São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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BARBARA GANCIA

Lula e a lei do mínimo esforço

É mais fácil culpar a sociedade do que fazer autocrítica sobre as conseqüências do mensalão

O RIO DE JANEIRO nem bem se recuperou da barbárie cometida contra o menino arrastado até a morte e outro crime chocante, o assassinato de três franceses que trabalhavam em uma ONG, já tomou o lugar no noticiário.
São Paulo nem bem se recuperou da chacina do último fim de semana e já foi surpreendida por um assalto a banco seguido de tiroteio em uma das principais vias da capital.
Nem mesmo as autoridades têm sido poupadas da violência. Três ministros de Estado já estão na lista das vítimas: Márcio Thomaz Bastos teve o carro roubado, Luiz Gushiken, o sítio assaltado, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi refém de bandidos em um sítio de Ibiúna durante o Carnaval. Isso, sem contar o secretário municipal Andrea Matarazzo, que teve o Rolex surrupiado enquanto passeava pelos Jardins, e os seguranças dos filhos, respectivamente, do ex-governador Geraldo Alckmin e do presidente, um baleado e o outro morto.
Há coisa de três anos, meus pais foram acordados em casa com armas apontadas para a cabeça. Depois da invasão, veio a perícia. O pessoal entrou, espiou, pediu desculpas por não poder colher as digitais por falta de material e foi embora para nunca mais voltar. Até hoje o caso não foi solucionado.
Pois eu pergunto: o que se pode esperar de uma polícia que não tem meios para colher digitais?
Mas a violência não parece tirar o sono do presidente Lula. Em vez de dar uma resposta concreta à sociedade, ele prefere tergiversar e nos ofender com suas banalidades.
Diz ele que "pode botar dez vezes mais polícia na rua e o problema da violência não se resolverá, porque muitas vezes ela é uma questão de sobrevivência".
Cuma, senhor presidente? Prefiro não dignificar a segunda parte do seu comentário com uma resposta a fim de não ofender os neurônios do meu leitor. Fiquemos apenas com a parte sobre o aumento do contigente policial. Quem disse que a gente espera que a questão seja resolvida com mais polícia na rua? Bastaria que a que já está aí fosse informatizada, equipada e melhor remunerada.
Mas eu entendo, presidente. É muito mais conveniente culpar a sociedade do que fazer uma autocrítica sobre o sentimento de impunidade gerado pelo escândalo do mensalão. Muito mais fácil atrelar a violência ao fraco desempenho da economia em governos anteriores do que peitar a Igreja, que força mulheres pobres a conceber filhos indesejados, não é mesmo?

Viva o Dom Barreto!
Recebi cerca de mil e-mails de piauienses indignados com meu comentário contestando o resultado do Enem, que apontou o instituto Dom Barreto, de Teresina, como a melhor escola particular do país. Adoraria poder agradar aos piauienses e dizer que, em um teste para valer, de igual para igual, o Dom Barreto daria uma lavada em escolas como o Santo Américo, o Porto Seguro ou o Santa Cruz. Infelizmente, alguém tem de fazer o serviço sujo. Para quem duvida de que a prova do Enem deixa a desejar, basta ver que a segunda escola melhor avaliada depois do Dom Barreto é o Colégio Objetivo, de Tupã, uma cidade do interior de São Paulo com 70 mil habitantes.

barbara@uol.com.br


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