiu na rua, toda machucada. Ver
as pessoas pegando fogo é cena de
filme de terror."
Foi o namorado dela quem conseguiu abrir a porta traseira. "Dei
socos, chutes, estava desesperado.
Chegou uma hora que consegui
colocar a mão no meio da porta e
abrir. Foi uma correria, todos tentando sair ao mesmo tempo."
Quando conseguiu se livrar do
fogo, o medo se tornou outro.
"Achamos que poderia ter um tiroteio", disse a garota, que é filha
de um inspetor de polícia. O rapaz
e a namorada contam que não viram ninguém armado entre os
criminosos que fizeram o ataque.
Ela sofreu queimaduras nos pés.
O rapaz teve ferimentos no braço
esquerdo, costas e orelha.
Outro sobrevivente, um comerciante de 25 anos, lembra de ver a
cobradora do ônibus tirando a
roupa, para tentar se livrar das
queimaduras. "Ela saiu do ônibus
tirando a roupa, que estava pegando fogo. As pessoas que saíram de casa para tentar ajudar
não conseguiram. Não dava para
se aproximar do ônibus."
Gente de bem
O motorista particular J.M.F.E.
se disse revoltado com a ação violenta contra "pessoas de bem".
Ele é pai da estudante V.S.E., 21,
que está internada com 60% do
corpo queimado. A filha, lamentou, vai perder a formatura do
curso de pedagogia, que será em
duas semanas. "Sei que há muita
violência no Rio, não são raros os
ônibus queimados, mas não pensei que fosse sentir na pele."
O pânico também foi grande
entre os moradores que presenciaram o ataque ao ônibus.
"Fui para a janela e vi o ônibus
pegando fogo, com muitas labaredas. As pessoas estavam em pânico tentando quebrar os vidros e
escapar. Fiquei apavorada e rezei
muito. Vi na hora em que o ônibus explodiu. Essa noite eu não
dormi, porque não consegui tirar
as imagens da minha cabeça", disse uma operadora de telemarketing de 45 anos, que mora quase
em frente ao local onde o ônibus
foi incendiado.
"Vi um homem e uma mulher
se debatendo no chão para tentar
apagar as chamas. Todos muito
queimados. Após a explosão, os
fios de eletricidade da rua começaram a queimar e deu pique de
luz na minha casa. Ficamos com
medo que houvesse uma explosão no transformador. O cheiro
na rua, depois do incêndio, era
horrível", disse uma jovem.
Texto Anterior: Neste ano, 73 ônibus foram atacados no Rio Próximo Texto: Pasquale Cipro Neto: "E eu não vou sê-lo" Índice
|