São Paulo, domingo, 02 de abril de 2006

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Kassab evita polêmicas e quer ajudar a eleger Serra

Novo prefeito de São Paulo afirma que sua marca na administração será continuar a gestão anterior

FABIO SCHIVARTCHE
CONRADO CORSALETTE
LAURA CAPRIGLIONE

DA REPORTAGEM LOCAL

O novo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, 45, assume com um compromisso: o de ser invisível. Quer tornar-se transparente como forma de ajudar nos planos tucanos de emplacar José Serra no governo do Estado de São Paulo.
Todas as suas promessas atuais resumem-se a uma só: dar continuidade à gestão Serra. À pergunta sobre que marca pessoal pretende imprimir na administração, Kassab responde com um paradoxo: "Continuar a gestão do prefeito José Serra".
Durante toda a entrevista, concedida no restaurante de um hotel em Pinheiros, o prefeito Kassab enrolou envelopinhos de adoçante enquanto se referia ao ex-prefeito Serra como "prefeito". Até parecia que o tucano continua à frente da administração da cidade, cumprindo o compromisso de não abandonar o barco antes do fim de seu mandato.
Corolário desse comportamento, Kassab comprometeu-se a subir no palanque do tucano -"nos momentos em que a ética e a administração permitirem". "No governo do Estado, o prefeito José Serra continuará cuidando da cidade", disse.
Kassab não quer envolver-se em brigas ou polêmicas. Diante da pergunta sobre qual sua prioridade na saúde, a construção de novas unidades de Atendimento Médico Ambulatorial ou a contratação de mais equipes para o Programa de Saúde da Família, respondeu: "As duas".
O que faria com o Minhocão, que o ex-prefeito já disse querer implodir? "Depende do orçamento". É contra ou a favor a cobrança de pedágio nas marginais? "Contra. Mas, dependendo dos benefícios à cidade, a favor." Qual o prazo para a desapropriação da Cracolândia? "Na administração pública, não se fala em prazos. Você só pode definir expectativas."
O prefeito, secretário-nacional do PFL, se define como "de centro", opõe-se à descriminalização da maconha e à ampliação dos casos em que o aborto é permitido e diz que continuará apoiando a Parada Gay, que acontecerá em 17 de junho. Sobre a parceria civil de homossexuais, disse ser "favorável aos respeitos individuais". Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O que o paulistano pode esperar de seu governo?
Gilberto Kassab -
Eu tenho a felicidade e a vantagem de estar assumindo a cidade de São Paulo numa circunstância muito favorável, a de dar seqüência a um plano de governo já estabelecido pelo prefeito José Serra. Ele teve muitas dificuldades no campo administrativo, herdadas da administração anterior. Mas com rapidez conseguiu fazer um programa de investimentos com definições muito claras. O meu objetivo é fortalecer a cidade, o que significa ter a oportunidade de continuar a importante parceria do Estado com a prefeitura. Tendo Serra como governador de São Paulo, a prefeitura ganhará muito.

Folha - Com esse discurso o senhor pensa que será um bom cabo eleitoral para José Serra?
Kassab -
Não é apenas um discurso. É a realidade. Eu acho, sim, que ajudo o prefeito José Serra mostrando que compreendo que é correta a sua decisão e que vou fazer a minha parte.

Folha - Serra se comprometeu por escrito a ficar na prefeitura por todo o mandato e na sexta-feira quebrou sua palavra. Como é começar no cargo com a quebra de uma promessa, num momento em que o país discute a ética na política?
Kassab -
Serra tem um compromisso de não abandonar a cidade de São Paulo e eu enfoco assim esse compromisso dele: ele não está abandonando a cidade, ele está rumando o caminho de estar mais presente em São Paulo.

Folha - Mais presente?
Kassab -
Sim. Como governador, ele estará muito presente na cidade. Continuará a importante parceria governo-prefeitura.

Folha - E se ele perder a eleição?
Kassab -
Eu tenho certeza de que ele vai ganhar.

Folha - O que o senhor vai fazer para que isso aconteça?
Kassab -
Eu vou me esforçar para ser um bom prefeito, para estar à altura do cargo.

Folha - O senhor vai subir no palanque de José Serra durante a campanha eleitoral?
Kassab -
O cargo de prefeito de São Paulo tem muitas preocupações e responsabilidades administrativas. De maneira que terei pouco tempo para palanque. Em alguns momentos em que a ética e a administração permitirem, evidente [que subirei no palanque].

Folha - José Serra poderá participar de inaugurações de obras da prefeitura com o senhor?
Kassab -
Tenho certeza de que o prefeito Serra pautará seu relacionamento com a prefeitura dentro da legalidade e da ética.

Folha - O senhor fala sempre em continuidade. Não é pouco para o prefeito da maior cidade do país?
Kassab -
Tudo é dinâmico. O desafio é manter a administração com muita austeridade, dar seqüência aos investimentos necessários para equacionar os graves problemas sociais e de infra-estrutura da cidade. O prefeito José Serra já enfrentou muito bem esse desafio. Espero poder enfrentar também.

Folha - A ênfase no discurso da continuidade decorre de o senhor temer questionamentos quanto à legitimidade de sua gestão?
Kassab
- Não. Na circunstância em que assumo, seria estranho eu me afastar do prefeito José Serra. Até porque os paulistanos querem essa proximidade. Então, eu também quero. Todos sabem que governar o Estado de São Paulo significa ter muita relação com a cidade. Há as parcerias do metrô e da saúde, por exemplo.

Folha - Serra priorizou a construção de unidades de Atendimento Médico Ambulatorial, as Amas, em detrimento do PSF (Programa de Saúde da Família). E no entanto ele prometeu duplicar as equipes de saúde da família. Qual a sua maneira de encarar essas prioridades?
Kassab -
Essa é uma pergunta muito importante. Ficou muito claro que sem a participação do governo do Estado não teríamos a menor condição de equacionar a saúde na cidade. O problema do PSF é de verba, assim como as AMAs. Eu conversei na sexta com o governador Cláudio Lembo e saúde foi o primeiro tema que nós tratamos. A idéia é chegar a 50 AMAs até o final do ano e evidentemente estender o PSF.

Folha - Mas o dinheiro é limitado. Neste ano, o senhor dará prioridade às AMAs ou ao PSF?
Kassab -
A prioridade é o PSF e as AMAs. As duas.

Folha - O que o senhor pretende fazer em relação às reivindicações de reajuste salarial dos professores da rede municipal, que na sexta-feira organizaram protesto na frente da prefeitura?
Kassab -
Nos próximos dias equacionaremos a questão. Nossa proposta é, na questão salarial, manter o que já foi apresentado e propor um planejamento para contemplar ao longo do tempo as reivindicações da categoria. Mas, evidentemente, há limitações de Orçamento.

Folha - A construção de uma rampa no viaduto sob a avenida Paulista causou polêmica em 2005. O senhor é favorável a essa medida, que ficou conhecida como a "rampa antimendigo"?
Kassab -
Não é uma "rampa antimendigo". É uma rampa a favor da segurança de São Paulo.

Folha - Essa ação será mantida?
Kassab -
Para ser sincero, não tenho esse mapa. Mas, em lugares em que existe problema de segurança, a prefeitura deve atuar sim.

Folha - E quando será feita a desapropriação da Cracolândia?
Kassab -
Essa é uma das grandes marcas do prefeito José Serra. Está avançando.

Folha - Qual o prazo?
Kassab -
Não gosto de falar em prazos. Na administração pública, não se fala em prazos. Você só pode definir expectativas. Nas minhas expectativas, deve ser breve.


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