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Acordo é bom para leitores, diz gestor de museu da língua
Para diretor da Poiesis, que administra o Museu da Língua Portuguesa, reforma é importante
Na opinião de Frederico Barbosa, 47, ao unificar grafias diferentes, reforma evita que haja mais de
uma língua portuguesa
LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor Frederico Barbosa, 47, considera a reforma ortográfica interessante, apesar
de ter estranhado ao ver um
texto seu recém-publicado com
a palavra "estreia". Ele ocupa o
cargo de diretor-executivo da
Poiesis, organização social que
administra o Museu da Língua
Portuguesa, a Casa das Rosas e
a Casa Guilherme de Almeida.
A adaptação à nova ortografia no museu deve ser concluída até o fim de 2010. Segundo o
superintendente da instituição, Antonio Carlos Sartini, já
no início deste ano os visitantes
receberão um manual com as
mudanças do Acordo.
Leia os principais trechos da
entrevista de Barbosa à Folha.
FOLHA - O que o senhor acha do
Acordo Ortográfico?
FREDERICO BARBOSA - Bom, ortografia é uma convenção, começa por aí. E sempre existem
mudanças, já houve uma série
delas. Acho que é interessante
quando essas mudanças vêm
para aproximar a língua. Acho
importante que a escrita e a fala
sejam razoavelmente conectadas, então, as mudanças que
tendem a aproximar a escrita
da fala me parecem ser bem interessantes. Eu só não concordo com a exclusão do trema.
FOLHA - Por quê?
BARBOSA - Porque é uma das
poucas coisas lógicas da língua
portuguesa. Trema é uma coisa
que tem uma lógica clara, não
há nenhuma dúvida sobre como você vai grafar uma palavra,
com trema ou sem trema, e
com a abolição disso eu não
concordo.
FOLHA - Para os editores, será melhor?
BARBOSA - [Será melhor] Para
os editores e para os leitores em
geral, porque você não terá
duas grafias diferenciadas. Isso
eu acho muito interessante, para que não haja duas línguas ou
três ou nove línguas portuguesas diferentes.
FOLHA - O sr. já passou pela reforma de 1971. Vai se adaptar a essa?
BARBOSA - Já escrevi alguns
textos que foram publicados e,
quando os vi no livro, estavam
com a nova regra. Tinha "estreia", sem acento.
FOLHA - O senhor estranhou?
BARBOSA - Estranhei. Evidentemente existe um estranhamento, uma adaptação, até na
lei não está errado escrever
"ideia" com acento até 2012.
Então, até 2012 eu estou coberto. Mas tem gente que tem mais
dificuldade mesmo.
FOLHA - A de 1971 foi mais difícil
que a de agora?
BARBOSA - É, acho que foi mais
radical mesmo. O "êle", com
acento, eu vi muita gente usando até muito tempo depois.
FOLHA - O sr. acredita que haja um
interesse da população sobre o assunto?
BARBOSA - É interessante que
se faça um esforço coletivo [para divulgar o Acordo]. O museu
mais visitado hoje é o Museu da
Língua Portuguesa. É impressionante, porque quando foi
inaugurado as pessoas falavam:
"Ai, museu da língua, ninguém
vai querer saber". Sobre o Museu do Futebol ninguém fala isso, todo mundo acha que vai
atrair multidões, e o Museu da
Língua atrai mais gente.
FOLHA - É um preconceito das pessoas terem pensado isso na época
da inauguração?
BARBOSA - Sim, claro que é. O
que mostra claramente que as
pessoas têm interesse na língua, têm interesse em aprender, têm interesse em entender
a sua própria língua. Existe esse
interesse, essa vontade das pessoas de entenderem a sua própria língua para melhorar a sua
comunicação, e até essa consciência de que a língua é como
roupa.
FOLHA - Como assim?
BARBOSA - Se você vai a uma
entrevista de emprego e fala
"nós vai fazer", acabou, né? Eu
estou falando que a língua é como roupa no sentido de que é
como você se apresenta. Então,
eu acho importante isso, que as
pessoas tenham cada vez mais
consciência de que a língua que
elas usam faz parte delas e é um
cartão de apresentação. Então,
posso estar enganado, mas
acho que essa mudança ortográfica vai ser assimilada rapidamente. Talvez seja com
maior facilidade do que a de 71,
talvez porque seja menor, mas
principalmente porque, hoje
em dia, 38 anos depois, existe
um maior interesse.
FOLHA - E nos seus livros, o senhor
já vai entrar na nova regra ou vai
deixar para a editora?
BARBOSA - Não, vou tentar, vou
tentar escrever na nova regra.
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