São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Falta de vaga para o carro faz motorista "madrugar" na Berrini

Trabalhadores da região chegam até duas horas e meia antes do horário de entrada para encontrar lugar para estacionar na rua

Falta de vaga para o carro faz motorista "madrugar" na Berrini

Além de escassas, vagas de estacionamento são caras (até R$ 350); região não tem metrô e conta com poucas linhas de ônibus

Fotos Fillipe Redondo/ Folha Imagem
Claudia Rocha Vieira lê um livro dentro do carro, às 6h, enquanto aguarda o início do expediente

MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

De segunda a sexta, o maître Antônio Gomes Paiva, 51, termina suas noites de sono dentro do carro, estacionado nas proximidades da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, zona oeste de São Paulo.
Ele só precisa estar no edifício onde trabalha às 7h30, mas estaciona diariamente antes das 6h. "Se não for assim, eu perco a vaga", explica.
Assim como Paiva, dezenas de motoristas que trabalham na região trocam o quentinho da cama por uma vaga gratuita para o carro. Às 7h, já não há mais onde parar no meio-fio das ruas entre a Berrini e a marginal Pinheiros. Às 9h30, muitos estacionamentos, que não são nada baratos, estão lotados.
Às 10h30, só sobram vagas a mais de quatro quarteirões da avenida e do lado oposto ao da marginal -onde, segundo frequentadores, é comum o furto de veículos. "É fácil ver gente dormindo aqui", afirma o produtor Mário Marcos, 62. "O luxo é uma falsa imagem que a avenida Berrini passa", afirma.
Sobram poucas opções para quem não vai de carro. Há apenas uma linha de trem, que não faz conexão com o metrô, e 20 linhas de ônibus, menos da metade das 48 que passam pela avenida Paulista, por exemplo (e que ainda tem metrô).
O técnico de computador Vitor Hirata, 24, já leva até casaco para pendurar no parabrisa e se proteger do sol enquanto cochila no banco reclinado. "Fico ouvindo rádio. Às vezes vou à padaria", conta.

Segurança
O analista de importação Michel Costamanho, que às 6h30 já está guardando lugar para o carro e só vai trabalhar às 8h, afirma que fica dentro do veículo para não ter de começar a trabalhar antes da hora. "Trago jornal, durmo. Não tenho medo [de assalto]", diz.
Mas há quem tenha. A analista financeira Paula Juscelina, 30, estaciona às 6h30 para trabalhar às 9h, mas prefere sair para tomar um café ou começar a trabalhar antes da hora. "Já assaltaram dois, um de manhã e um à tarde. Não fico no carro de jeito nenhum."
O lado mais perigoso da Berrini, segundo quem trabalha por ali, é o que fica do lado oposto à marginal Pinheiros, principalmente nos arredores da rua Alessandro Volta, onde é comum o furto de veículos especialmente no final do dia.
Os dorminhocos se concentram nas ruas mais próximas à marginal, mais monitoradas pelos seguranças que trabalham nos prédios dali.
O produtor Mário Marcos, há quatro meses trabalhando no local, diz não ter condições para pagar o preço cobrado pelos estacionamentos.
Onde trabalhava antes, perto da ponte do Morumbi, a alguns quarteirões dali, ele gastava R$ 80 mensais -na Berrini, Marcos declara não ter achado vaga por menos de R$ 200 por mês.
O estacionamento onde o manobrista Fernando Nunes, 43, trabalha inaugurou neste mês e já está lotado. "Em três dias, vendi 150 vagas mensais", diz, acrescentando que a capacidade é para 120 vagas, mas que "nem todo mundo vem todos os dias". A mensalidade, de R$ 200, foi uma das mais baixas encontradas pela reportagem -os valores chegam a R$ 350.
"É grana", reclama a gerente de investimento Carolina Freire, 24, que há três meses conseguiu uma vaga gratuita na empresa onde trabalha. Ela calcula ter gasto até então cerca de R$ 11 mil em estacionamento nos cinco anos em que teve de pagar. "E a cada três meses aumentava", afirma.
Os estacionamentos da região restringem o número de usuários mensais porque, segundo os seus administradores, é menos lucrativo cobrar por mês do que por hora. A Folha não achou quem fizesse um preço fechado para um dia de carro estacionado; em média, a primeira hora custa R$ 8, e as demais, R$ 3 cada uma.
O maître Paiva, que trabalha no restaurante do Plaza Centenário, prédio apelidado de "Robocop" e ícone da região, afirma ter esperado seis meses para se tornar usuário mensal de um estacionamento. Mas não conseguiu vaga. "Desisti. Prefiro dormir no carro."


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