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Falta de vaga para o carro faz motorista "madrugar" na Berrini
Trabalhadores da região chegam até duas horas e meia antes do horário de entrada para encontrar lugar para estacionar na rua
Falta de vaga para o carro faz motorista "madrugar" na Berrini
Além de escassas, vagas de estacionamento são caras (até R$ 350); região não tem metrô e conta com poucas linhas de ônibus
Fotos Fillipe Redondo/ Folha Imagem
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Claudia Rocha Vieira lê um livro dentro do carro, às 6h, enquanto aguarda o início do expediente
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
De segunda a sexta, o maître
Antônio Gomes Paiva, 51, termina suas noites de sono dentro do carro, estacionado nas
proximidades da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, zona oeste de São Paulo.
Ele só precisa estar no edifício onde trabalha às 7h30, mas
estaciona diariamente antes
das 6h. "Se não for assim, eu
perco a vaga", explica.
Assim como Paiva, dezenas
de motoristas que trabalham
na região trocam o quentinho
da cama por uma vaga gratuita
para o carro. Às 7h, já não há
mais onde parar no meio-fio
das ruas entre a Berrini e a marginal Pinheiros. Às 9h30, muitos estacionamentos, que não
são nada baratos, estão lotados.
Às 10h30, só sobram vagas a
mais de quatro quarteirões da
avenida e do lado oposto ao da
marginal -onde, segundo frequentadores, é comum o furto
de veículos. "É fácil ver gente
dormindo aqui", afirma o produtor Mário Marcos, 62. "O luxo é uma falsa imagem que a
avenida Berrini passa", afirma.
Sobram poucas opções para
quem não vai de carro. Há apenas uma linha de trem, que não
faz conexão com o metrô, e 20
linhas de ônibus, menos da metade das 48 que passam pela
avenida Paulista, por exemplo
(e que ainda tem metrô).
O técnico de computador Vitor Hirata, 24, já leva até casaco
para pendurar no parabrisa e se
proteger do sol enquanto cochila no banco reclinado. "Fico
ouvindo rádio. Às vezes vou à
padaria", conta.
Segurança
O analista de importação Michel Costamanho, que às 6h30
já está guardando lugar para o
carro e só vai trabalhar às 8h,
afirma que fica dentro do veículo para não ter de começar a
trabalhar antes da hora. "Trago
jornal, durmo. Não tenho medo
[de assalto]", diz.
Mas há quem tenha. A analista financeira Paula Juscelina,
30, estaciona às 6h30 para trabalhar às 9h, mas prefere sair
para tomar um café ou começar
a trabalhar antes da hora. "Já
assaltaram dois, um de manhã
e um à tarde. Não fico no carro
de jeito nenhum."
O lado mais perigoso da Berrini, segundo quem trabalha
por ali, é o que fica do lado
oposto à marginal Pinheiros,
principalmente nos arredores
da rua Alessandro Volta, onde é
comum o furto de veículos especialmente no final do dia.
Os dorminhocos se concentram nas ruas mais próximas à
marginal, mais monitoradas
pelos seguranças que trabalham nos prédios dali.
O produtor Mário Marcos, há
quatro meses trabalhando no
local, diz não ter condições para pagar o preço cobrado pelos
estacionamentos.
Onde trabalhava antes, perto
da ponte do Morumbi, a alguns
quarteirões dali, ele gastava R$
80 mensais -na Berrini, Marcos declara não ter achado vaga
por menos de R$ 200 por mês.
O estacionamento onde o
manobrista Fernando Nunes,
43, trabalha inaugurou neste
mês e já está lotado. "Em três
dias, vendi 150 vagas mensais",
diz, acrescentando que a capacidade é para 120 vagas, mas
que "nem todo mundo vem todos os dias". A mensalidade, de
R$ 200, foi uma das mais baixas
encontradas pela reportagem
-os valores chegam a R$ 350.
"É grana", reclama a gerente
de investimento Carolina Freire, 24, que há três meses conseguiu uma vaga gratuita na empresa onde trabalha. Ela calcula
ter gasto até então cerca de R$
11 mil em estacionamento nos
cinco anos em que teve de pagar. "E a cada três meses aumentava", afirma.
Os estacionamentos da região restringem o número de
usuários mensais porque, segundo os seus administradores,
é menos lucrativo cobrar por
mês do que por hora. A Folha
não achou quem fizesse um
preço fechado para um dia de
carro estacionado; em média, a
primeira hora custa R$ 8, e as
demais, R$ 3 cada uma.
O maître Paiva, que trabalha
no restaurante do Plaza Centenário, prédio apelidado de "Robocop" e ícone da região, afirma ter esperado seis meses para se tornar usuário mensal de
um estacionamento. Mas não
conseguiu vaga. "Desisti. Prefiro dormir no carro."
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