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Meditação do Tibete
é estudada pela ciência
DA REPORTAGEM LOCAL
Em novembro do ano passado,
em Washington, o Dalai Lama
abriu o mais prestigioso congresso de neurocientistas do mundo,
o Neuroscience. Diante de 14 mil
pesquisadores do cérebro, muitos
adoradores do deus químico Prozac -o medicamento símbolo
dos tratamentos antidepressivos-, ele discorreu sobre as práticas de meditação tibetana e suas
virtudes terapêuticas.
Foi a senha para que, também
no Brasil, acontecesse o encontro
improvável da religião com a
ciência. No dia 28 de abril, uma
sexta-feira, a Universidade Federal de São Paulo co-realizará o seminário "Compaixão e Sabedoria
- A Construção da Saúde Pessoal e Coletiva".
Oito pesquisadores e professores da universidade serão os interlocutores do Dalai Lama em outras duas sessões: "Mente e Coração Abertos" e "Ciência e Espiritualidade".
Polêmica
Nos Estados Unidos, o convite
ao Dalai Lama para abrir o congresso científico rendeu polêmica. Pesquisadores (a maioria de
origem chinesa) chegaram a cancelar sua participação no evento,
alegando a impropriedade de
misturar ciência e fé.
Criticaram o diálogo fraterno
com o budismo, comparando-o à
execração dos meios científicos
com as teorias criacionistas, que
possuem inspiração evangélica.
Por que então dois pesos e duas
medidas?
Assim o próprio Dalai Lama
respondeu, durante a sua fala no
Neuroscience: "Ao nível filosófico, tanto o budismo quanto a
ciência moderna questionam
qualquer noção de absoluto. Tanto o budismo quanto a ciência
preferem explicar a evolução e a
emergência do cosmos e da vida
em termos de uma complexa inter-relação das leis naturais de
causa e efeito".
Segundo a pesquisadora Elisa
Kozasa, 37, do Departamento de
Psicobiologia da Unifesp, a atual é
a segunda onda de simpatia dos
cientistas com a técnica oriental
da meditação.
"A primeira veio nos anos 70,
no rastro da contracultura, quando a medicina tibetana era chamada de alternativa."
Integração
Segundo o professor José Roberto Leite, também da Unifesp e
praticante da meditação, a técnica
conseguiu se incorporar ao arsenal terapêutico disponível para o
tratamento de problemas como
hipertensão, depressão ou pânico. "Está provado que funciona.
Em vez de "alternativa", fala-se,
agora, em "medicina integrativa"
ou complementar."
É uma grande diferença. Antes,
havia uma guerra de princípios
opondo os alternativos e a academia. Hoje, é possível acender um
incenso ao deus Prozac enquanto
se medita em busca do equilíbrio
perdido. Ah, também cabe uma
terapia para quem quiser.
(LAURA CAPRIGLIONE)
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