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Beto Carrero, 70 anos de história do caubói brasileiro
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Por décadas a fio raramente
se viu João Batista Sérgio Murad sem o chapéu e a indefectível roupa de caubói -"em
público, mesmo, jamais". Certa vez uma mulher insistiu
tanto para provar o chapéu
branco de abas largas que ele,
para não ser deselegante, acabou tirando-o da cabeça. Mas
foi apenas por um momento
-desses raros, de vulnerabilidade.
Quem visse o empresário
em seu show no quinto maior
parque temático do mundo ao
som do jingle do chicote estalando no ar, ou domando tigres e leões somente com a
força dos braços -ou ainda
montando o cavalo Faísca,
arisco de mentirinha, "para
salvar mocinhas do mal" -,
não imaginava que o "caubói
destemido" tivesse chegado
aos 70 anos. Nem parecia.
A imagem de forte valente
ele cultivara desde cedo. Nasceu menino pobre, filho de
"agregados" de uma fazenda
em São José do Rio Preto, no
interior de São Paulo. Tempos
em que ia a cavalo até as cidades vizinhas vender o leite das
poucas vacas da família. "Era
já um peãozinho."
Dizem os amigos do parque,
lembrando das histórias que
contava, que "muito apanhou
da mãe" por rasgar as roupas
novinhas para se fantasiar de
Zorro. Era fã do herói a cavalo,
que acompanhava pelos quadrinhos velhos que chegavam
nas suas mãos no interior.
Desde sempre trabalhou
muito e estudou pouco. Aos
18, tentou o rádio e a música
sertaneja e quis até promover
rodeios. Mas foi na capital, como vendedor de anúncios de
jornal, que achou a sua profissão. Abriu sua agência publicitária, ganhou clientes de peso
e acabou ficando rico. Ao menos, rico o suficiente.
Havia, porém, "um personagem latente", dos tempos
em que se vestia de Zorro, que
ele sabia rentável. Aperfeiçoado entre colegas de idéias, o
caubói Beto Carrero -homenagem ao pai, que tinha carro
de bóis -, surgiu como protagonista do novo "circo mambembe". E saíram Brasil afora,
salvando mocinhas e aterrorizando ladrões.
O sucesso da agência e do
personagem, o preço baixo
dos terrenos no litoral de Santa Catarina, onde foi morar, e
o cansaço com a atividade
mambembe o fizeram tomar a
decisão: investir em um parque temático, focado no caubói destemido, na desconhecida cidade de Penha (SC).
No dia 28 de dezembro de
1991, o parque abriu as portas
para o público com o show de
Beto Carrero dançando o jingle já conhecido. "Na época,
dia de sol era poeira, de chuva
era lama." Mas o público e o
parque cresceram, e Carrero
virou celebridade -fez até filmes com Os Trapalhões e Xuxa e participou de novela.
"Arredio com os médicos",
sentia há tempos dores no peito. Morreu ontem em São
Paulo, após complicações de
uma cirurgia no coração. Homenagens virão para o homem e o personagem. Do aeroporto catarinense, o corpo
foi levado ao local do velório,
pela viúva, os três filhos e um
cortejo de caubóis com o velho cavalo Faísca.
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