São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004 |
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CRIME ORGANIZADO Para o Departamento de Estado, apesar da legislação, Brasil mostra avanços em ações contra o narcotráfico EUA apontam falha no combate à lavagem
FERNANDO CANZIAN DE WASHINGTON O Departamento de Estado dos EUA disse ontem que a lavagem de dinheiro é "problema emergente" no Brasil e que o país tem "habilidade limitada" para apurar "crimes complexos", como os relacionados à área financeira. Segundo a versão 2003 do Relatório Internacional de Controle de Narcóticos norte-americano, o Brasil está entre "os países com maior volume de lavagem de dinheiro no mundo". Em relação às drogas, o Departamento de Estado estabelece relação entre traficantes brasileiros e a compra de armas da Colômbia e afirma haver uma tentativa de montagem de laboratórios ilegais no país frente à disponibilidade de produtos químicos usados no processo de refino da cocaína. De uma forma geral, no entanto, os EUA afirmam que a América Latina está passando por um "momento de mudança" e que poderá experimentar uma "queda continuada" na produção, consumo e tráfico de drogas entre os próximos 18 a 24 meses. Mesmo reconhecendo avanços na legislação e o "comprometimento das autoridades", o problema relacionado à lavagem de dinheiro no Brasil é uma das poucas considerações pessimistas do relatório deste ano em relação à região latino-americana. "O problema com a lavagem é que, quando se combate transferências bancárias, por exemplo, há uma migração para outras formas, como o uso de produtos de alto valor ou drogas", afirmou Robert B. Charles, secretário-assistente, chefe do escritório internacional de narcóticos e autoridade máxima dos EUA no assunto. No caso brasileiro, a lavagem de dinheiro está "primordialmente relacionada a drogas, corrupção e contrabando". O setor de compra e venda de automóveis de luxo no Brasil, visto como "não-regulamentado", é citado especificamente como exemplo de nova fonte para a lavagem de recursos originados em operações ilegais. Charles salienta que o problema é que grupos de terroristas acabam utilizando os mesmos mecanismos ilícitos de outras atividades para financiar suas ações. O relatório ressalta que o Brasil tem "uma habilidade limitada para aplicar técnicas avançadas de investigação" e critica o fato de o país não admitir em tribunais evidências eletrônicas, como gravações telefônicas, em processos contra criminosos. O documento também vê, no entanto, vários avanços na legislação brasileira, na disposição das autoridades de enfrentar os problemas e na ampliação de operações como Cobra, Anaconda e Gafanhoto -de combate ao tráfico de drogas e à corrupção. São listados, por exemplo, uma série de novas atividades e leis implementadas durante os quatro últimos anos, especialmente o trabalho relacionado ao Coaf (Conselho de Controle de atividades Financeiras). Mas o relatório deixa claro que o órgão tem hoje menos de 30 funcionários. No caso norte-americano, o documento afirma que a nova prioridade do país será o combate interno ao consumo de analgésicos, sedativos e estimulantes usados para fins não-medicinais. Vários sites de internet nos EUA mantém hoje uma verdadeira indústria que vende remédios sem receita médica a dependentes químicos e traficantes. Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Nos EUA: Brasileiro atropela homem em rodovia e arrasta vítima por 13 km Índice |
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