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Kassab evita polêmicas e quer ajudar a eleger Serra
Novo prefeito de São Paulo afirma que sua marca na administração será continuar a gestão anterior
FABIO SCHIVARTCHE
CONRADO CORSALETTE
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo prefeito de São Paulo,
Gilberto Kassab, 45, assume com
um compromisso: o de ser invisível. Quer tornar-se transparente
como forma de ajudar nos planos
tucanos de emplacar José Serra no
governo do Estado de São Paulo.
Todas as suas promessas atuais
resumem-se a uma só: dar continuidade à gestão Serra. À pergunta sobre que marca pessoal pretende imprimir na administração,
Kassab responde com um paradoxo: "Continuar a gestão do prefeito José Serra".
Durante toda a entrevista, concedida no restaurante de um hotel
em Pinheiros, o prefeito Kassab
enrolou envelopinhos de adoçante enquanto se referia ao ex-prefeito Serra como "prefeito". Até
parecia que o tucano continua à
frente da administração da cidade, cumprindo o compromisso de
não abandonar o barco antes do
fim de seu mandato.
Corolário desse comportamento, Kassab comprometeu-se a subir no palanque do tucano
-"nos momentos em que a ética
e a administração permitirem".
"No governo do Estado, o prefeito
José Serra continuará cuidando
da cidade", disse.
Kassab não quer envolver-se em
brigas ou polêmicas. Diante da
pergunta sobre qual sua prioridade na saúde, a construção de novas unidades de Atendimento
Médico Ambulatorial ou a contratação de mais equipes para o
Programa de Saúde da Família,
respondeu: "As duas".
O que faria com o Minhocão,
que o ex-prefeito já disse querer
implodir? "Depende do orçamento". É contra ou a favor a cobrança
de pedágio nas marginais? "Contra. Mas, dependendo dos benefícios à cidade, a favor." Qual o prazo para a desapropriação da Cracolândia? "Na administração pública, não se fala em prazos. Você
só pode definir expectativas."
O prefeito, secretário-nacional
do PFL, se define como "de centro", opõe-se à descriminalização
da maconha e à ampliação dos casos em que o aborto é permitido e
diz que continuará apoiando a
Parada Gay, que acontecerá em 17
de junho. Sobre a parceria civil de
homossexuais, disse ser "favorável aos respeitos individuais".
Leia a seguir os principais trechos
da entrevista.
Folha - O que o paulistano pode
esperar de seu governo?
Gilberto Kassab - Eu tenho a felicidade e a vantagem de estar assumindo a cidade de São Paulo numa circunstância muito favorável, a de dar seqüência a um plano
de governo já estabelecido pelo
prefeito José Serra. Ele teve muitas dificuldades no campo administrativo, herdadas da administração anterior. Mas com rapidez
conseguiu fazer um programa de
investimentos com definições
muito claras. O meu objetivo é
fortalecer a cidade, o que significa
ter a oportunidade de continuar a
importante parceria do Estado
com a prefeitura. Tendo Serra como governador de São Paulo, a
prefeitura ganhará muito.
Folha - Com esse discurso o senhor pensa que será um bom cabo
eleitoral para José Serra?
Kassab - Não é apenas um discurso. É a realidade. Eu acho, sim,
que ajudo o prefeito José Serra
mostrando que compreendo que
é correta a sua decisão e que vou
fazer a minha parte.
Folha - Serra se comprometeu por
escrito a ficar na prefeitura por todo o mandato e na sexta-feira quebrou sua palavra. Como é começar
no cargo com a quebra de uma promessa, num momento em que o
país discute a ética na política?
Kassab - Serra tem um compromisso de não abandonar a cidade
de São Paulo e eu enfoco assim esse compromisso dele: ele não está
abandonando a cidade, ele está
rumando o caminho de estar
mais presente em São Paulo.
Folha - Mais presente?
Kassab - Sim. Como governador, ele estará muito presente na
cidade. Continuará a importante
parceria governo-prefeitura.
