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BARBARA GANCIA
Coisinha tão bonitinha do pai
Empresas que usam a Lei Rouanet para patrocinar artistas consagrados deveriam ser boicotadas
QUANDO DIGO que artista bom
é artista de boca aberta para
cantar e recitar e bem zipada
na hora de exprimir opinião política,
o pessoal diz que sou ranzinza.
Pois, como se não bastasse aquele
evento deplorável no Rio, no ano
passado, em que um bando de desajuizados das artes cênicas e da MPB
se reuniu para defender a Varig
(sim, aquela mesma Varig que sempre cobrou tarifas estratosféricas do
consumidor tapuia, que pagava salários muito acima das médias internacionais e que por anos deteve o
monopólio das rotas internacionais
e, mesmo assim, acabou no buraco),
agora descobrimos que a Lei Rouanet está sendo usada para incentivar
artistas mais do que estabelecidos.
Diga-me, dileto leitor: você acredita que a Maria Bethânia ou a Ana Carolina precisam se beneficiar de incentivos fiscais? Na sua opinião, a
Daniela Mercury merece ficar com o
tutu que você sua a testa para ganhar? Se você respondeu com um
sonoro "não" às duas perguntas,
atente ao que diz a reportagem do
ilustre colega Jotabê Medeiros, publicada nesta semana no Estadão:
"Para fazer sua turnê por Rio e São
Paulo, Ana Carolina requisitou R$
843 mil à Lei Rouanet, e conseguiu
captar R$ 700 mil. Os ingressos para
seu show custavam R$ 120. Daniela
Mercury levantou R$ 814 mil da Lei
Rouanet para fazer 12 apresentações. O show Brasileirinho 2, de Maria Bethânia, pediu R$ 1 milhão e já
conseguiu captar R$ 300 mil. Beth
Carvalho festejou seus 60 anos com
uma festa no Teatro Castro Alves
em Salvador, com diversos artistas
convidados e no qual gravou um
DVD e um CD comemorativos. Para
tanto, pediu R$ 1,6 milhão e conseguiu captar R$ 1,3 milhão pelo sistema de renúncia fiscal". Confesso
que meu queixo caiu e rolou para
baixo da poltrona quando li o texto.
Pela graça de Deus, não conheço
muito de MPB, meu negócio sempre
foi rock e jazz. Mas, vem cá: a Beth
Carvalho não é aquela sambista da
antiga que fala sempre em nome dos
pobres e se diz comunista? E a Daniela Mercury não é aquela artista
dançante que canta sempre a mesma música e fala de amor ao próximo com um largo sorriso nos lábios?
Por que elas precisam do nosso dindim para fazer shows e gravar CDs e
DVDs comemorativos? A Lei Rouanet não deveria servir para incentivar novos talentos?
Se vivêssemos em um país minimamente civilizado, a parcela mais
instruída da população já teria se
mobilizando para boicotar as empresas que usam da Lei Rouanet para patrocinar artistas consagrados e
depois descontar do imposto de renda. Como não vivemos, além de pagar pelos impostos não arrecadados,
ainda somos submetidos aos palpites políticos de uma classe artística
que só pensa no próprio umbigo. Ô,
coisinha tão mixinha do pai! Viva o
John Coltrane, viva o Pink Floyd!
Homenagem
O governador Serra não foi ao enterro da sétima vítima engolida pela cratera do metrô, também conhecida como buraco da Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz
Galvão, OAS e Andrade Gutierrez.
Acontece que nas vestes do office-boy Cícero foram encontrados dez
papelotes de cocaína. Eu pergunto:
traficante ou não, Cícero -e, por
extensão, sua família-, não são tão
vítimas quanto os outros?
barbara@uol.com.br
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