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SAÚDE
Norte e Nordeste que têm quase 50% dos portadores de deficiência em situação de pobreza recebem 19% da verba federal
Governo trata deficientes de forma desigual
SILVANA DE FREITAS
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Auditoria do TCU (Tribunal de
Contas da União) em um programa federal de assistência a portadores de deficiência que estão
abaixo da linha de pobreza revelou profundas distorções na distribuição dos recursos.
Um exemplo claro disso é que,
em 2003, São Paulo recebeu
19,46% do total da verba liberada
para o programa (para uma população alvo de 574 mil), enquanto o Maranhão ficou com 0,33%
(para atender 572 mil).
Em outro exemplo, quase metade das pessoas que poderiam ser
atendidas mora no Norte e no
Nordeste, mas essas regiões só receberam 19% do dinheiro. Já São
Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná
e R. de Janeiro ficaram com 52%
da verba, apesar de só terem 18%
dos beneficiários potenciais.
Para o TCU, a má distribuição
decorre da falta de estrutura das
regiões mais pobres para captar
os recursos federais, particularmente a inexistência de entidades
sem fins lucrativos aptas a executar o programa, uma falha antiga,
mas que o governo do PT ainda
não conseguiu sanar.
A auditoria foi feita no programa Ação de Atendimento à Pessoa Portadora de Deficiência em
Situação de Pobreza, pelo qual o
governo atendeu no ano passado
160 mil pessoas, segundo o TCU,
com o repasse de R$ 76,2 milhões.
A população-alvo é estimada em
7,8 milhões de pessoas.
São portadores de deficiência
que têm renda familiar per capita
inferior a meio salário mínimo
(R$ 120 em valores atuais) e enfrentam adversidades, como violência familiar. As 160 mil pessoas
atendidas em 2003 correspondem
a 2,05% do total de beneficiários
potenciais no país.
O Brasil tem 24,5 milhões de
portadores de deficiência (14,5%
da população), incluídos os que
têm perda auditiva ou visual e incapacidade de locomoção, segundo o Censo de 2000. O programa
não atende os que têm as deficiências consideradas mais leves.
Os recursos são liberados a Estados e prefeituras, mediante convênios, e a entidades assistencialistas, sem fins lucrativos.
O governo concorda com o
TCU que uma das causas da má
distribuição é que a rede usada
para prestação do serviço é herdada da extinta LBA (Legião Brasileira de Assistência) e está até hoje
concentrada no Sudeste e no Sul.
Outro motivo é que não existem
conselhos de defesa dos direitos
da pessoa portadora de deficiência nos Estados das regiões mais
pobres. Dos 87 conselhos existentes no país (estaduais e municipais), 66 (75%) estão na região Sudeste. Na região Norte, não existe
nenhum em funcionamento.
Rondônia criou um oficialmente,
mas ainda não o instituiu de fato.
Para 2004, segundo o TCU, estão previstos R$ 70,5 milhões, menos que os R$ 76,2 milhões gastos
no ano passado. O governo pretende ampliar o atendimento de
160 mil para 166 mil pessoas.
De acordo com o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, houve dinheiro extra
para o programa em 2003, elevando o valor para R$ 84,5 milhões.
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