São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Carnaval 2008

Polícia do Rio apura verba de escolas

Para polícia, 4 de 12 escolas usam dinheiro ilegal; Mangueira será investigada na semana que vem

Só Portela, São Clemente e Porto da Pedra sobreviveriam com verba oficial; as demais misturariam dinheiro legal e ilegal; escolas negam

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

Se a quarta-feira será de Cinzas, a quinta-feira poderá ser negra, ao menos para a Mangueira. Na próxima semana, os "livros-caixas" da escola serão analisados pelo 17ª DP (São Cristóvão), responsável por apurar suspeita de envolvimento de diretores da escola com traficantes de drogas.
Segundo a polícia, das 12 agremiações do Grupo Especial do Rio, 4 têm bicheiros como "patronos" -Beija-Flor, Imperatriz Leopoldinense, Grande Rio e Viradouro. Três sobrevivem apenas com a verba da subvenção oficial da prefeitura e do Estado -Portela, São Clemente e Porto da Pedra.
As outras cinco (Mangueira, Unidos de Vila Isabel, Unidos da Tijuca, Salgueiro e Mocidade Independente) misturam dinheiro de contravenção, subvenção e patrocínios.
Polícias Civil e Federal investigam uso das escolas para lavar dinheiro. Cada desfile custa entre R$ 5 milhões e R$ 8 milhões -custo sem precisão dado pelas escolas. Para investigadores, desorganização contábil, corrupção e desinformação de dirigentes facilitam esse crime.
Na Mangueira, a polícia quer saber a origem do dinheiro que pagou a construção de camarotes e formou a quadra, na zona norte, e se os gastos são compatíveis com a arrecadação. O vínculo com quadrilha que controla o tráfico no morro da Mangueira é investigado após operação da PF, em novembro.

Padrinhos
"Alô, papai!. A família Beija-Flor te ama", afirma o intérprete Neguinho da Beija-Flor, antes de iniciar o samba da escola na gravação deste ano. "Papai" é o contraventor Aniz Abra hão David, o Anísio, preso na operação Hurricane (furacão, em inglês) da PF, sob acusação de envolvimento com a máfia de caça-níqueis, permanece presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis, na baixada fluminense, a campeã do ano passado.
Anísio é ainda "patrono"" da Grande Rio, em Duque de Caxias, também na baixada. O presidente de honra da escola, Jaider Soares, tem total autonomia, mas a maior parte do financiamento da Grande Rio é custeado por Anísio.
Luiz Pacheco Drumond, o Luizinho Drumond, já condenado e preso por ligação com o jogo do bicho, está à frente da Imperatriz Leopoldinense, da região de Ramos e do morro do Alemão (zona norte).
Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, também preso na Hurricane, e ex-presidente da Liesa (Liga das Escolas de Samba), é o padrinho da Unidos do Viradouro.

Dificuldades
Desde 2004, com as mortes dos bicheiros Miro Garcia, o Miro, e de seu filho, Waldemir Paes Garcia, a Salgueiro passa dificuldades. Filho de Miro e irmão de Maninho, Alcebíades Paes Garcia, o Bid, não se entende com o presidente Luiz Augusto Duran, o Fu. A conseqüência é redução da verba. Na Mocidade Independente, a morte em 1997 do bicheiro Castor de Andrade a deixou sem patrono e levou a disputa familiar, reduzindo investimentos.
A Portela, de Madureira (zona norte), a São Clemente, em Botafogo (zona sul), e a Porto da Pedra, em São Gonçalo (região metropolitana do Estado), seriam as únicas a custear o carnaval só com verba da subvenção oficial. A Portela até 2004 era patrocinada pelo bicheiro Carlos Teixeira Martins, o Carlinhos Maracanã, morto.


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