São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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FOCO

Ex-flanelinha vira salva-vidas de praia nobre

Depois de dez anos ganhando trocados dos motoristas, jovem consegue vaga cobiçada

ALENCAR IZIDORO
ENVIADO AO LITORAL PAULISTA

Durante dez anos da infância e adolescência, Tiago Moura Silva, 18, passou os dias dizendo "posso olhar" e pedindo "um trocado" de motoristas que estacionavam seus carros na rua de terra que margeia a praia da Baleia, no litoral norte de SP.
A partir desta temporada, são os mesmos frequentadores desse ponto nobre de São Sebastião (a 191 km de São Paulo) que deverão pedir a ajuda do ex-flanelinha.
O antigo guardador de carro passou por treinamento e assumiu nas últimas semanas a cobiçada função de salva-vidas da mesma praia.
Prepara-se agora para socorrer no mar da Baleia talvez os mesmos motoristas que olhavam meio torto ou lhe negaram alguma moeda de uma década para cá.
"No treinamento, 30 passaram. O primeiro a ser chamado fui eu", diz Silva, orgulhoso da nova atribuição -ainda temporária, mas pelo verão inteiro, com salário de R$ 1.000 por mês.
A mudança na maneira como ele passou a ser rotulado se tornou ainda mais simbólica pelo local de trabalho.
Rodeada por casas de luxo, a Baleia é um ponto disputado não só entre os turistas -mas também entre quem quer trabalhar em praias do norte paulista.
Ser salva-vidas por lá significa ter a melhor infra-estrutura possível à disposição, bancada pela associação de moradores e proprietários.
Não é preciso sair aos berros para pedir auxílio: todos têm seu próprio rádio. Os equipamentos para socorro dos turistas afogados no mar não se limitam a coletes, nadadeiras ou boias -por lá existe inclusive um jet ski à disposição dos salva-vidas.
"O Tiago aqui sempre foi de confiança, até porque a gente identifica os guardadores da rua para ter mais segurança", diz Eduardo Nunes, coordenador da Sabaleia (sociedade de moradores).

AMIZADE
Tiago Moura Silva conta que começou a guardar carro na Baleia com apenas oito anos, ainda criança, na companhia de outros amigos.
Costumava ganhar de R$ 1 a R$ 2 por veículo, mas garante que não exigia nada. "Só pagava quem queria."
Ao longo dos anos, admirador do trabalho dos salva-vidas da praia, fez amizade com eles e, enquanto olhava um carro aqui e outro ali, pegava as dicas da profissão.
"Cresci com eles. Daí acabaram me treinando. Na reta final, fiz um curso bem puxado de 15 dias", diz Silva.
O estágio realizado em Camburi antes de passar a trabalhar na Baleia foi agitado. Teve que ajudar a socorrer quatro garotos. "Mas aqui na Baleia espero que seja mais calmo", afirmava ele antes do começo do verão.


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