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Garotas viram "belas da tarde" para atrair engravatado na Sé
No centro de São Paulo, prostitutas preferem trabalhar de dia por causa da segurança
Advogados da região estão entre os principais clientes; jovens cobram de R$ 60 a
R$ 100 por programas com duração de 15 a 20 minutos
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto Renata acende um
cigarro, escorada na parede do
sebo Nova Floresta, na praça
João Mendes, centro de São
Paulo, o sino da catedral da Sé
badala três vezes. São 15h, carros buzinam e camelôs vendem
relógios no grito. Um deles olha
e comenta: "Aquela gostosa vai
cair na minha". E acena. "Se eu
te pego, eu te acabo", ela responde. Eles logo vão embora.
Talvez voltem amanhã mais
cedo e marquem com outra das
quatro garotas de pouca roupa
apoiadas no sebo da João Mendes -prostitutas que só trabalham durante o dia, onde enfrentam menos violência e concorrência. As "belas da tarde"
(referência à jovem que se
prostitui no filme "A Bela da
Tarde" ) cobram de R$ 60 a R$
100 por programas de 15 a 20
minutos em pequenos hotéis
do centro -segundo elas, sem
cafetão e problema com polícia.
"De dia é mais seguro. A gente ouve cada história de violência e meninas abusadas na madrugada que não dá para encarar", diz Renata, nome fictício,
23. Durante o dia, "é mais difícil
um babaca com masculinidade
ferida te agredir". São homens,
diz, que fazem cantadas, animam-se com a receptividade e
se irritam ao descobrir o metiê.
A PM, que sabe das prostitutas, diz que não há reclamações
contra sua presença, tampouco
registro expressivo de agressões contra elas. "Muitos nem
sabem que são o que são", diz
um tenente da PM.
Com calças brancas coladas
às coxas, Renata chama atenção pelo "psiu" que derrama sobre os transeuntes apressados.
Traz o sotaque de quem deixou Aracaju há três meses "para tentar a vida em São Paulo".
Lá era caixa de supermercado,
ganhava R$ 600 por mês. Hoje
trabalha das 10h às 21h e faz de
cinco a dez programas por dia.
Custam R$ 60 ou R$ 100 -é
mais caro para engravatados. O
melhor horário é o almoço e às
18h, com o fim do expediente.
Descontado o dinheiro do
hotel, Renata ganha de R$
3.000 a R$ 5.000 em um mês.
Pois nem sempre o cliente aceita o preço. Dinheiro que guarda
ansiosa para voltar a Sergipe.
O João Mendes que batiza o
lugar foi redator da lei do Ventre Livre. Sua praça abriga o fórum cível, os fundos do Tribunal de Justiça e fica perto da sede paulista da Ordem dos Advogados do Brasil. Não à toa,
homens de terno circulam por
aqui e um ou outro não resiste
em falar com as meninas.
"Você é advogado?", pergunta Kelly, 23, quando a reportagem se aproxima. Encostada no
ponto de ônibus em frente ao
sebo Messias, a loira de coxas
torneadas nem parece ter deixado dois filhos no Paraná para
ganhar dinheiro como prostituta em São Paulo.
"Tenho muito cliente advogado", diz. Às 16h30, um homem pára em sua frente. Conversam por dois minutos e
saem andando -ela na frente,
requebrando rápida sobre os
saltos; ele atrás, mantendo uma
distância de três metros. Às
16h38, sobem a escada do hotel
Atlantis, na rua da Liberdade,
ao lado da Defensoria Pública.
Hospedado em um prédio
neoclássico salmão, o hotel vive
um entra e sai de mulheres de
microssaia e homens de meia
idade. Os guardas da Defensoria sorriem. E às 17h02, Kelly e
o cliente saem do Atlantis. Ele
vai na frente e some na multidão. Ela caminha devagar até o
ponto na frente do sebo, após
24 minutos de programa.
Mais embaixo
Cinco dias depois e 3,5 km
mais embaixo, já perto da região da Luz, outras mulheres
oferecem o corpo de dia por
preços semelhantes. Na rua Vitória, na Luz, seis delas se espremem na porta do hotel Meni. Uma tem menos de 30, as outras, menos de 25. O programa custa R$ 70, dos quais R$ 20
pagam o quarto do hotel.
"Aqui começa às 10h sem falta", diz a recepcionista, uma negra bem maquiada e sem nome,
segundo ela, que se apressa em
atender um rapaz de uns 18
anos. "Quero a Simone", diz ele.
Ela grita e uma loira debruça-se
sobre o balcão e segura no ombro do rapaz. "Oi, amorzinho",
diz. Ele então tira R$ 20 do bolso e paga à recepcionista, que
lhe dá em troca um chaveiro
quadrado e vermelho com o número 15. São 16h12.
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