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Poluição de SP "viaja" mais de 600 km
Imagens de satélite mostram que ventos levam mancha de monóxido de carbono da Grande SP para interior e litoral
Em contato com luz e calor, monóxido de carbono se transforma em ozônio, considerado hoje o poluente que mais preocupa SP
Nelson Almeida/Folha Imagem
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Distrito de São Francisco Xavier, povoado turístico na serra da Mantiqueira, também não está livre de poluentes, segundo trabalho de pesquisadores do Inpe
DA REPORTAGEM LOCAL
A imagem de satélite com leitura infravermelho mostra
uma mancha escura de monóxido de carbono, poluente expelido por motores e caldeiras,
que parte de São Paulo e, dependendo da direção do vento,
avança cerca de 600 km -às vezes, até mais- rumo ao interior
do Estado. Quando o vento muda, a mancha cruza o litoral
paulista e invade o oceano.
É a prova tecnológica de que
poluentes da Grande SP afetam
regiões distantes, mesmo áreas
rurais, o que pode explicar parte da nota ruim dada pela Cetesb ao ar de cidades do interior. Além dos poluentes que
produzem, elas recebem a poluição exportada pela capital.
É um problema semelhante
ao que ocorre, por exemplo, na
Europa, onde um país exporta
poluição para o outro.
A imagem de satélite do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revela que a concentração de monóxido de carbono alcança até cinco vezes o
limite para o ar ser considerado
totalmente puro sobre cidades
como Panorama, município a
687 km de São Paulo.
As imagens podem ser vistas
na página www.inpe.br, do
instituto, que mantém um grupo de estudos sobre poluição.
Embora a concentração de
monóxido esteja abaixo do limite em que poderia afetar a
saúde das pessoas na maior
parte da região geográfica afetada, esse elemento, em contato com luz e calor, se transforma em ozônio -hoje considerado o poluente que mais preocupa São Paulo.
Em razão da presença de
ozônio acima dos limites, a Cetesb já considerou impróprio o
ar de municípios como São José dos Campos e Jaú -cidade
cercada por canaviais.
Como o monitoramente no
interior do Estado ainda é precário e existem evidências de
queda na qualidade do ar, a Cetesb planeja instalar ou aperfeiçoar neste ano estações fixas
em dez cidades: Araçatuba,
Araraquara, Bauru, Jaú, Jundiaí, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto
e São José do Rio Preto.
Em comum, a maior parte
dessas cidades tem a presença
de grandes canaviais no entorno, com exceção de Marília, a
cerca de 450 km de SP.
"O mais grave é que se trata
de uma poluição com origem
industrial e urbana, mas ainda
não sabemos como ela afeta essas cidades", diz o pesquisador
Saulo Freitas, do Inpe.
Esse monitoramento feito
pela Cetesb terá reforço do Inpe, que pretende começar a coletar até o final do ano dados
sobre a presença de ozônio no
ar de toda a América do Sul.
"Temos essa preocupação porque o ozônio é um dos poluentes mais tóxicos", diz.
Nem mesmo pequenas comunidades na bucólica serra
da Mantiqueira, que mantém a
fama de ter um dos ares mais
puros do mundo, estão livres
de poluentes, segundo trabalho
de pesquisadores do Inpe.
Plantas usadas para biomonitoramento de poluição apresentaram alterações esperadas
somente para centros urbanos
em teste realizado em São
Francisco Xavier, povoado turístico na Mantiqueira muito
procurado por paulistanos. A
planta, sensível à poluição, é
usada em experimentos semelhantes em todo o mundo.
Uma das possíveis causas para essa alteração, suspeitam
pesquisadores, é o transporte
de poluição produzida pelos
dois maiores centros urbanos
do país, as regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio.
"Sabemos que o Vale do Paraíba [que passa ao lado de São
Francisco] é um canal em que
circula o ar entre Rio e São
Paulo, é uma conexão", diz
Freitas.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e AFRA BALAZINA)
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