São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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SAÚDE

Norte e Nordeste que têm quase 50% dos portadores de deficiência em situação de pobreza recebem 19% da verba federal

Governo trata deficientes de forma desigual

SILVANA DE FREITAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União) em um programa federal de assistência a portadores de deficiência que estão abaixo da linha de pobreza revelou profundas distorções na distribuição dos recursos.
Um exemplo claro disso é que, em 2003, São Paulo recebeu 19,46% do total da verba liberada para o programa (para uma população alvo de 574 mil), enquanto o Maranhão ficou com 0,33% (para atender 572 mil).
Em outro exemplo, quase metade das pessoas que poderiam ser atendidas mora no Norte e no Nordeste, mas essas regiões só receberam 19% do dinheiro. Já São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e R. de Janeiro ficaram com 52% da verba, apesar de só terem 18% dos beneficiários potenciais.
Para o TCU, a má distribuição decorre da falta de estrutura das regiões mais pobres para captar os recursos federais, particularmente a inexistência de entidades sem fins lucrativos aptas a executar o programa, uma falha antiga, mas que o governo do PT ainda não conseguiu sanar.
A auditoria foi feita no programa Ação de Atendimento à Pessoa Portadora de Deficiência em Situação de Pobreza, pelo qual o governo atendeu no ano passado 160 mil pessoas, segundo o TCU, com o repasse de R$ 76,2 milhões. A população-alvo é estimada em 7,8 milhões de pessoas.
São portadores de deficiência que têm renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo (R$ 120 em valores atuais) e enfrentam adversidades, como violência familiar. As 160 mil pessoas atendidas em 2003 correspondem a 2,05% do total de beneficiários potenciais no país.
O Brasil tem 24,5 milhões de portadores de deficiência (14,5% da população), incluídos os que têm perda auditiva ou visual e incapacidade de locomoção, segundo o Censo de 2000. O programa não atende os que têm as deficiências consideradas mais leves.
Os recursos são liberados a Estados e prefeituras, mediante convênios, e a entidades assistencialistas, sem fins lucrativos.
O governo concorda com o TCU que uma das causas da má distribuição é que a rede usada para prestação do serviço é herdada da extinta LBA (Legião Brasileira de Assistência) e está até hoje concentrada no Sudeste e no Sul.
Outro motivo é que não existem conselhos de defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência nos Estados das regiões mais pobres. Dos 87 conselhos existentes no país (estaduais e municipais), 66 (75%) estão na região Sudeste. Na região Norte, não existe nenhum em funcionamento. Rondônia criou um oficialmente, mas ainda não o instituiu de fato.
Para 2004, segundo o TCU, estão previstos R$ 70,5 milhões, menos que os R$ 76,2 milhões gastos no ano passado. O governo pretende ampliar o atendimento de 160 mil para 166 mil pessoas.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, houve dinheiro extra para o programa em 2003, elevando o valor para R$ 84,5 milhões.


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