São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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Meditação do Tibete é estudada pela ciência

DA REPORTAGEM LOCAL

Em novembro do ano passado, em Washington, o Dalai Lama abriu o mais prestigioso congresso de neurocientistas do mundo, o Neuroscience. Diante de 14 mil pesquisadores do cérebro, muitos adoradores do deus químico Prozac -o medicamento símbolo dos tratamentos antidepressivos-, ele discorreu sobre as práticas de meditação tibetana e suas virtudes terapêuticas.
Foi a senha para que, também no Brasil, acontecesse o encontro improvável da religião com a ciência. No dia 28 de abril, uma sexta-feira, a Universidade Federal de São Paulo co-realizará o seminário "Compaixão e Sabedoria - A Construção da Saúde Pessoal e Coletiva".
Oito pesquisadores e professores da universidade serão os interlocutores do Dalai Lama em outras duas sessões: "Mente e Coração Abertos" e "Ciência e Espiritualidade".

Polêmica
Nos Estados Unidos, o convite ao Dalai Lama para abrir o congresso científico rendeu polêmica. Pesquisadores (a maioria de origem chinesa) chegaram a cancelar sua participação no evento, alegando a impropriedade de misturar ciência e fé.
Criticaram o diálogo fraterno com o budismo, comparando-o à execração dos meios científicos com as teorias criacionistas, que possuem inspiração evangélica. Por que então dois pesos e duas medidas?
Assim o próprio Dalai Lama respondeu, durante a sua fala no Neuroscience: "Ao nível filosófico, tanto o budismo quanto a ciência moderna questionam qualquer noção de absoluto. Tanto o budismo quanto a ciência preferem explicar a evolução e a emergência do cosmos e da vida em termos de uma complexa inter-relação das leis naturais de causa e efeito".
Segundo a pesquisadora Elisa Kozasa, 37, do Departamento de Psicobiologia da Unifesp, a atual é a segunda onda de simpatia dos cientistas com a técnica oriental da meditação.
"A primeira veio nos anos 70, no rastro da contracultura, quando a medicina tibetana era chamada de alternativa."

Integração
Segundo o professor José Roberto Leite, também da Unifesp e praticante da meditação, a técnica conseguiu se incorporar ao arsenal terapêutico disponível para o tratamento de problemas como hipertensão, depressão ou pânico. "Está provado que funciona. Em vez de "alternativa", fala-se, agora, em "medicina integrativa" ou complementar."
É uma grande diferença. Antes, havia uma guerra de princípios opondo os alternativos e a academia. Hoje, é possível acender um incenso ao deus Prozac enquanto se medita em busca do equilíbrio perdido. Ah, também cabe uma terapia para quem quiser.
(LAURA CAPRIGLIONE)


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