Folha - E se ele perder a eleição?
Kassab - Eu tenho certeza de que
ele vai ganhar.
Folha - O que o senhor vai fazer
para que isso aconteça?
Kassab - Eu vou me esforçar para ser um bom prefeito, para estar
à altura do cargo.
Folha - O senhor vai subir no palanque de José Serra durante a
campanha eleitoral?
Kassab - O cargo de prefeito de
São Paulo tem muitas preocupações e responsabilidades administrativas. De maneira que terei
pouco tempo para palanque. Em
alguns momentos em que a ética e
a administração
permitirem, evidente [que subirei
no palanque].
Folha - José Serra
poderá participar de
inaugurações de
obras da prefeitura
com o senhor?
Kassab - Tenho
certeza de que o
prefeito Serra pautará seu relacionamento com a prefeitura dentro da legalidade e da ética.
Folha - O senhor
fala sempre em continuidade. Não é
pouco para o prefeito da maior cidade
do país?
Kassab - Tudo é
dinâmico. O desafio é manter a
administração com muita austeridade, dar seqüência aos investimentos necessários para equacionar os graves problemas sociais e
de infra-estrutura da cidade. O
prefeito José Serra já enfrentou
muito bem esse desafio. Espero
poder enfrentar também.
Folha - A ênfase no discurso da
continuidade decorre de o senhor temer
questionamentos
quanto à legitimidade de sua gestão?
Kassab - Não. Na
circunstância em
que assumo, seria
estranho eu me
afastar do prefeito
José Serra. Até porque os paulistanos
querem essa proximidade. Então, eu
também quero. Todos sabem que governar o Estado de
São Paulo significa
ter muita relação
com a cidade. Há as
parcerias do metrô
e da saúde, por
exemplo.
Folha - Serra priorizou a construção de unidades de Atendimento
Médico Ambulatorial, as Amas, em
detrimento do PSF (Programa de
Saúde da Família). E no entanto ele
prometeu duplicar as equipes de
saúde da família. Qual a sua maneira de encarar essas prioridades?
Kassab - Essa é uma pergunta
muito importante. Ficou muito
claro que sem a participação do
governo do Estado não teríamos a
menor condição de equacionar a
saúde na cidade. O problema do
PSF é de verba, assim como as
AMAs. Eu conversei na sexta com
o governador Cláudio Lembo e
saúde foi o primeiro tema que nós
tratamos. A idéia é chegar a 50
AMAs até o final do ano e evidentemente estender o PSF.
Folha - Mas o dinheiro é limitado.
Neste ano, o senhor dará prioridade às AMAs ou ao PSF?
Kassab -A prioridade é o PSF e as
AMAs. As duas.
Folha - O que o senhor pretende
fazer em relação às reivindicações
de reajuste salarial dos professores
da rede municipal, que na sexta-feira organizaram protesto na
frente da prefeitura?
Kassab -Nos próximos dias
equacionaremos a questão. Nossa
proposta é, na questão salarial,
manter o que já foi apresentado e
propor um planejamento para
contemplar ao longo do tempo as
reivindicações da categoria. Mas,
evidentemente, há limitações de
Orçamento.
Folha - A construção de uma rampa no viaduto sob a avenida Paulista causou polêmica em 2005. O senhor é favorável a essa medida,
que ficou conhecida como a "rampa antimendigo"?
Kassab - Não é uma "rampa antimendigo". É uma rampa a favor
da segurança de São Paulo.
Folha - Essa ação será mantida?
Kassab - Para ser sincero, não tenho esse mapa. Mas, em lugares
em que existe problema de segurança, a prefeitura deve atuar sim.
Folha - E quando será feita a desapropriação da Cracolândia?
Kassab - Essa é uma das grandes
marcas do prefeito José Serra. Está avançando.
Folha - Qual o prazo?
Kassab - Não gosto de falar em
prazos. Na administração pública, não se fala em prazos. Você só
pode definir expectativas. Nas minhas expectativas, deve ser breve.
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