|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Anestésico "da USP" está à venda
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
O primeiro anestésico brasileiro, criado no Laboratório de
Anestésicos Locais e de Estudo da
Dor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, está à venda e
ganhará até março duas versões
que permitirão o uso também no
pós-operatório e na oftalmologia.
A universidade e a pesquisadora
que inventou o anestésico, a médica anestesiologista e professora
de farmacologia da USP Maria
dos Prazeres Barbalho Simonetti,
62, devem receber em 20 dias o
primeiro retorno financeiro com
a venda do produto.
Batizado inicialmente de simocaína, por causa do sobrenome da
pesquisadora, o anestésico (injetável e de uso hospitalar) ganhou
o nome de novabupi -a matéria-prima do estudo foi a bupivacaína, um dos anestésicos de uso local mais utilizados no mundo.
Em 2001, aFolha noticiou a descoberta, que ainda era uma promessa. Ficou comprovado que o
anestésico começa a fazer efeito
antes dos outros, dura mais tempo e tem menos efeitos colaterais.
Folha - A sra. diz que o anestésico
nasceu de uma idéia simples.
Maria Simonetti -O anestésico
bloqueia o caminho da dor, é uma
barreira que não deixa o trem
chegar à estação, que é o cérebro.
Na anestesia regional [local], a
agulha pode atingir um vaso sanguíneo, por erro médico. O anestésico não discrimina se é nervo
ou coração e pode fazer o trem
parar no coração, causando uma
parada cardíaca muitas vezes irreversível. A bupivacaína é o mais
eficiente dos anestésicos, mas, ao
mesmo tempo, extremamente tóxica para o coração.
Já se sabia que o anestésico era
formado por dois tipos de substância e que só uma delas era
ruim. Já tinham tentado usar só a
parte boa, mas só com ela o anestésico fica fraco. Em uma noite de
insônia, tive a idéia de colocar
75% da parte boa e 25% da ruim.
É incrivelmente simples, mas ninguém havia pensado nisso antes.
Isso dá uma boa anestesia, sem os
mesmos riscos para o coração.
Folha - O medicamento está sendo vendido com sucesso?
Simonetti -Não temos números,
mas devemos receber a primeira
parcela de royalties daqui a 20
dias. A patente ainda não saiu, é
um processo demorado, mas a
USP cedeu os direitos de comercialização ao laboratório Cristália,
que é genuinamente nacional.
Deram o nome de novabupi,
meu nome caiu fora. Mas o importante é que isso vai ser revertido em dinheiro para pesquisa no
Laboratório de Anestésicos Locais e de Estudo da Dor. O invento
perdeu o nome, mas não perdeu a
dignidade nem a eficácia.
Folha - Quais têm sido os usos do
seu anestésico?
Simonetti -Há vários trabalhos
sendo feitos, mostrando novas
aplicações, como na odontologia.
Mas aí já saí de campo, não é mais
comigo. Sou cientista, não mexo
com o "bicho-homem", só mexo
com o "bicho-rato".
Texto Anterior: "Minha terapia eu faço namorando" Próximo Texto: Plantão médico - Julio Abramczyk: Estudos sobre reprodução começaram no século 18 Índice
|