São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jovens são condenados por agredir doméstica

A maior pena é de sete anos e quatro meses de reclusão; os outros três rapazes cumprirão pena em regime semi-aberto

Decisão é de 1ª instância; na sentença, juiz lembrou o caso do índio Galdino -morto, em 97, por "um grupo de rapazes" que também só queria "zoar"

MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO

A Justiça do Rio condenou os cinco acusados de roubar e agredir a doméstica Sirlei Dias de Carvalho, 32, em julho de 2007. Um deles foi condenado a sete anos e quatro meses de reclusão. Os outros cumprirão pena em regime semi-aberto (só dorme na prisão).
A decisão foi em primeira instância e os acusados vão recorrer pela diminuição da sentença. Já o Ministério Público Estadual vai recorrer pedindo o aumento de pena.
Sirlei foi espancada em junho de 2007, num ponto de ônibus na Barra, zona oeste do Rio, onde trabalhava. Na madrugada de 23 de junho, os jovens desceram de um Gol, arrancaram a bolsa dela, que tinha um celular e R$ 47, e a chutaram. Um taxista anotou a placa, o que permitiu que os jovens fossem localizados. Na delegacia, eles teriam dito que a confundiram com uma prostituta.
A doméstica se disse "revoltada" com a sentença (leia entrevista ao lado). O pai dela, porém, teve uma reação oposta: acredita que os jovens já ficaram presos tempo demais.
O juiz Jorge Luiz Le Cocq D'Oliveira, da 38ª Vara Criminal, condenou em primeira instância Rodrigo dos Santos Bassalo, 21, a sete anos e quatro meses de reclusão em regime inicial fechado e ao pagamento de 80 dias-multa. Ele pegou a maior pena por já responder a processo por assalto, segundo o Ministério Público.
Leonardo Pereira de Andrade foi condenado a seis anos e oito meses de reclusão em regime fechado. Julio Junqueira Ferreira, a seis anos e oito meses no regime inicial semi-aberto. Ambos deverão pagar 60 dias-multa. Felippe de Macedo Nery Netto, que dirigia o carro e está em liberdade desde agosto após obter uma liminar, e Rubens Pereira Arruda Bruno foram condenados a seis anos de reclusão em regime inicial semi-aberto e ao pagamento de 40 dias-multa (dois salários mínimos por dia).
Eles foram acusados por roubo e lesão corporal leve. Na sentença, o juiz disse que a "retirada da bolsa foi obtida através de uma violência brutal, desmedida, incompreensível mesmo". E lembrou o caso de Galdino dos Santos que foi incendiado e morto em Brasília em 1997, onde "um grupo de rapazes também só queria "zoar" um índio".
Para o pai de Sirlei, o pedreiro Renato Carvalho, 55, eles já ficaram tempo suficiente na cadeia. Carvalho espera que eles consigam apagar essa "parte obscura da vida deles" e que esse caso sirva de exemplo para outros jovens. "Só vai revoltá-los mais se eles ficarem mais tempo presos. Espero que eles se recuperem. A Justiça fez o que tinha que ser feito."
O advogado de Sirlei, Ricardo Mariz, disse que entrará como uma ação cível pedindo uma indenização de R$ 300 mil.
O advogado de Rodrigo Bassalo, Fábio Dias, disse que considera a pena alta e vai recorrer por considerar que o processo tem uma série de erros.
Jorge Vacite Filho, advogado de Felippe de Macedo Nery, considerou a pena "rancorosa" e desproporcional. Segundo o advogado, Felippe não desceu do carro, o que teria sido confirmado pelos outros jovens. "Eu tenho a impressão que infelizmente a sentença da mídia prevaleceu. Uma imprensa mal preparada que explorou o caso e deram uma dimensão que ele não tinha", disse.
A advogada de Julio Junqueira Ferreira, Fernanda Freixinho, disse que já recorreu ontem. Os advogados de Rubens Arruda Bruno e Leonardo Pereira de Andrade não foram encontrados pela reportagem.


Texto Anterior: Sem cinto, passageiros do banco de trás sofrem mais fraturas em ossos do rosto
Próximo Texto: "Acho que foi pouco", afirma mulher agredida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.