São Paulo, sábado, 02 de janeiro de 2010

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Terra desliza e mata ao menos 30 em Angra

Na Ilha Grande, 19 corpos foram encontrados, a maioria de turistas; no continente, deslizamentos mataram outros 11

Com os casos registrados ontem, chega a 50 o número de mortos em decorrência das chuvas que atingiram o Estado nos últimos três dias

Rafael Andrade/Folha Imagem
Bombeiros resgatam corpo de uma das vítimas do deslizamento de uma encosta na Ilha Grande, em Angra dos Reis

ITALO NOGUEIRA
RAFAEL ANDRADE
ENVIADOS ESPECIAIS A ILHA GRANDE (RJ)
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS

Ao menos 30 pessoas morreram na madrugada de ontem em Angra dos Reis (RJ) em decorrência de deslizamentos de terra. No mais grave deles, em Ilha Grande, 19 corpos de turistas e ilhéus haviam sido retirados até ontem à noite. No morro da Carioca, no centro de Angra, mais 11 pessoas morreram.
Com isso, subiu para ao menos 50 o total de mortes provocadas por chuvas no Estado do Rio nos últimos três dias.
O deslizamento em Ilha Grande de uma encosta florestada de cerca de 200 metros de altura, na enseada do Bananal, destruiu sete casas e parte da pousada Sankay, todas à beira-mar. A avalanche, às 3h30, abriu dois sulcos na mata, despejando troncos, pedras e terra sobre turistas e moradores.
Uma das casas, segundo moradores da ilha, abrigava 14 turistas de São Paulo. Apenas dois haviam sido retirados com vida dos escombros. Na pousada, três pessoas foram soterradas e 65 hóspedes foram retirados vivos -os mortos são a filha do dono do hotel, Yumi Faraci, 18, e um casal de amigos.
Das demais vítimas, apenas quatro haviam sido oficialmente identificadas: o casal Renato de Assis Repetto (idade não informada) e Ilza Maria Roland, 50, e as sobrinhas Gabriela Ribaski Repetto, 9, e Geovanna Ribaski Repetto, 12 -os pais delas estavam no quarto ao lado. Todos moravam no Rio.
Por três dias consecutivos, chovia na ilha. Estava planejada uma queima de fogos na praia, mas, por causa do mau tempo, foi cancelada. Boa parte dos visitantes dormia na hora do deslizamento. Os primeiros resgates foram feitos no escuro por moradores e turistas, já que postes caíram com a enxurrada. Com enxada e pás, eles retiraram cinco pessoas com vida.
A terra não deixou vestígios das casas destruídas, numa extensão de cerca de 70 metros. O mar ficou marrom. A praia do Bananal, com cerca de 800 metros, é destino de turistas de classe média alta. O pacote para cinco dias na virada do ano custou em média R$ 6.500. Boa parte dos moradores do Bananal descende de japoneses, que comandavam antigas fábricas de sardinha, hoje desativadas.
À beira da casa para onde os corpos eram levados, um grupo de 20 moradores assistia os trabalhos. A maioria dos 19 corpos já resgatados era de turistas. Os bombeiros estimavam que havia ainda 25 desaparecidos.
O vice-governador, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e o secretário de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, acompanharam as buscas. O governador Sérgio Cabral (PMDB) não apareceu. Uma retroescavadeira foi emprestada por um estaleiro de Angra. Uma lancha da mineradora Vale apoiou a ação.
No continente, o deslizamento no morro da Carioca destruiu 80 casas. Além das 11 mortes, haveria 17 desaparecidos, segundo moradores. Eles relataram a morte de dez pessoas de uma mesma família, que moravam em três casas contíguas -a matriarca Eduarda Narciso, 74, os filhos João Joaquim e Sebastião, a nora Fátima e seis netos. "Foi uma tragédia muito grande. Minha mãe era a moradora mais antiga daqui, querida por todos", disse Ana Cláudia Narciso.
Segundo os moradores, foi a primeira vez em 20 anos que a terra cedeu no morro. Em 2002, deslizamentos mataram 40 pessoas na cidade.
O prefeito de Angra dos Reis, Tuca Jordão (PMDB), decretou luto por três dias e cancelou a programação do final de ano, entre elas a tradicional procissão marítima que aconteceria ontem. A festa pelos 508 anos de Angra, no próximo dia 6, também foi cancelada.
Yumi, a filha do dono da pousada Sankay, Geraldo Oliveira, foi criada na Ilha Grande, mas morava em Belo Horizonte e cursava arquitetura na UFMG. Ela tinha uma página no MySpace, onde postava músicas suas. No You Tube, postou vídeos de suas interpretações ao violão. Na comunidade da pousada no Orkut, amigos lamentavam sua morte.
Cinco pontos da rodovia Rio-Santos foram bloqueados por outros deslizamentos, mas liberados parcialmente ao tráfego a partir das 13h30.


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