São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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USP retira aval para PM entrar no campus

Regra permitia aos policiais desocupar áreas tomadas em protestos; medida integra pacote para "pacificar" a instituição

Revogação é importante para nova "era do diálogo", afirma reitor; funcionários acham concessões insuficientes e vão intensificar as reivindicações

Almeida Rocha - 9.jun.2009/Folha Imagem
Policiais caminham em direção a manifestantes na USP, em junho do ano passado, em protesto contra a presença da PM no campus

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

O novo reitor da USP, João Grandino Rodas, decidiu revogar uma decisão que dava aval à entrada da Polícia Militar no campus, para desocupar áreas tomadas em protestos. A medida faz parte de pacote que visa "pacificar" a instituição e inclui benefícios aos professores.
Em junho de 2009, apoiada pela resolução, a então reitora, Suely Vilela, pediu a reintegração de posse de prédios que estavam ocupados por manifestantes. A PM entrou no campus e houve confronto -cinco alunos e cinco policiais se feriram.
Grandino, autor da norma, aprovada em 2008 pelo Conselho Universitário, propôs a revogação da medida na terça-feira passada, em sua primeira reunião à frente do órgão máximo da USP. A decisão foi confirmada pelo conselho.
"Achei que a revogação seria importante para a era do diálogo que parece ter se iniciado na universidade", disse o reitor à Folha. A resolução dava apoio político interno para o pedido de desocupação do campus -a legislação já obriga o gestor a zelar pelo patrimônio público.
A resolução foi proposta num momento em que a então reitora passava por desgaste, após o prédio da reitoria ter ficado invadido por 50 dias em 2007.
Durante a sua campanha, Grandino afirmava pretender acalmar os ânimos na USP.

Pacote de bondades
Além de derrubar a norma, o reitor concederá aos docentes auxílio-alimentação (de R$ 300 a R$ 400) e auxílio-creche (de R$ 211 a R$ 422). Os benefícios, vistos na universidade como parte do esforço de "pacificação", eram restritos a servidores técnico-administrativos.
O Sintusp (sindicato dos funcionários) afirma que as concessões feitas são insuficientes e promete aumentar as reivindicações, por entender que Grandino evitará a qualquer custo novos confrontos.
"O novo reitor fará de tudo para evitar problemas neste ano eleitoral. Ele é o homem do Serra", diz o diretor do sindicato Magno de Carvalho, referindo-se ao governador, cotado à Presidência pelo PSDB.
Grandino ficou em segundo lugar na eleição interna da universidade, mas foi o escolhido por José Serra para assumir a reitoria -a universidade é mantida pelo Estado. "Estamos nos preparando para arrancar tudo o que pudermos dele. Este é o ano", diz Carvalho.
Algumas das reivindicações do sindicato são reajuste salarial de 16% -a data-base é em maio- e recuo de punições a diretores da entidade.
"No começo da gestão da Suely, também houve sinais de diálogo, e isso se perdeu rapidamente. Veremos agora", disse o presidente da Adusp (sindicato dos professores), João Zanetic.
Para Sylvio Sawaya, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, o reitor tem mostrado "bom jogo de cintura". Sawaya concorreu à reitoria.


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