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Terra desliza e mata ao menos 30 em Angra
Na Ilha Grande, 19 corpos foram encontrados, a maioria de turistas; no continente, deslizamentos mataram outros 11
Com os casos registrados ontem, chega a 50 o número de mortos em decorrência das chuvas que atingiram o Estado nos últimos três dias
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Bombeiros resgatam corpo de uma das vítimas do deslizamento de uma encosta na Ilha Grande, em Angra dos Reis
ITALO NOGUEIRA
RAFAEL ANDRADE
ENVIADOS ESPECIAIS A ILHA GRANDE (RJ)
PEDRO SOARES
ENVIADO ESPECIAL A ANGRA DOS REIS
Ao menos 30 pessoas morreram na madrugada de ontem
em Angra dos Reis (RJ) em decorrência de deslizamentos de
terra. No mais grave deles, em
Ilha Grande, 19 corpos de turistas e ilhéus haviam sido retirados até ontem à noite. No morro da Carioca, no centro de Angra, mais 11 pessoas morreram.
Com isso, subiu para ao menos 50 o total de mortes provocadas por chuvas no Estado do
Rio nos últimos três dias.
O deslizamento em Ilha
Grande de uma encosta florestada de cerca de 200 metros de
altura, na enseada do Bananal,
destruiu sete casas e parte da
pousada Sankay, todas à beira-mar. A avalanche, às 3h30,
abriu dois sulcos na mata, despejando troncos, pedras e terra
sobre turistas e moradores.
Uma das casas, segundo moradores da ilha, abrigava 14 turistas de São Paulo. Apenas dois
haviam sido retirados com vida
dos escombros. Na pousada,
três pessoas foram soterradas e
65 hóspedes foram retirados
vivos -os mortos são a filha do
dono do hotel, Yumi Faraci, 18,
e um casal de amigos.
Das demais vítimas, apenas
quatro haviam sido oficialmente identificadas: o casal Renato
de Assis Repetto (idade não informada) e Ilza Maria Roland,
50, e as sobrinhas Gabriela Ribaski Repetto, 9, e Geovanna
Ribaski Repetto, 12 -os pais
delas estavam no quarto ao lado. Todos moravam no Rio.
Por três dias consecutivos,
chovia na ilha. Estava planejada uma queima de fogos na
praia, mas, por causa do mau
tempo, foi cancelada. Boa parte
dos visitantes dormia na hora
do deslizamento. Os primeiros
resgates foram feitos no escuro
por moradores e turistas, já que
postes caíram com a enxurrada. Com enxada e pás, eles retiraram cinco pessoas com vida.
A terra não deixou vestígios
das casas destruídas, numa extensão de cerca de 70 metros. O
mar ficou marrom. A praia do
Bananal, com cerca de 800 metros, é destino de turistas de
classe média alta. O pacote para
cinco dias na virada do ano custou em média R$ 6.500. Boa
parte dos moradores do Bananal descende de japoneses, que
comandavam antigas fábricas
de sardinha, hoje desativadas.
À beira da casa para onde os
corpos eram levados, um grupo
de 20 moradores assistia os trabalhos. A maioria dos 19 corpos
já resgatados era de turistas. Os
bombeiros estimavam que havia ainda 25 desaparecidos.
O vice-governador, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, e o secretário de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, acompanharam as buscas. O governador
Sérgio Cabral (PMDB) não apareceu. Uma retroescavadeira
foi emprestada por um estaleiro de Angra. Uma lancha da mineradora Vale apoiou a ação.
No continente, o deslizamento no morro da Carioca
destruiu 80 casas. Além das 11
mortes, haveria 17 desaparecidos, segundo moradores. Eles
relataram a morte de dez pessoas de uma mesma família,
que moravam em três casas
contíguas -a matriarca Eduarda Narciso, 74, os filhos João
Joaquim e Sebastião, a nora Fátima e seis netos. "Foi uma tragédia muito grande. Minha
mãe era a moradora mais antiga daqui, querida por todos",
disse Ana Cláudia Narciso.
Segundo os moradores, foi a
primeira vez em 20 anos que a
terra cedeu no morro. Em
2002, deslizamentos mataram
40 pessoas na cidade.
O prefeito de Angra dos Reis,
Tuca Jordão (PMDB), decretou
luto por três dias e cancelou a
programação do final de ano,
entre elas a tradicional procissão marítima que aconteceria
ontem. A festa pelos 508 anos
de Angra, no próximo dia 6,
também foi cancelada.
Yumi, a filha do dono da pousada Sankay, Geraldo Oliveira,
foi criada na Ilha Grande, mas
morava em Belo Horizonte e
cursava arquitetura na UFMG.
Ela tinha uma página no
MySpace, onde postava músicas suas. No You Tube, postou
vídeos de suas interpretações
ao violão. Na comunidade da
pousada no Orkut, amigos lamentavam sua morte.
Cinco pontos da rodovia Rio-Santos foram bloqueados por
outros deslizamentos, mas liberados parcialmente ao tráfego a partir das 13h30.
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