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INCULTA & BELA
O velho "condicional"
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
Na própria quinta-feira da
semana passada, vários leitores mandaram mensagens que
pediam a sequência da história: por que as pessoas mais velhas chamam o futuro do pretérito de "condicional"?
De fato, esse era o nome. Em
seu "Dicionário de Questões
Vernáculas", o professor Napoleão Mendes de Almeida afirma que "a designação "futuro
do pretérito", em vez da sempre
usada em nossa pátria, como o
é em outros idiomas, "condicional", é expressão terminológica
da gramática espanhola, de
autoria de um professor de espanhol do Dom Pedro II do
Rio, imposta ao magistério
brasileiro por simples portaria
de 1959".
O nome "condicional" é de
assimilação certamente mais
fácil. Quando se diz "Viveríamos melhor se o país investisse
fortemente em educação", percebe-se que a forma "viveríamos" está atrelada a uma condição, expressa por verbo no
subjuntivo ("investisse").
Já o nome "futuro do pretérito" para muitos parece a própria falta de senso. Futuro do
passado? Como?
Vejamos se faz sentido o bendito nome. Analise esta frase:
"Ele nem imaginava que seria
obrigado a passar por isso". A
forma verbal "seria", do futuro
do pretérito, indica fato futuro
em relação a "imaginava", que
está no passado, mais precisamente no pretérito imperfeito
do indicativo. Entendeu por
que "futuro do passado"?
Veja outra frase: "Dias depois, ele tomaria a decisão".
"Tomaria", do futuro do pretérito, indica fato futuro em relação ao tempo (passado) em
que se dá a narrativa. Detalhe:
isso só é verdadeiro se de fato o
personagem, dias depois, tiver
tomado a tal decisão.
Se essa frase estivesse num
outro contexto, em que um
narrador expusesse o fluxo de
consciência do personagem (a
que se dá o nome de "discurso
indireto livre"), o futuro do
pretérito poderia simplesmente
indicar que o personagem estaria "empurrando com a barriga" a tomada de decisão, que
pode ter ocorrido ou não.
Em "Vidas Secas", Graciliano Ramos trabalha como ninguém esse recurso ao expor o
fluxo de consciência de Fabiano, que, descobrindo-se lesado,
promete-se atitudes que não
seriam tomadas.
Entramos no terreno dos valores periféricos dos tempos
verbais, assunto que já discutimos parcialmente em outras
colunas. Sob esse aspecto, o futuro do pretérito talvez mereça
mais algumas linhas. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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