São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Guarda alega que atirou em legítima defesa, diz a polícia

Delegado não deu nome do guarda-civil, que afirmou que teve medo de ser morto

Sistema de alarme do banco e o circuito interno de TV foram desligados uma hora antes do assalto; polícia investiga participação de funcionários

ANDRÉ CARAMANTE
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O tiroteio no assalto ao banco Itaú, anteontem, em Moema (zona sul de SP), foi iniciado por um guarda-civil metropolitano que trabalhava ilegalmente como segurança de um bingo vizinho à agência.
O GCM tinha ido ao banco fazer um depósito no caixa eletrônico no momento em que cinco assaltantes invadiram a agência -outro ficou na área anexa de auto-atendimento e pelo menos outros dois estavam do lado de fora.
Após o disparo, os assaltantes, que levaram R$ 10 mil do local, revidaram e quatro pessoas que estavam na rua foram feridas -duas permanecem na UTI. Ao menos outros dois seguranças do bingo Circus Club também foram vistos por testemunhas fazendo disparos.
Em entrevista ontem, o delegado Ruy Ferraz Fontes, titular da Delegacia de Roubo a Banco, confirmou que o homem de terno e gravata, visto por testemunhas atirando contra os criminosos perto dos caixas eletrônicos da agência, é mesmo um guarda-civil.
Fontes, porém, recusou-se a fornecer o nome do guarda. Alegou que o GCM foi ouvido pela polícia na condição de testemunha e vítima e, por isso, tem direito ao sigilo.
O GCM, que desapareceu do local após o tiroteio, apresentou-se ontem à polícia.
Segundo o delegado, a versão que o GCM apresentou leva a polícia a crer que ele agiu em "legítima defesa". Alegou que um dos bandidos foi revistá-lo e, com medo de ser morto por estar armado, sacou o revólver e atirou dez vezes contra ele.
De acordo com a polícia, o guarda tem autorização para andar armado e sua pistola é legalizada. Mas ele não pode, pelas regras da GCM, trabalhar como segurança privado.
Segundo a polícia, o GCM negou trabalhar como segurança do bingo. A Folha, no entanto, apurou que ele assumiu, sim, que faz "bicos" no bingo, de propriedade de Adilson Monteiro Alves, ex-dirigente do Corinthians na década de 1980. Pelo serviço, ganha de R$ 60 a R$ 70 por 12 horas diárias.
Procurada pela reportagem, a assessoria do bingo divulgou nota em que não respondeu as questões feitas pela Folha.
Até ontem, a polícia só havia prendido um dos suspeitos de participar do assalto: Wellington Delan Ferreira Oliveira, 30, que já tinha registro na polícia por roubo. Ele foi indiciado por tentativa de latrocínio.
Segundo a polícia, Oliveira, que levou nove tiros do GCM, confessou o crime. Ele foi encontrado num hospital de Taboão da Serra.
A polícia suspeita que funcionários ou seguranças do banco tenham auxiliado os criminosos. Isso porque o sistema de alarme e o circuito interno de TV foram desligados uma hora antes do crime.
Além disso, os criminosos sabiam, por exemplo, o nome da gerente do banco. E foi com essa "senha" que um deles, que se passou por cliente, convenceu um dos dois seguranças de dentro da agência, que já havia fechado, a chamá-la.
Esse criminoso estava no setor de auto-atendimento, que não possui detector de metais.
Além das testemunhas, os seguranças do bingo serão ouvidos pela polícia e caso fique comprovado que estavam armados irá requerer seus revólveres para análise. O objetivo é verificar de onde saíram as balas que feriram as vítimas.


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