São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Políticas têm de acompanhar dinâmica da criminalidade

PAULA MIRAGLIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 2007 visitei a Comuna 13, um dos bairros mais violentos de Medellín. A similaridade com as comunidades cariocas chamou a atenção.
A topografia e a diversidade eram os dados mais óbvios, mas relatos dos moradores sobre a violência em seu cotidiano, os esforços para superá-la e os estigmas que ela carrega evocavam o Rio de maneira constante.
Medellín tem um padrão de urbanização que lembra centros urbanos brasileiros: desorganizado, produto e produtor de desigualdades.
Somado à presença de grupos criminosos paramilitares e à grande difusão de armas, a cidade sofreu por muito tempo com altos índices de criminalidade e violência.
Administrações municipais vêm promovendo intervenções urbanas variadas para reverter esse quadro.
Um dos programa mais bem sucedidos foi a construção de bibliotecas públicas. São prédios com projetos arquitetônicos premiados e uma programação destinada a atender um público variado, capaz de fazer das bibliotecas verdadeiros espaços de interação e convivência.
Também faz parte dessa lista o "metrô cable", um desdobramento do sistema de transporte público, que liga os morros de Medellín.
Somadas ao processo de paz conduzido pela governo nacional, tais intervenções foram responsáveis pela queda no número de homicídios.
Mas, nos últimos anos, Medellín assiste à volta do crescimento dos homicídios. A história que combina políticas bem sucedidas com a volta da violência traz lições.
Intervenções urbanas contribuem de maneira vital. Fica claro que a mobilidade e o acesso à cidade são fundamentais. No caso do Rio, superar a cisão entre favela e asfalto é uma etapa essencial ao processo de pacificação.
Além disso, políticas que valorizem os espaços públicos podem contribuir para a redução da criminalidade.
Mas a volta do crescimento dos homicídios evidencia que a criminalidade é fenômeno dinâmico. As políticas, portanto, têm de ser capazes de acompanhar mudanças e vislumbrar o longo prazo.
Fica claro que intervenções tópicas têm limitações. Em algum momento, o Rio terá de fazer transformações estruturais. Elas são a única forma de garantir estabilidade à redução da violência.

PAULA MIRAGLIA é diretora-geral do Centro Internacional para a Prevenção do Crime (ICPC, na sigla em inglês)


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